«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

O entretenimento e o compromisso com a vitória não são conceitos contraditórios.

Jorge Jesus, o famoso autor da eternizada expressão «nota artística», deixou há algum tempo de concordar com esta minha ideia. Provavelmente sou eu a estar errado.

O treinador do Sporting, por opção ideológica ou misteriosa necessidade, entregou-se fervorosamente à postura italiana, seja lá isso o que for.

Na sua mente, naturalmente à frente de todas as outras, o Sporting terá passado a ser uma equipa cínica, calculista, implacável com os oponentes. De organização metodista e convicção inabalável.

Eu, na minha ingénua condição de observador, anoto no meu bloco algo completamente diferente, como diriam os meus queridos Monty Python.

Ora vamos lá: grave quebra de qualidade, sintomatologia a indiciar sofrimento desmedido, incapacidade ofensiva penosa sempre que Bas Dost não joga.  

Basta socorrer-me do calendário de jogos e assinalar com uma cruz vermelha a derrota no Estoril e as vitórias desesperadas em Tondela e em Alvalade contra o Moreirense.

Os sportinguistas tiveram de suportar exibições paupérrimas, desorganizadas, carregadas de erros coletivos e individuais. Mas Jorge Jesus viu o que mais de nenhum de nós viu e agarrou-se aos argumentos costumeiros. Uma cantilena bocejante, de tão repetitiva.

Há jogos a mais e o cansaço provoca isto; há limitações físicas, lesionados a mais, e nenhuma equipa resiste a isso.

Errado, caro Jesus. O plantel do Sporting está ao nível do dos rivais, provavelmente até acima, cheio de boas opções para todas as posições e obrigado a reagir de forma radicalmente oposta às provações naturais de uma temporada profissional.

Em janeiro, talvez já se tenham esquecido, Jesus recebeu mais cinco prendas do seu emérito presidente: Lumor, Misic, Wendel, Rúben Ribeiro e Montero.

O primeiro foi logo desvalorizado pelas palavras inacreditáveis do treinador: «Capacidade financeira para ir buscar daqueles mais ou menos não há…» 2,5 milhões de euros investidos (ou gastos?) num atleta e o treinador mata-o à nascença com uma frase destas? 

Os médios ainda não jogaram e provavelmente não sabem com que treinador estão a lidar. E o que dizer da gestão feita com Rúben Ribeiro? Um génio, um artista comprometido com a equipa, remetido estranhamente para o banco de suplentes nas últimas semanas.

Montero? Ainda não abandonou o ritmo da MLS. Tem sido uma nulidade.

Onde começa e onde acaba a responsabilidade de Jesus? Um treinador, um grande treinador como é Jesus, não deve mostrar essa sua superioridade – espalmada num ordenado superior a todos os colegas da Liga – nos momentos de dificuldade, nos momentos em que lhe faltam peças essenciais?  

Nesta altura, por muito que o inimputável discurso de Jesus aponte noutro sentido, o Sporting é dos três grandes o que joga menos futebol. É o menos convincente dos candidatos ao título, embora me pareça o que tem melhor plantel.

Certamente, Jesus discordará de tudo isto. 

Tenho mais um argumento, porém, a favor da minha Opinião. Vejam o que tem feito o FC Porto sem Ricardo, Alex Telles, Danilo, Corona e Aboubakar, cinco potenciais titulares. Analisem a gestão de crise clínica feita por Conceição e comparem a resposta dada por dragões e leões.

Na véspera de um clássico fantástico agendado para sexta-feira é um exercício interessante.       

No futebol todos caem em qualquer momento. Isto é aceitável e normal. Menos justificável é ser condescendente com analistas e adeptos, como se todos habitássemos uma era que não é a de JJ.

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».