O «lutador» Mauricio Moreira viu recompensado o amor pelo ciclismo, ao sagrar-se vencedor da 83.ª Volta a Portugal, dois anos depois de ter pensado desistir da carreira ao ser ‘despromovido’ para uma equipa amadora.

Tal como escreve a agência Lusa, até à temporada passada, pouco se sabia sobre o ciclista uruguaio que chegou a Portugal em 2021, sem currículo de relevo e vindo dos amadores do Vigo-Rías Baixas.

Apesar de desconhecido, rapidamente Maurício Moreira fez-se notar o panorama velocipédico nacional, conquistando sucessivamente o Grande Prémio Douro Internacional e a Volta ao Alentejo, antes de ser o homem mais forte da Volta a Portugal.

Há um ano, apenas um azar o impediu de coroar-se de amarelo. Maurício Moreira perdeu-a por apenas 10 segundos, depois de ser penalizado em 40 segundos por abastecimento irregular e de cair no contrarrelógio final.

Este ano, desde o primeiro dia que o nome do uruguaio soava com força, na boca de rivais e especialistas, como o grande favorito à vitória final, e Moreira não defraudou as expectativas da Glassdrive-Q8-Anicolor, que preteriu Frederico Figueiredo, claramente o ciclista mais forte desta edição, para que a amarela fosse sua em Gaia.

Numa edição com menos montanha, terreno em que demonstrou debilidades, tanto no Observatório de Vila Nova como na Senhora da Graça, foi a natural aptidão de Moreira para o contrarrelógio, atestada pelo título nacional de júnior em 2012 e de sub-23 quatro anos depois, que lhe permitiu superar o seu colega português.

Nascido em Salto, em 18 de julho de 1985, Moreira só podia ser ciclista, ou não fosse filho do «mítico» (assim o definem os meios locais) Federico Moreira, que representou o seu país em duas edições dos Jogos Olímpicos, ganhou uma medalha de ouro na pista nos Jogos Pan-Americanos de 1987 e venceu seis edições da Volta ao Uruguai. O pai do mais recente vencedor da Volta foi ainda presidente da federação uruguaia de ciclismo.

Lutador é, provavelmente, o adjetivo que melhor descreve Moreira, que decidiu perseguir o sonho de ser ciclista profissional na Europa, para onde emigrou para representar a equipa de ‘esperanças’ da Caja Rural em 2016.

Mas a aventura na formação espanhola acabou mal: nem a vitória numa etapa (e o segundo lugar na geral) da prova francesa Boucles de la Mayenne convenceu os responsáveis da equipa a prolongarem o seu contrato no final de 2019.

Numa entrevista ao Jornal de Notícias, depois de conquistar o Grande Prémio Douro Internacional, assumiu que, devido a esta ‘despromoção’, pensou voltar ao seu país e abandonar o ciclismo profissional.

A namorada incentivou-o a continuar e, um dia, a Glassdrive-Q8-Anicolor (anteriormente Efapel), atraída pelos resultados de relevo que foi conseguindo no calendário amador, ofereceu-lhe um contrato.

O resto é história. O lutador venceu.