Nenhuma outra temporada, e nenhum outro clássico, ficou marcado por uma influência tão argentina como o jogo do próximo domingo. Nove jogadores oriundos das Pampas fazem o F.C. Porto-Benfica suar como um tango. Houve uma época, porém, em que a influência argentina se fez nos bancos. Foi em finais da década de 40 e início de 50.
Pelo F.C. Porto passaram quatro treinadores argentinos em cinco anos. Pelo Benfica passaram dois. O primeiro foi Alberto Zozaya, um antigo goleador de créditos firmados no país natal, ao serviço do Estudiantes, que ajudou a viver grande parte dos seus melhores dias. Inclusivamente começou como treinador no clube de La Plata.
Pegou na equipa do Benfica em 52/53, numa época em que o Sporting foi campeão, mas não chegou sequer ao fim. Saiu em Fevereiro, após uma derrota com o Sporting, no Jamor. Seguiu-se, em 53-54, José Valdivieso, um antigo jogador do clube, que treinou com sucesso os juniores antes de assumir os seniores. Saiu no final da época.
O médio Ângelo conheceu bem os dois argentinos e lembra sobretudo Zozaya. «Era um excelente treinador», garante. «Tinha deixado de jogar à bola há pouco tempo e estava a começar como treinador. As pessoas gostavam dele, mas a meio da época foi embora. Disse que não tinha feitio para ser treinador e nunca mais ouvimos falar dele», conta.
A verdade é que pouco tempo depois surgiu a treinar o Gimnasia La Plata. «Gostava muito de treinar os guarda-redes. Colocava o adjunto Cândido Tavares a treinar a equipa e ele ficava só com os guarda-redes. Alheava-se de tudo», acrescenta Ângelo, falando também de Valdivieso. «Era muito inteligente e tinha métodos pouco usuais na altura.»
Alejandro Scopelli, o argentino na origem de todo o fluxo
O mais importante de todos os treinadores argentinos não passou pelo Benfica, porém. Mas a sua influência foi determinante. «Acho que todos os treinadores argentinos dos anos 40 e 50 acabaram por vir para Portugal por influência de Scopelli. Ele fez um grande trabalho no Belenenses, era muito respeitado e gerou-se a moda dos argentinos.»
Curiosamente Zozaya, o primeiro argentino na história do Benfica, foi colega de Scopelli no Estudiantes. Juntos fizeram o ataque mais ameaçador do início do futebol profissional na Argentina. Partilharam a selecção e anos de futebol. Por isso não é surpresa nenhuma que Zozaya tenha surgido no Benfica por influência do compatriota.
Scopelli fez parte da carreira de jogador em Itália, onde jogou sob orientação de Vittorio Pozzio. Até na selecção italiana. De Pozzio bebeu todos os ensinamentos. Quando chegou ao Belenenses introduziu a táctica do WM e da marcação individual, que na altura era uma novidade. Por isso marcou o futebol português como poucos treinadores.