Há uma espécie de Via Verde, de prioridade absoluta, a ligar o Dragão a Alvalade. Uma via de intenso fluxo, que permite a troca recorrente de jogadores entre F.C. Porto e Sporting. Principalmente a partir do início da década de 80.

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O Maisfutebol foi ao baú das memórias, tendo como ponto de partida o lançamento do Clássico deste sábado, e escolheu dez nomes marcantes. Todos eles passaram directamente do Porto para o Sporting ou vice-versa.

Alguns envolvidos num manto de polémica (Sousa e Jaime Pacheco), outros na tentativa de reavivar uma carreira aparentemente em queda abrupta (Fernando Gomes), e ainda alguns forçados a procurar um clube onde pudessem jogar com mais regularidade (Emílio Peixe).

Há ainda um caso de excepção. António Oliveira não transitou directamente das Antas para Alvalade no Verão quente de 1980, mas a relevância do seu nome impunha a presença neste grupo de notáveis. Antes de chegar ao Sporting, o antigo seleccionador nacional ainda foi jogador/treinador no Penafiel e passou pelo Bétis.

A lista completa é a seguinte:

. António Oliveira (sai do Porto em 1980 e chega ao Sporting em 1982);

. Augusto Inácio (do Sporting para o Porto em 1982);

. Paulo Futre (do Sporting para o Porto em 1984);

. António Sousa e Jaime Pacheco (do Porto para o Sporting em 1984 e regresso ao Porto em 1986);

. Fernando Gomes (do Porto para o Sporting em 1989);

. Rui Jorge (do Porto para o Sporting em 1998);

. Emílio Peixe (do Sporting para o Porto em 1998);

. Hélder Postiga (do Porto para o Sporting em 2008);

. João Moutinho (do Sporting para o Porto em 2010).

Sousa: «O pior foi o meu regresso às Antas»

De todas estas situações, uma das que mais celeuma causou foi a que envolveu António Sousa e Jaime Pacheco. No final da temporada 1983/84, logo após a derrota do F.C. Porto na final da Taça das Taças contra a Juventus, os dois médios abandonaram os dragões e assinaram pelo Sporting.

Espanto, choque nas hostes azuis e brancas, dedos acusadores, gritos de traição. 26 anos depois, António Sousa conta tudo o que se passou ao Maisfutebol. «Foi preciso coragem para abandonar uma casa onde estava há cinco anos. Os meus interesses financeiros falaram mais alto. Estava perfeitamente consciente do que estava a fazer.»

Sousa diz que o pior mesmo foi o regresso ao Estádio das Antas. A turba azul e branca não o perdoou ao vê-lo de leão em vez de dragão junto ao peito. «Os meus ex-colegas e ex-directores trataram-me sempre com respeito. Só os adeptos é que me causaram alguns problemas, mas nada de especial. Assobios, insultos, o normal. Com o apito inicial pus para trás todo o nervosismo.»

Curiosamente, dois anos depois Sousa e Pacheco acabaram por voltar ao F.C. Porto. «Em boa hora o fiz pois foram três anos de sonho. Vencemos a Taça dos Campeões Europeus, em Viena, e a Taça Intercontinental, em Tóquio.»

«No Porto a derrota magoa mais do que no Sporting»

Profundo conhecedor de duas realidades «distintas», António Sousa não se coíbe de traçar um retrato do F.C. Porto e do Sporting. De forma resumida, a reacção à derrota é o traço que crava o antagonismo entre dragões e leões. Pelo menos num passado mais ou menos recente.

«O Porto é uma máquina trituradora de resultados. A obrigação de ganhar está presente no dia-a-dia e uma derrota demora uma semana a curar. Provoca azia, dor, magoa mesmo. A mentalidade é obcecada pela conquista», resume António Sousa.

«No Sporting as coisas são diferentes, pela negativa. Pelo menos eram, na minha altura. O insucesso não causava revolta nem no grupo, nem no adepto comum. Isso fazia toda a diferença.»