Vítor Pereira ainda dá os primeiros passos a solo no principal escalão do futebol português. Jorge Jesus, pelo contrário, pisa os maiores palcos nacionais há vários anos. Ainda assim, o Clássico de sexta-feira não será o primeiro embate entre os dois treinadores. Houve outro, nos Açores, e valia um título: o troféu Pauleta.

Em Novembro de 2009, o Benfica começava a mostrar o poderio que o havia de levar ao título nacional. Alicerçada numa pré-temporada de intensas promessas e muitas conquistas, a equipa embalava a nível interno e começavam a adivinhar-se dificuldades para a concorrência. É nessa altura que surge o Santa Clara, de Vítor Pereira.

O actual treinador do F.C. Porto encarou o jogo como se fosse a sério. A garantia foi dada ao Maisfutebol por Matt Jones, guarda-redes titular nos açorianos, naquela noite. «Não me recordo de grandes mudanças na preparação. O Vítor Pereira é um treinador que não facilita e sabia que era uma oportunidade para todos nós. Foi uma grande experiência», afirma o guardião.

Leandro Tatu também jogou naquela noite. «Foi especial, claro. O Benfica não veio com a equipa principal, mas eu encarei o jogo pelo nome do adversário. Para mim era o Benfica e nada mais», frisa. De facto, Jorge Jesus apostou num onze de recurso, com nomes como Roderick, Schaffer, Danilo, Urreta ou Keirisson. O brasileiro viria a colocar as águias de Lisboa em vantagem, no seu primeiro golo de uma discreta passagem pela Luz. Leandro Tatu empatou na segunda parte. «Fui feliz, finalizei bem num lance rápido. Guardo boas recordações dos jogos com o Benfica e essa é uma delas», conta o avançado do Steaua de Bucareste.

«Com Vítor Pereira, havia algo novo a cada jogo»

O jogo viria a terminar sem mais alterações. No final dos 90 minutos, Vítor Pereira tinha travado a «máquina encarnada» de Jesus. O pior foram os penalties. «Foi pena termos perdido. Mas o Vítor Pereira estava satisfeito com a nossa atitude. Disse que merecíamos ter ganho, porque tivemos oportunidades para isso», lembra Matt Jones.

O troféu foi para Lisboa, mas nos Açores ninguém ficou destroçado. E Vítor Pereira ajudou a que assim fosse, garante o guarda-redes inglês: «Disse-nos as palavras certas, tanto no fim como no início. Na palestra antes do jogo disse-nos que éramos tão bons como eles e que só tínhamos de dar tudo. Acho que ele viu naquele jogo uma boa oportunidade para mostrar trabalho e pediu o nosso melhor. Era um treinador que passava sempre uma mensagem de vitória e contra o Benfica não foi diferente.»

Tatu alinha no mesmo discurso. O brasileiro não esconde que é fã da forma de motivar do técnico dos dragões. «É a primeira vez que estou a falar dele e até fico satisfeito por poder dizer isto. Não é por ele estar agora no F.C. Porto, mas o período que tive no Santa Clara foi de grande aprendizagem. Se tivesse de destacar uma coisa seria, sem dúvida, a forma como ele nos motivava. Havia sempre algo novo a cada jogo. Não me recordo bem do que nos disse no jogo com o Benfica, mas a cada jogo na Honra havia algo de diferente. A mim fazia-me entrar sempre para dar tudo», explica.

O avançado brasileiro destaca ainda a «liberdade» que dava aos jogadores em campo, «sobretudo do meio campo para a frente». Recentemente, Vítor Pereira destacou, em conferência de imprensa, que esse é um dos aspectos definidores do seu trabalho. «Ainda hoje vou falando com ele, quando dá», conta Tatu.

O troféu, como se disse, foi para Lisboa. Mas no final Jorge Jesus elogiou o Santa Clara, dizendo que era uma equipa «bem organizada» e «das melhores» da Honra. Estaria longe de adivinhar que, dois anos mais tarde, estaria a travar o segundo duelo com Vítor Pereira, agora num Clássico que pára o país.