A vitória do Benfica no Dragão representa, para o FC Porto, um desaire sem precedentes nos últimos 39 anos: depois da derrota com o Sporting, para a Taça de Portugal, este é o segundo clássico perdido pelos dragões no seu terreno, na mesma temporada. Algo que não acontecia desde a época 1975/76 quando, depois de perderem com o Sporting para a Liga (2-3), os dragões se deixaram bater pelo Benfica nas Antas, pelo mesmo resultado. Os tempos eram outros, como o demonstra o facto de o FC Porto ter acabado esse campeonato no quarto lugar, atrás de Benfica, Boavista e Belenenses.

Daí para cá, considerando todas as provas oficiais, o FC Porto perdeu mais sete vezes em casa com o Benfica: três para a Taça de Portugal (incluindo a célebre final de 1983, decidida por Carlos Manuel) e quatro para a Liga. Cronologicamente, as últimas quatro tiveram o mesmo desfecho, 0-2, como Jorge Jesus sublinhou no final. E as três últimas registadas para a Liga tiveram sempre protagonistas solitários que bisaram: César Brito, em 1991, Nuno Gomes, em 2005 e Lima em 2014.

O bis de Lima reforça também a sua vocação para marcar no estádio do Dragão: sete golos ao FC Porto na condição de visitante, ao serviço de Belenenses, Sp. Braga e Benfica no total de nove marcados desde a temporada 2009/10.



Registo das derrotas caseiras do FC Porto em clássicos desde 1975/76:
1975/76: FC Porto-Sporting, 2-3 (Liga)
1975/76: FC Porto-Benfica, 2-3 (Liga)

1976/77: FC Porto-Benfica, 0-1 (Liga)
1981/82: FC Porto-Benfica, 0-1 (Taça de Portugal)
1982/83: FC Porto-Benfica, 0-1 (Taça de Portugal)
1986/87: FC Porto-Sporting, 0-1 (Taça de Portugal)
1990/91: FC Porto-Benfica, 0-2 (Liga)
1996/97: FC Porto-Sporting, 1-2 (Liga)
2005/06: FC Porto-Benfica, 0-2 (Liga)
2006/07: FC Porto-Sporting, 0-1 (Liga)
2010/11: FC Porto-Benfica, 0-2 (Taça de Portugal)
2014/15: FC Porto-Sporting, 1-3 (Taça de Portugal)
2014/15: FC Porto-Benfica, 0-2 (Liga)


Pouco tempo de jogo e muita eficácia encarnada


O jogo deste domingo teve características muito particulares, como o demonstram os dados da análise feita pelo Centro de Estudos do Futebol da Universidade Lusófona em exclusivo para o Maisfutebol. E talvez o mais relevante deles todos seja o do escasso tempo de jogo útil: dos 94 minutos concedidos por Jorge Sousa, apenas 53 e meio tiveram a bola em movimento, com 124 paragens de vária ordem a ocuparem os restantes 40 minutos e meio.



Deste tempo, a maior fatia vai para a marcação de livres: houve mais de 17 minutos de tempo acumulado entre o árbitro assinalar as faltas e estas serem executadas. Nesse sentido houve, obviamente, uma componente estratégica que sublinha a diferença de maturidade e de rotinas entre Benfica e FC Porto: os encarnados, até para responderem a um início de jogo forte por parte do adversário, fizeram sempre os possíveis por baixarem o ritmo e a intensidade, primeiro com 0-0, depois, de forma ainda mais acentuada, em vantagem no marcador.

A ilustrar esta tendência, o facto de, em média, o Benfica ter demorado cerca de dez segundos a executar os seus lançamentos laterais, enquanto o FC Porto os fazia em metade do tempo, para um total de jogo parado superior a dez minutos. Por tudo isto, parecem escassos os quatro minutos de compensação concedidos por Jorge Sousa.

Não surpreende, assim, que tivesse sido uma situação de bola parada (o lançamento de Maxi Pereira) a desbloquear um jogo que, até aí, se tinha caracterizado pela pouca fluidez na construção, com o FC Porto a ter um claro ascendente inicial que foi perdendo intensidade a partir dos 20/25 minutos.

Outro dado evidente nesta partida foi a eficácia revelada pelo Benfica no aproveitamento de situações de remate: ao todo, só por cinco vezes os encarnados visaram a baliza de Fabiano (três na primeira parte e duas na segunda), tendo marcado, respetivamente ao terceiro e quinto remate – curiosamente as únicas situações de finalização de que dispuseram na área portista - sendo que o segundo golo de Lima é em recarga imediata a um tiro de Talisca bem de fora da área, as únicas finalizações conseguidas pelos encarnados na segunda parte.



A contrastar com esta eficácia, os 17 remates efetuados pelo FC Porto, sem qualquer golo – embora dois deles tenham esbarrado nos ferros de Júlio César, que ainda teve de intervir em mais quatro situações delicadas.



Outro aspeto de jogo que merece destaque passa pela deficiente abordagem defensiva do FC Porto à primeira situação de bola parada que enfrentou (o Benfica só dispôs de dois lançamentos laterais para pôr a bola na área, durante a primeira parte): o foco de atenção foi todo para a ação de Brahimi, a tentar limitar o conhecido lançamento longo de Maxi - algo que o uruguaio faz há várias épocas em Portugal - e resultou numa estranha passividade que permitiu um ressalto no solo, sem que alguém atacasse a bola, à exceção de Lima, que ultrapassou um Danilo visivelmente desconcentrado.



Este golo motivou reações opostas: o Benfica, que até aí não tinha construído, sentiu-se mais à vontade para baixar o ritmo e recuar as linhas de pressão defensiva - evitando que o FC Porto conseguisse aproveitar, como o fizera nos primeiros minutos, passes para as costas dos laterais encarnados. Já os portistas deixaram de fazer aquilo que tinham feito bem até aí - em especial as entradas de Oliver e Herrera no espaço dos extremos, aproveitando o arrastamento para o centro que os movimentos interiores de Brahimi e Tello provocavam em Maxi e André Almeida. Até então, o Benfica tinha arriscado com linha defensiva adiantada, tentando tapar a construção portista mais à frente. A partir daí, houve domínio territorial mais consentido por um Benfica recuados, mas sem grande capacidade de desequilíbrio por parte do FC Porto, à exceção dos 15 minutos finais, em que a saída de Luisão e as entradas de Quaresma, Quintero e, acima de tudo, Aboubakar acentuaram o cerco à área de Júlio César. Aí, os ferros escreveram o capítulo final desta história.