Salvo qualquer problema físico ou surpresa reservada por um dos treinadores, no Clássico do próximo domingo, na Luz, estará em jogo também a invencibilidade de dois guarda-redes. É que se Iker Casillas nunca perdeu frente ao Benfica, Bruno Varela também não tem qualquer derrota frente ao FC Porto.

O guardião espanhol já defrontou as «águias» em quatro ocasiões, e soma duas vitórias (ambas em 2015/16) e dois empates (em 2016/17). A sequência foi interrompida na primeira volta da presente temporada, com José Sá a estrear-se em Clássicos, naquele que foi o terceiro empate consecutivo entre rivais.

Nesse dia, 1º de dezembro de 2017, também Bruno Varela jogou o primeiro duelo entre Benfica e FC Porto (de equipas principais, entenda-se), que terminou com um nulo. Não perdeu, portanto, tal como não tinha perdido nenhum dos dois duelos com a camisola do Vitória de Setúbal, na época anterior: 0-0 no Bonfim e 1-1 no Dragão. O que significa que também não ganhou à formação azul e branca, refira-se.

«O Casillas é uma figura incontornável do futebol mundial, está carregado de Clássicos e de jogos de grande importância. O Bruno é mais novo, está a fazer o seu trajeto», começa por referir Luís Matos, antigo guardião do FC Porto (de 1984 a 1986) e treinador de guarda-redes do Benfica (entre 2009 e 2011, depois de ter passado pela formação), em conversa com o Maisfutebol.

Luís Matos, à esquerda de Saviola na imagem, festeja o título 2009/10

Há mais pontos em comum

Para além da questão da invencibilidade, Bruno Varela e Iker Casillas têm em comum também a circunstância de terem perdido a titularidade a dada altura da temporada, recuperando-a posteriormente. O português entre meados de setembro e meados de novembro, e o espanhol entre outubro e fevereiro.

«O Varela estava a fazer uma época mais ou menos normal, tendo em conta a experiência que tem e a circunstância de ter apanhado uma fase má. A equipa não estava a funcionar, cometia muitos erros, e um guarda-redes nunca beneficia dessa situação. Cometeu um erro, como todos cometem», avalia Luís Matos.

Embora realce que é a opinião de quem acompanha a situação de fora, o técnico de guarda-redes considera que Varela «devia ter continuado». «É um choque muito grande, pois a imagem que fica é que ele foi o responsável pelo resultado negativo no Bessa, quando a responsabilidade é da equipa. Erros todos cometem. Devia ter a oportunidade de redimir-se. A ideia foi diferente, também porque tinha chegado um guarda-redes novo. Mas também não sei se foi benéfico para o Svilar, um jovem, que ainda não conhecia a realidade portuguesa. Analisando à distância, penso que não foi a melhor opção. Mas o Varela respondeu bem quando voltou, mesmo tendo em conta tudo o que lhe caiu em cima. Reergueu-se», acrescenta.

Relativamente ao momento em que Casillas perdeu a titularidade para José Sá, Luís Matos fala de uma «situação inesperada». «O Sérgio entendeu que o Sá dava mais garantias naquele momento, ou terá sido uma forma de abanar a forma de estar do Casillas, não sei…Nada o fazia prever, mas nunca vi insatisfação do Casillas. Claro que não ficou satisfeito, ninguém fica, mas não houve nenhuma demonstração pública ou alguma atitude que colocasse o grupo em causa», refere o antigo guarda-redes.

Quando a conversa incide sobre as características dos dois guarda-redes, Luís Matos concorda com a ideia de que existe outro ponto em comum: a principal limitação encontra-se na resposta a cruzamentos.

«Não é a qualidade mais forte do Bruno. Vai quase sempre pela certa. Não quer dizer que seja fraco, mas não é a sua qualidade mais forte. O mesmo se passa com o Casillas, a quem sempre foi apontada essa lacuna e que agora joga com a experiência que tem. Não corre riscos desnecessários», analisa.

O treinador de guarda-redes não fica apenas pelos aspetos menos positivos, porém, e lança logo de seguida as virtudes: «O Casillas é fantástico entre os postes. E depois a tal experiência e voz autoritária que é preciso ter em conta. O Bruno é calmo. Por vezes não reage tão rápido quanto deveria, mas tem qualidade entre os postes. Não quer dizer que seja um fora de série, mas também ainda é jovem. Ainda tem de andar muitos quilómetros, como se costuma dizer, para atingir o nível que certamente pretenderá.»

O (anunciado) adeus de Casillas e o futuro de Varela

O Benfica-FC Porto do próximo domingo assinalará, ao que tudo indica, o último Clássico de Casillas na Liga (três dias depois há visita a Alvalade para a Taça de Portugal). O guarda-redes espanhol está em final de contrato e o adeus ao Dragão já foi projetado, por força das condicionantes financeiras.

«É uma figura respeitada a nível mundial, com qualidade e também com muitos seguidores. Claro que, a confirmar-se, o FC Porto perderá alguma valorização. Mas o clube não pode viver só disso, ainda que, se for campeão, pode pensar de outra maneira. Pode depender também do treinador e das alternativas. Não vejo isso como um bicho-de-sete-cabeças, mas o título pode influenciar», diz Luís Matos ao Maisfutebol.

Desafiado a perspetivar também a próxima temporada para Bruno Varela, até pela contratação de Vlachodimos, o treinador de guarda-redes diz que «é melhor ter três opções de qualidade do que apenas uma».

«Após a saída do Ederson o Benfica viu-se um pouco limitado. Naquela altura em que o Júlio César teve o problema, ficou só o Varela e depois o Svilar. Se já tivesse o Vlachodimos tinha sido melhor. É de salutar a concorrência, e os três vão partir em igualdade. Isto porque o Svilar também já vai estar ambientado. O clube só beneficia com esta luta», defende Luís Matos.

Quem sabe o que é marcar em Clássicos?

Tal como acima referido, Iker Casillas tem duas vitórias e dois empates em Clássicos com o Benfica, nos quais sofreu três golos. O último dos quais assinado por Jonas, de penálti, na segunda volta da época passada. Antes tinha sido batido por Mitroglou e Lisandro, dois jogadores que já não estão às ordens de Rui Vitória.

Bruno Varela tem apenas um golo sofrido em jogos com o FC Porto, assinado por Jesus Corona, mas na baliza do Vitória de Setúbal, em 2016/17. Pelo Benfica tem apenas o nulo da primeira volta da presente época.

No plantel azul e branco existem cinco jogadores que já marcaram em Clássicos com o Benfica. Maxi Pereira até sabe o que é marcar por ambos os emblemas, de resto. Herrera e André André também já festejaram golos ao Benfica, tal como Ricardo e Aboubakar, sendo que estes dois também o fizeram por outros emblemas (Vitória de Guimarães e Besiktas, respetivamente). Sérgio Oliveira, Marega e Tiquinho Soares também já marcaram às «águias», mas não pelo FC Porto (Paços de Ferreira, Marítimo e Nacional, respetivamente).

No plantel do Benfica estão apenas três jogadores que já marcaram em Clássicos com o FC Porto. Jonas já foi mencionado pelo golo de penálti na época passada, e a lista completa-se com Luisão e Salvio.

André Almeida e Pizzi marcaram aos «dragões» mas com outras camisolas. O primeiro quando esteve emprestado à União de Leiria, e o médio ao serviço do Paços de Ferreira, com um «hat trick» em pleno Estádio do Dragão, há sete anos.