A Académica recebe este sábado o Sporting, num contexto inusitado. Que os estudantes ainda estejam, por esta altura, envolvidos na luta pela manutenção, nada de novo. Agora ter o Sporting apenas três pontos por cima da Briosa, isso sim é algo nunca visto.

Que implicação terá esta situação para os jogadores? Será um jogo como foram todas as outras visitas dos leões a Coimbra? Ou estaremos perante algo completamente diferente? Para Cleyton, médio criativo dos capas negras, a resposta estará algures no meio.

«A gente tenta colocar motivação em todos os jogos, claro que contra as grandes equipas fazemos grandes jogos, mas em todos entramos com a mesma vontade», garante o camisola 20 conimbricense, em conversa com o Maisfutebol, sem valorizar em demasia a série de quatro derrotas consecutivas.

«Sabemos que temos de vencer, mas temos de ter a cabeça tranquila e saber que a vitória há de chegar naturalmente, não adianta desesperar.» Talvez não fosse este o percurso que o jovem brasileiro esperasse para uma primeira experiência na Europa, mas não se importa:

«Sempre falei para mim que, por ser o primeiro ano, ia sentir um pouco de dificuldade, mas até que não senti. Só um pouquinho no início, mas consegui adaptar-me mais rápido. Pretendo fazer mais golos, tenho um na Liga e outro na Taça, mas está dentro do esperado, está tudo indo bem.»

«No Brasil marcava mais golos, já marquei cinco num campeonato. Aqui é mais rápido e há mais marcação. Bem mais difícil. Já assistia aos jogos na Brasil e sabia que era um futebol muito veloz, dinâmico, e com marcação forte. Mas com o tempo, conseguimos adaptar-nos», revela, precisando a razão de estar a ser menos concretizador:

«O futebol aqui é muito tático, vamos aprendendo, sou novo, e é importante aprender, com os técnicos que temos aqui, que sempre foram campeões. Lá não precisava de marcar como aqui. É o estilo da Europa, os médios têm de baixar mesmo. Lá o 10 não marca tanto. Estou a evoluir nesse sentido, com trabalho diário.»

«Kelvin já mostrava que ia ser craque»

Cleyton tem números interessantes na Académica (19 jogos na Liga, 16 como titular), mas conhece-se bem e sabe que o verdadeiro Cleyton ainda não foi visto em Portugal. «Ainda não cheguei ao meu melhor, sei que posso dar mais, ajudar muito mais a equipa. A cada dia vamos melhorando para chegar lá», confessa.

«Não conhecia a Académica, via mais jogos do Porto e outras mais conhecidas. Surpreendido? É diferente, tudo é novidade para mim, ainda não conheço bem os jogadores todos», complementa.

As referências em Portugal não eram muitas, mas há um jogador que veio reencontrar, sem grandes surpresas. «O Kelvin, do Porto. Joguei contra ele quando ele estava no Paraná, já nesta altura mostrava qualidade, e que ia ser craque. Também defrontei o Evandro, que está no Estoril», desvenda.

Da terra das onças e jacarés

Cleyton deixou para trás Campo Grande, onde nasceu, em busca de do sonho de se torna futebolista profissional. A capital do Mato Grosso, com mais de um milhão de habitantes, coisa comum no Brasil, é para onde o médio espera voltar um dia, depois de fazer um pé-de-meia na Europa.

«O pessoal brinca bastante, mas tenho muito orgulho do sítio onde sou. Gosto de mais. A minha vida vai ser lá, se deus quiser. Quero ficar um tempo aqui, mas a minha vontade é voltar para o meu país, perto da família», confessa, deixando um cartão-de-visita bem apelativo da sua região.

«Lá tem o pantanal, tem jacaré, tem onça. Tem muito mato, muito bicho. Mas nunca vi, só tenho curiosidade. Se gostava de caçar jacaré?, não tem como não, é difícil, prefiro ficar no campo, jogando à bola, que nisso não acerto não», despede-se, por entre risos.