Ao atravessar a Vila das Taipas, concelho de Guimarães, o Rio Ave beija as margens do parque de lazer local. A escassos metros, no Parque de Lazer das Taipas, aglomeram-se diariamente dezenas de pessoas que dão cor e vitalidade a esse mesmo espaço.

A primeira impressão, à vista desarmada, leva a pensar em qualquer tipo de ocorrência que tenha levado as pessoas até à margem do rio.

«Uma vez um colega meu passou na estrada e viu tanta gente à beira do rio que até me perguntou o que se tinha passado, questionando-me se alguém se tinha afogado. Não!, respondo eu: É um clube já a sério que junta aqui muita gente todos os dias», ilustra António Araújo, apresentando o Clube de Petanca das Taipas.

O funcionário municipal é o atual presidente de um clube que há oito anos se federou para fazer do jogo da petanca, um passatempo capaz de entreter a população. É um clube de bairro que a MF Total apresenta desvendando as suas particularidades.

Brincadeira que veio de França

A petanca não é propriamente um jogo de prática generalizada, mas está a implementar-se e já é considerado uma modalidade, pois desde 1992 que já existe a Federação Portuguesa de Petanca.

Segundo este organismo, a petanca é «um jogo de origem francesa, criado no princípio do século XX». «O seu nome deriva da expressão pieds tanques, que significa pés juntos. Jogada em todo o sul da Europa, a petanca foi trazida para Portugal na década de 1980 pelos emigrantes».

Tal como na génese deste jogo em Portugal, também o Clube de Petanca das Taipas tem as suas origens nos emigrantes que trouxeram o jogo das bolas metálicas para a região.



«O Clube de Petanca das Taipas começou em 2001 numa brincadeira aqui no largo do Parque das Taipas. Meia dúzia de pessoas começaram aqui a jogar, essencialmente pessoal reformado que regressou de França e outros que tinham visto jogar. Ou seja, de uma brincadeira fez-se um clube», refere o jogador de petanca que assume os destinos da coletividade.

António Araújo explica que, apesar de existir desde 2001, o clube apenas em 2007 se federou para participar nas provas oficiais. «Eu próprio aprendi aqui a jogar, também numa brincadeira. Apanhei logo o bichinho de jogar também, fiz-me sócio e hoje sou o presidente do clube», assume.

A carrinha que «vai para todo o lado» e a sede

Desde então, criar melhores condições é um dos objetivos do Clube de Petanca das Taipas. Para se jogar, apenas são necessárias as bolas metálicas e um espaço de 13,5 metros de comprimento por 3,5 metros de largura.

Contudo, o clube já dispõe de onze campos (com um piso diferenciado para melhorar o jogo) devidamente delimitados e vedados para que as bolas não se misturem nem vão parar ao rio. Além disso, o clube tem também já uma carrinha que, segundo o presidente, «vai para todo o lado onde haja torneios».



No último sábado, dia 13 de junho, o clube escreveu uma página de ouro na sua história. O presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, inaugurou a sede do Clube de Petanca das Taipas, valência com que a coletividade pode agora albergar os cerca de cem associados.

A concretização deste sonho antigo, ou seja, a obtenção de uma sede própria, faz com que o clube se enraíze ainda mais no Parque de Lazer das Taipas fazendo deste espaço público a sua casa.

«A sede é muito importante para nós. Agora temos um espaço onde os nossos sócios podem conviver. Estamos no sítio ideal, no parque. Se a petanca saísse daqui o clube não era o mesmo», atira o presidente da direção.

Renascimento do parque que estava «morto»

Para António Araújo o clube está no sítio indicado, uma constatação que facilmente se percebe também pelo contributo que dá à sociedade. O Parque de Lazer das Taipas estava debilitado, o edifício da sede (que antes era um conjunto de casas de banho) estava há muito fechado e degradado com sinais de vandalismo. Com a petanca nestes espaço o parque ganha nova vida.

«Não tenho a menor dúvida de que este clube é muito importante aqui para a gente das Taipas e até dos arredores. É uma mais-valia para a população e mesmo para o Parque de Lazer das Taipas. O parque com gente aqui dentro é bonito. Sem as pessoas perde encanto. Este espaço estava fechado e o parque estava morto. Com esta obra o parque renasceu», afirma António Araújo.



O presidente do clube, que é também árbitro da Associação de Futebol Popular de Guimarães, prossegue nas razões que dão importância à coletividade: «Trata-se de um clube de Bairro, sem dúvida alguma, que transporta muita alegria para as pessoas daqui, que proporciona divertimento aos que jogam e que serve de entretenimento também para aqueles que estão apenas a ver».

Como é que um clube assenta arraiais num parque de lazer é a questão que se coloca. O presidente eleito a 10 de novembro de 2012 conta como se edificou o Clube de Petanca das Taipas no parque da vila.

«Do lado de lá do parque era fresco; havia umas árvores e umas sobras em que se estava bem e que convidava à prática de chincalhão. Do chincalhão passámos então a jogar à petanca fazendo do parque a nossa casa. Damos muita vida a isto. Diariamente junta-se aqui uma multidão à volta dos campos, de manhã à noite», garante António Araújo.

Taça ao estilo «Champions» e faqueiros como prémio

Para além da prática apenas por prazer, o Clube de Petanca das Taipas participa nos campeonatos federados da modalidade. E já tem uma taça digna de registo, que é comparada, inclusive, com a da Liga dos Campeões da UEFA.

«Neste ano, o clube já foi campeão por quatro vezes. Não é por acaso que temos ali na sede uma taça que parece a da Liga dos Campeões. Está aqui um ano, se nós a ganharmos três vezes fica para o clube. Se não, para o ano vai para o clube que a ganhar. O nosso objetivo é ficar com aquela taça, mas já arranjámos uma réplica mais pequena para assinalar que a ganhámos», assegura o presidente.



À margem dos campeonatos federados, é prática comum os clubes organizarem torneios entre si. Também neste aspeto, o Clube de Petanca das Taipas deixa a sua marca chamando a atenção pelos seus prémios.

«Em agosto temos tido aqui muita gente no torneio anual do clube. No ano passado tivemos 63 equipas de tripla, compostas por três jogadores cada uma. E vieram jogadores de Espanha. Há dois anos o torneio foi bom, mas, no ano passado, foi muito muito bom. Também não tínhamos uns prémios vulgares: os prémios eram faqueiros de 70 peças», declarou.

Os nove campos do Clube de Petanca das Taipas, que em breve serão vinte, estão à disposição de todos quantos queiram jogar. Ao lado dos campos é possível encontrar uma placa, com uma pequena cobertura para não apanhar sol, em que é possível estar-se a par das atividades do clube e ainda ter acesso aos contactos. Tudo tão simples.