Vice-campeão da Arábia Saudita, o Al Ahli decidiu deixar o seu futuro nas mãos dos portugueses. No âmbito de uma parceria com o Sporting, conduzida por Diogo Matos, o emblema da cidade de Jeddah confiou a formação a quase uma dezena de técnicos lusos.

O coordenador técnico é Paulo Leitão, indicado precisamente pelo emblema leonino, onde acumulou vários anos de experiência nos escalões jovens. «Temos a Academy, que vai dos 9 aos 15 anos, e que é coordenada pelo José Vasques, e o Youth Center, até aos 23, que é coordenada por mim. A ideia inicial era ter outra pessoa, pois eu sou coordenador técnico, mas tive de acumular. Tive liberdade total para escolher a minha equipa», explicou o responsável ao Maisfutebol.

Para além de Paulo Leitão e José Vasques, o Al Ahli conta ainda com os técnicos João Couto (sub-19), João Henriques (sub-15 e sub-11), Paulo Nunes (sub-14 e sub-10) e ainda Pedro Rebocho na observação e análise. O projeto também incluía Luís Martins, que já estava no clube, como treinador sub-23, mas que foi requisitado para adjunto de André Villas-Boas no Tottenham. Na Arábia Saudita ficou o adjunto Gonçalo Pedro, e em breve deve ser contratado mais um técnico português para suceder a Luís Martins, e ainda um outro para os sub-13 e os sub-9.

Reunida há três semanas em Jeddah, esta comitiva lusa está empenhada em inovar a formação do Al Ahli. «Um clube não tem sucesso se não tiver recrutamento. Esse tem sido o sucesso do Sporting. Nos últimos anos os outros clubes abriram os olhos e estão a tentar recuperar caminho. Depois temos a questão social, uma vez que os miúdos comem e descansam mal, têm problemas de dentes e a maioria apresenta anemia. O cenário é esse. É preciso um ataque claro ao recrutamento, que nesta altura não existe, e ao estilo de vida», explicou Paulo Leitão ao nosso jornal.

Defeitos, virtudes e diferenças culturais

Paulo Nunes, treinador dos sub-14 e dos sub-10, fala em «diferenças enormes» ao nível do treino. «Vinha com alguma expectativa, para saber se estávamos à altura da realidade que íamos encontrar, mas a verdade é que em Portugal estamos muito à frente no tempo. Aqui ainda separam tudo: o físico, o tático, o psicológico. Aquilo que nós fazíamos há dez ou quinze anos, até percebermos que o que fazia mais sentido era relacionar tudo», explicou.

No que diz respeito aos jogadores, o técnico percebeu de imediato que «faltam princípios de jogo». «O ritmo é elevadíssimo. Para eles o campo é a descer, quando atacam, e deixam a equipa desequilibrada. É por aí que temos de pegar», explicou, antes de falar das virtudes a explorar: «O que sobressai é a disponibilidade. Estão sempre disponíveis e agradecem sempre ao treinador. Bebem toda a informação e ficam contentes quando sai bem, depois.»

A língua e as diferenças culturais são, naturalmente, as principais barreiras. «Por vezes o treino entra na hora da reza, que se ouve através dos altifalantes que estão espalhados por todo o lado, e temos de parar o treino», exemplifica Paulo Nunes, que lembra que as dificuldades aumentam neste período, com o Ramadão.

Em todo o caso o desafio tem sido estimulante, e o técnico faz um balanço positivo destas primeiras semanas. «Tem sido uma experiência fantástica. A nível desportivo e social. Estaremos eternamente gratos ao Luís Martins e ao Gonçalo Pedro, que nos colocaram a par desta realidade. Nos primeiros três meses não podemos ter cá a família, pois só depois é que teremos o documento que permite que venham, mas estamos quase sempre juntos, e por isso funcionamos como uma família. Dessa forma tem sido mais fácil ultrapassar o afastamento da família e dos amigos», explicou o treinador dos sub-14 e dos sub-10 ao nosso jornal.