Do Campomaiorense ao Fafe, com vários exemplares dos três grandes do futebol nacional... Rodrigo Soares tem no seu apartamento de São Paulo aquela que é, provavelmente, a maior coleção de camisolas de clubes portugueses fora de Portugal.

«Não as contei, mas acredito que passem as 200 – só da Seleção Nacional são mais de 20 diferentes», conta ao Maisfutebol este empresário brasileiro, filho de um fafense e de uma egitaniense, que antes da internet aproveitava as suas férias e viagens de familiares à «terrinha» para começar a coleção que o enche de orgulho.

«Em vez de comprar camisolas de grandes equipas de outros campeonatos europeus tive sempre uma predileção por Portugal. Afinal, faz parte da minha história. A primeira camisola de um clube português que tive foi uma do Benfica, com a águia bordada na gola. Era de 1996, Adidas, com o patrocínio da Telecel. Foi o meu tio que me trouxe de uma viagem. A partir daí, quando algum familiar ia passar férias a Portugal, sabendo do meu gosto, trazia-me uma camisola diferente. Até 2003, a coleção foi crescendo assim, lentamente. A partir daí, com o aparecimento de sites de venda de artigos na internet passou a ser mais fácil adquirir camisolas em segunda mão.»

Rodrigo começou então a diversificar a coleção, com mais de duas centenas de camisolas e mais de 40 clubes representados, e entre as raridades tem particular gosto numa do Fafe, clube da terra do seu pai. «Não fazia sentido não ter a camisola do clube da cidade do meu pai. Foi difícil de consegui-la. Mas uma vez soube que um primo meu estava de visita a Guimarães e eu convenci-o a ir a Fafe comprar a camisola», recorda.

Essa do emblema minhoto, que agora milita na II Liga, é uma das suas preferidas. Porém, não é a única: «Todas as camisolas que coleciono têm seu valor. De jogadores, tenho uma de que gosto muito do Benfica, do Amaral – antigo médio brasileiro dos encarnados nos anos 90. Consegui-a através de um amigo em comum. É uma camisola de jogo; tem dois ou três pormenores que a diferenciam. Tenho uma muito bonita do Belenenses, estilo anos 60, com cadarço (cordão) em vez de botões a apertar a gola. Gosto também de uma do centenário do Benfica, toda branca... E o FC Porto lança todos os anos equipamentos alternativos muito originais, com padrões e cores bem diferentes. Isso é como que mostrar um prato de comida a quem está com fome [risos]. Dá-me logo vontade de comprar…»

No Brasil é comum uma camisola de futebol servir como vestuário no quotidiano e o colecionismo é levado a sério. «O Museu do Futebol, no Estádio Pacaembu, promove encontros anuais com fãs de camisolas de clubes. Mas não conheço outro que tenha o meu gosto em colecionar clubes de Portugal, pelo que virei uma referência por aqui. Se aparecer alguma camisola da Académica à venda, por exemplo, e dizem logo “liga para o Rodrigo…”. Sou um destino certo para isso. Há também que entre em contacto comigo através do meu blogue, “Em busca da camisa sagrada”», explica o colecionador, contando em seguida um episódio que uma vez lhe aconteceu num centro comercial e que dá uma noção da «febre» de alguns colecionadores:

«Eu tinha vestida uma camisola da seleção portuguesa, que comprei em 1999 em Lisboa, e um rapaz apareceu na minha frente com um cartão de crédito na mão e começou a oferecer-me dinheiro. Pediu-me para eu entrar na loja de desporto em frente e escolher duas camisolas novas em troco daquela de Portugal, que lhe faltava na coleção. Eu recusei, claro…»

No Brasil, Rodrigo torce pela Portuguesa de Desportos, clube com ligação à comunidade lusodescendente de São Paulo. Aliás, começou apenas por fazer coleção de camisolas da «Lusa». Em Portugal, simpatiza com quatro clubes e tem motivos para justificar cada preferência: «Como não vivo aí, não me considero adepto de nenhum clube. Mesmo assim, à distância, há quatro de que gosto muito. Desde logo, o Fafe, por causa do meu pai, e o vizinho Vitória de Guimarães, porque gosto muito da cidade. Se vivesse em Portugal, gostaria de viver lá. Gosto também do Gil Vicente, por toda a identidade gráfica e combinação de cores e pelo símbolo ser o galo de Barcelos. E do Belenenses, por durante décadas, antes do título do Boavista, ter sido o único campeão nacional entre os três grandes», conclui.

«Qual é a próxima compra?», perguntamos. «Depende do que aparecer», responde. Até lá, Rodrigo Soares continuará em busca da camisola sagrada de um qualquer clube nacional.