Israel é um país cheio de contrariedades, capaz de mover ódios e paixões. Está no centro do mundo e toda a gente fala dele, mas poucos são os que ligam aquele local ao futebol. Apesar de inserido no médio Oriente, participa nas competições da UEFA e até já houve ocasiões em que equipas daquele país defrontaram portugueses.
Insólito é ter um jogador português a jogar no campeonato israelita, mais propriamente na IIª Divisão, também apelidada de Liga Leumit. Esta sexta-feira à tarde, José Eduardo foi o primeiro a consegui-lo, tendo sido titular no empate (2-2) da sua equipa, o Hapoel Jerusalém, com o Ironi Rishon Lezion. «Foi mau porque sofremos o golo do empate ao minuto 91, quando faltavam três minutos para acabar o jogo. Num contra-ataque, marcaram o golo, por isso não foi totalmente satisfatório, apesar de ter feito o meu primeiro jogo da época após cinco meses de paragem», abordou ao Maisfutebol.
Mas, afinal, quem é José Eduardo? Aos 23 anos, o guarda-redes tem já uma história de vida bem preenchida e só os enganos e desenganos da vida lhe permitiram trilhar caminhos raros. Apontado como jovem promessa do futebol nacional, cumpriu a formação no F.C. Porto e em 2001 foi chamado ao plantel principal, primeiro por Fernando Santos, depois por Octávio Machado. Tapado por Vítor Baía, Ovchinnikov, Paulo Santos e Pedro Espinha, viu-se relegado à equipa B, onde se lesionou. Depois, viria a jogar no Portimonense e no Pampilhosa, tendo tomado posteriormente a decisão de parar durante cinco meses antes de assinar pelo Hapoel.
Para trás ficaram muitas promessas e um percurso marcado por mais de vinte internacionalizações pelas selecções jovens, tendo feito parte da equipa que venceu o Torneio de Toulon em 2001. O seu sonho na altura era ser o novo Vítor Baía, mas agora sabe que terá de trabalhar muito para poder ter apenas uma carreira feliz. Israel é, por isso, uma oportunidade que pretende agarrar.
Um jogo, muitas línguas
Mesmo que tenha empatado o seu primeiro jogo, sente que está no bom caminho. «Estou contente por poder voltar a jogar e, ainda por cima, numa equipa que luta pela subida», referiu, apontando as excelentes perspectivas do Hapoel, que partilha actualmente a liderança com outra duas formações (o Maccabi Netanya pode isolar-se se vencer o Zafririm Holan). «Não conheço quase nada das outras equipas, mas sei como é que nós vamos e acho que é mesmo para subir este ano», abordou.
Em total repouso na unidade hoteleira que tem servido de sua casa nas últimas duas semanas e meia, comentou as incidências de um dia cheio. «Hoje estavam cerca de seis ou mil sete pessoas. É pouco para o estádio, porque tem capacidade para trinta mil, mas, de qualquer forma, é um ambiente muito quente, em que os adeptos não se calam durante todo o jogo. É um ambiente intenso, que me agrada e pelo menos é melhor do que jogar com cem pessoas na bancada», abordou.
Emoções fortes e alguma confusão no primeiro dia de uma experiência que ficará marcada na memória. «Acho que hoje falei para aí dez línguas no jogo. Por vezes dizia coisas em hebraico, porque sei dizer atenção, direita, esquerda ou é minha, mas se quase sempre me saía em hebraico, outras falava mesmo em português. Depois, há um ou outro jogador que até percebe espanhol e eu dizia em espanhol, mas a certa altura devo ter inventado uma língua qualquer a meio do jogo. Não é fácil, porque são muitos jogadores e eu ainda faço confusão com os nomes», graceja, contando que o treinador lhe perguntou antes do jogo se sabia dizer os nomes dos colegas.
Após duas semanas de treinos à experiência, chegou a acordo até final da época, com perspectivas de poder ficar mais um ano ou dar o salto para um clube com outras ambições. Em Israel há muitos estrangeiros, «alguns brasileiros, claro, para além de romenos e checos», mas na sua equipa há apenas um romeno. Em todo o caso, José Eduardo não sente dificuldades e afirma-se feliz, simplesmente porque pode jogar.