Minuto 68 do jogo entre o Gil Vicente e o Benfica. A perder por uma bola a zero, João de Deus faz entrar em campo um miúdo algarvio. O tal miúdo precisou apenas de quatro minutos para fazer o gosto ao pé e carimbar um ponto para o Gil diante do Benfica. Um golo especial, por razões óbvias, mas não só. O Maisfutebol apresenta-lhe Vítor Gonçalves.

Começamos a história pelo fim, pelo golo que catapultou Vítor Gonçalves. O primeiro do médio do Gil Vicente no principal escalão do futebol português. Canto na esquerda, bola ressalta para a área e remate de primeira de Vítor Gonçalves. Grande golo, o primeiro a Oblak: «Foi especial por ter sido o primeiro golo e por ter influência no resultado. Se fosse a outro clube qualquer a sensação seria a mesma».

No momento em que estava a aquecer Vítor Gonçalves pensava em fazer a diferença no jogo, o que acabou por se concretizar: «Todos os jogadores quando estão a aquecer pensam em entrar e em fazer algo, fazer a diferença. Tive a sorte de acontecer», disse o jovem.

Em Barcelos espera-se que o golo seja um catalisador para o futuro. Depois de uma fase negativa o conjunto gilista quer voltar ao trilho dos triunfos. Para além de ser o primeiro, estas são as razões óbvias para a importância do golo: «A equipa naquele momento estava a precisar, a última série de jogos tinha sido um bocado complicada e o golo conseguiu arrancar um ponto contra uma equipa grande, o que é bastante positivo. O golo e o empate vão dar moral para continuar o trabalho».

Do Algarve ao diagnóstico negro no Benfica

Para se perceber as outras razões da importância deste golo é preciso recuar no tempo. Vítor Gonçalves é natural do Algarve, de São Bartolomeu de Messines. Foi lá que começou a dar os primeiros pontapés na bola. Contou ao nosso jornal que sempre sonhou ser futebolista: «Pedia ao meu pai para me meter no futebol, andava sempre com uma bola atrás.»

Logo nos infantis chamou a atenção dos responsáveis do Benfica a ponto de ser recrutado para os escalões de formação do Benfica. Esteve apenas três anos em Lisboa e aponta as razões da experiência mal sucedida: «Era muito franzino e muito baixo em relação aos meus colegas. Era o mais baixo da equipa. Tinha dificuldade em acompanhar a evolução deles em termos físicos, mas não em termos técnicos. Nos iniciados sentia-se a diferença».

O diagnóstico não foi o melhor. O Benfica não lhe augurou grande futuro enquanto jogador. «Na altura disseram-me que devido a ser muito franzino dificilmente conseguiria acompanhar a evolução dos meus colegas», palavras carregadas do jogador que agora tem 21 anos.

Esta é a outra razão para o golo de sábado ter sido especial. Um grito de revolta, uma prova de vida, da forma que o Benfica menos quereria: «Poderia estar aqui a dizer que não, mas é sempre especial. Como joguei lá tinha aquela vontade de querer mostrar que estou presente» revelou Vítor Gonçalves confidenciando ao mesmo tempo que a sua família torce pelo Benfica.

Experiência no Gil «não podia ser melhor»

Regressou ao Algarve, desta vez para o Portimonenses, onde terminou a formação. Ganhou um lugar no plantel sénior do clube e foi peça importante na campanha dos algarvios. Apontou um golo no segundo escalão do futebol português logo na primeira época. O ano passado afirmou-se no Portimonense tendo sido recrutado pelo Gil Vicente de João de Deus.

Não se arrepende deste percurso e elogia a política de aposta nos jovens do Gil apontando-o mesmo como um exemplo a seguir: «O Gil Vicente é um exemplo, tem uma boa estrutura e mostrou isso nas contratações que fez este não. Esta aposta na juventude está a dar frutos e no futuro vai trazer coisas boas ao clube, e depois de as coisas correr bem vão ser um exemplo aos restantes clubes que este é o caminho a seguir, de formação de jovens portugueses».

Internacional pelas seleções jovens de Portugal, já foi chamado aos sub-21. Mantém o sonho de ser chamado com maior regularidade à equipa das quinas e diz que trabalha diariamente para que isso aconteça. «É a ambição de qualquer jogador da minha idade. Representar o país e a seleção nacional, é óbvio que tenho esse objetivo e trabalho todos os dias para isso», disse.

Em Barcelos tem tido oportunidade de jogar com jogadores mais experientes, como César Peixoto ou João Vilela. A experiência do ano de estreia na primeira divisão não podia estar a correr melhor. «Tenho jogado alguns jogos e dentro das minhas possibilidades e do que sei fazer tenho ajudado a equipa. Tenho trabalhado sempre que entro em campo e está a ser positivo. Sou novo, acabei de chegar da segunda liga e penso que melhor do que isto não poderia ser.

Vítor Gonçalves, nascido a 29 de março de 1992 em São Bartolomeu de Messines. Estreou-se a marcar ao Benfica, clube que o havia dispensado. Carrega o sonho de «atuar em clubes grandes tanto cá como no estrangeiro». Neste momento está focado no Gil Vicente, e é em Barcelos que espera «evoluir e mostrar o meu serviço aqui para ser reconhecido para essas coisas boas acontecer mais tarde».