«Alô Brasil» é o Diário de Bordo de João Tiago Figueiredo, enviado-especial do Maisfutebol ao Mundial 2014, no Brasil

Dias 11 e 12: que organizadinho que isto é!

Começando pela cidade. Cheguei no domingo a Brasília, palco do Portugal-Gana jogo de despedida da seleção nacional do Mundial 2014. Não é? A sério que acreditam? Já lá vamos então.

Brasília é uma cidade diferente de todas as que já vi. A palavra que melhor a define será: organização.

Sei que foi projetada por Oscar Niemeyer, mas se me dissessem que foi pelo Sheldon Cooper eu acreditava. A organização aqui é brutal.

Ora aqui ficam os hotéis, juntinhos e devidamente etiquetados. Escrítórios? Naquela quadra ali, as placas indicam. Noutra quadra há restaurantes e bares. Não muitos, porque esta é uma cidade de trabalho.

Brasília é tão organizada que não sei como deixaram um desleixado como eu entrar. Confesso que fico com dúvidas se posso colocar a mochila em cima da mesa ou se vou ouvir um ralhete no hotel se deixar uma toalha no chão.

Se Brasília fosse uma pessoa, era daquelas que antes de tomar banho já tem a roupa direitinha em cima da cama, com a camisa devidamente engomada e o cinto enroladinho.

Brasília, por estes dias, só tem um defeito: está com pena de mim. Quando digo que sou português (sim, porque não basta falar! Ainda ontem me disseram que falava muito bem português. Respondi: obrigado, ando há 27 anos a treinar) a resposta é semelhante: prender os lábios e colocar uma cara de pena.

Motivo? A seleção, claro. O péssimo Mundial de Portugal faz toda uma cidade ter pena de mim. Escutar Portugal, por estes lados em que só se respira futebol, é sinal obrigatório para um gesto de compaixão.

Para mim, que nunca morei fora de Portugal, foi importante para perceber que, de facto, a forma como os emigrantes vivem a seleção tem mesmo de ser especial. É um orgulho, quando corre bem, estar de peito cheio a assumir-se tuga de corpo e alma.

Na mesma proporção é difícil lidar com o insucesso quando tudo o que rodeia não o sente. E vem a troça ou compaixão. Não sei o que será melhor.

Enfim, será passageiro. Da forma como Brasília é organizada, provavelmente este é o dia da misericórdia. Amanhã haverá algo diferente. 

[artigo atualizado: 19h14]