Os «Lugares Incomuns» do futebol internacional apontam a caneta para o mais comum desses locais: a Copa Libertadores. É a competição mãe para encontrar (e medir noutra realidade competitiva) os talentos das ligas da Colômbia, Equador, Perú, Bolívia, entre outras sul-americanas. A muitos meses da próxima edição, faço a retrospetiva da número 57 e descubro onde estão e como estão aqueles que entendo terem sido os cinco melhores jogadores da prova, sem incluir alguns dos que fizeram manchetes um pouco por todo o mundo ou aqueles que considero já terem o seu reconhecimento em Portugal. Para que o leitor não estranhe a ausência desta lista da máquina goleadora Miguel Borja, compreenda que não preciso de escrever sobre o potencial de Calleri ou, o caso mais evidente, que não há necessidade de mencionar o benfiquista Franco Cervi.

Sebastián Pérez (disputou-a pelo Atlético Nacional, actualmente no Boca Juniors)

Foi o melhor médio da competição. Fortíssimo ao nível da pressão e da recuperação. É um “8” bastante rotativo, com facilidade em descer para assumir a primeira fase de construção e igualmente apto para se incorporar em zonas próximas da grande área, onde não pede licença para rematar. Apenas tinha deixado o seu clube de sempre para treinar à experiência no Arsenal, mas foi dispensado, embora tivesse feito uma partida interessante num amigável contra o Manchester City. Aos 23 anos e com 179 jogos nas pernas, percebeu-se que estaria pronto para dar o salto e não demorou até mudar-se para o Boca Juniors assim que acabou a prova, tendo já feito três jogos pelos argentinos (2 vitórias e 1 empate) num total de 188 minutos.

Júnior Sornoza (Independiente Del Valle)

Deambulou entre a posição de segundo avançado e a de médio ofensivo devido à dupla personalidade do esquema táctico dos equatorianos (quando favoritos em 4x2x2x2, quando não o eram em 4x2x3x1). É no entanto a partir da posição 10 que melhor mostra o seu futebol. Do «alto» dos seus 166 centímetros percorre os três corredores e exibe sem dificuldades toda a sua técnica e velocidade naquilo que importa. Pensar e executar. Especialista em todas as bolas paradas, tem ‘faro de golo’ e a boa campanha valeu a mudança para o Fluminense aos 22 anos, equipa que irá representar apenas a partir de 1 de janeiro de 2017.

Luan (Grêmio)

Vertiginoso. É o adjectivo que melhor descreve o jogador brasileiro e a característica que ao mesmo tempo o coloca tão perto e tão longe da Europa. A velocidade de ponta, os desequilíbrios, a atacar ou a defender, e a capacidade de drible são o seu cartão de visita aos 23 anos. Olho para o que faz como extremo esquerdo, embora também jogue como avançado centro, e fico sempre na dúvida se irá conseguir mudar este ‘chip’ para um mais equilibrado. Tem boa estampa física, bom remate e consegue facilmente ir lá a cima para cabecear a contar. De todos, foi o que mais se destacou após a competição, brilhando ao serviço do Brasil nos Jogos Olímpicos, mas sem que tenha sido suficiente para rumar até um campeonato onde possa crescer tacticamente.

Marlos Moreno (disputou-a pelo Atlético Nacional, actualmente no Deportivo)

Era impossível deixar o menino de 19 anos de fora. É certo que, à data da final que a sua equipa venceu, já tinha tudo assinado para se mudar para o Deportivo, por empréstimo do Manchester City, mas gostaria de escrever umas linhas sobre o melhor jogador da fase de grupos da competição antes de o ver no topo do futebol. Irreverente, ágil e inteligente. Um autêntico diamante por lapidar. Foi desaparecendo à medida que a equipa ultrapassava obstáculos, acusando que vai sentir algumas dificuldades competitivas na sua primeira época na Europa. Vamos ter que esperar que cresça e se torne homem para depois nos deliciar com o seu futebol de rua. Nos primeiros 4 jogos (com 226 minutos) em Espanha ainda não conseguiu fazer o gosto ao pé.

Yerry Mina (disputou-a pelo Santa Fe, actualmente no Palmeiras)

Esteve longe de ser o mais perfeito dos defesas centrais, mas foi aquele que apresentou mais qualidades inatas. Com falhas consideráveis no posicionamento, é aos 22 anos claramente um jogador a trabalhar, até porque não aparecem atletas rápidos com 1,95 metros todos os dias. Bom no desarme, extraordinário nos duelos aéreos e letal nas bolas paradas ofensivas. Fez 10 golos em 87 jogos pelo clube, 3 em 8 na Libertadores 2016, antes de se mudar para o Palmeiras. Gosta de assumir o jogo com bola a partir da defesa e é dono do mais potente pontapé da América. No Brasil parece estar a tentar bater os seus próprios recordes no capítulo ofensivo e os 4 golos em apenas 10 jogos são mais do que um aviso para a Europa que precisam dele.