A FIFA está em processo de mudança. O escândalo de corrupção em que o organismo que regula o futebol mundial se viu envolvido irá obrigar a que algo mude. Ou, antes, que muito mude? É uma das questões ainda por responder: o que vai e como vai mudar.

O(s) processos(s) estão em pleno curso. Mas os ritmos são diferentes. E esta é uma das explicações para que ainda não haja algumas ou mais respostas. O que se passou nesta quinta-feira é disso ilustrativo.

O segundo e último dia da reunião do Comité Executivo (CE) da FIFA começou com as autoridades suíças a deterem dois altos responsáveis do futebol a pedido das autoridades dos Estados Unidos.

Não foi situação inédita desde que em maio passado o congresso que haveria de eleger Joseph Blatter pela última vez ficou marcado pela colocação em campo público da investigação do Departamento de Justiça dos EUA a cargo da Procuradoria de Nova Iorque; desde logo com sete detenções na Suíça e o conhecimento de outros arguidos, confissões de culpa e uma acusação que refere crimes cometidos desde 1991, como extorsão, fraude ou lavagem de dinheiro.

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Nesta quinta-feira, as duas detenções foram conhecidas com o anúncio de que faziam parte de 16 novos acusados no processo norte-americano; assim como foi revelado mais tarde. Pelo meio, ficaram a conhecer-se as conclusões da reunião do CE da FIFA, bem com a reação oficial do organismo.

As conclusões da reunião do CE foram aprovadas por unanimidade. As reformas devem incidir, entre outros temas, no limite de mandatos, na separação de poderes (entre quem dirige e quem gere), na independência e eficácia dos comités, nos controlos de integridade dos seus membros, ou na transparência pela maior diversidade nos representantes da atividade.

Mas o relatório foi produzido para ser sujeito à aprovação dos 209 delegados no próximo congresso da FIFA (também este eletivo) em fevereiro do próximo ano. O Comité de Ética do organismo, entretanto, tem prometido não ficar parado e suspendeu o presidente Blatter, bem como o «vice» (e presidente da UEFA), Michel Platini, e o secretário geral Jérôme Valck – até janeiro do próximo ano



Jeffrey Webb (vice-presidente da FIFA e presidente da Concacaf até ser detido em 27 maio), Amos Adamu (ex-membro do CE), Eugenio Figueredo (ex-presidente da Conmebol), Nicolás Leoz (ex-presidente da Conmebol) e Ricardo Teixeira (antigo presidente da confederação brasileira) também são alvos de investigações da FIFA.

O nepalês Ganesh Thapa (vice-presidente da Confederação Asiática de Futebol) foi banido por dez anos, Viphet Sihachakr (presidente da federação do Laos) foi suspenso por dois, Worawi Makudi (presidente da federação da Tailândia) foi suspenso por 90 dias, assim como o seu «vice» e presidente da federação espanhola, Ángel Maria Villar, foi multado no processo de investigação das atribuições dos Campeonatos do Mundo.

O organismo vai ficando desfalcado – é atualmente presidido de forma interina pelo desconhecido camaronês Issa Hayatou – à medida que vão rolando cabeças, mas a guilhotina da Justiça dos EUA tem funcionado com outra rapidez. Como mostram os pedidos para mais duas detenções feitas nesta quinta-feira pelas autoridades suíças: o hondurenho Alfredo Hawit (presidente da Conmebol) e o paraguaio Juan Ángel Napout (presidente da Concacaf); ambos «vice» do organismo.
 


O Departamento de Justiça dos EUA revelou nesta quinta-feira a constituição de mais 16 arguidos. Além dos presidentes das confederações americanas, são indiciados os seguintes 14 responsáveis:

Ariel Alvarado (da federação do Panamá e membro do Comité Disciplinar da FIFA);
Rafael Callejas (antigo presidente das Honduras e membro do Comité de Marketing e Televisão da FIFA);
Brayan Jiménez (presidente da federação da Guatemala e membro do Comité da FIFA para o Fair Play e Responsabilidade Social);
Héctor Trujillo (secretário geral da federação da Guatemala e juiz do Tribunal Constitucional da Guatemala);
Rafael Salguero (antigo presidente da federação da Guatemala);
Reynaldo Vasquez (antigo presidente da federação de El Salvador);
Manuel Burga (antigo presidente da federação do Peru e membro do Comité de Desenvolvimento da FIFA);
Carlos Chávez (tesoureiro da Conmebol);
Luis Chiriboga (presidente da federação do Equador e membro do Comité executivo da Conmebol);
Maco Polo del Nero (presidente da confederação brasileira – cargo que suspendeu nesta quinta-feira quando também já tinha também renunciado há uma semana ao CE da FIFA);
Eduardo Deluca (antigo secretário geral da Conmebol);
Romer Osuna (membro do Comité de Auditorias e Observância da FIFA);
José Luis Meiszner (secretário geral da Conmebol);
Ricardo Teixeira (antigo presidente da CBF e membro do CE da FIFA).



A procuradora geral dos EUA, Loretta Lynch, revelou também que já há mais oito arguidos condenados pela justiça norte-americana (a juntar aos primeiros seis) sendo que cinco daqueles não eram conhecidos do público:

Zorana Danis (dona da International Soccer Martketing);
Fabio Tordin (antigo CEO da Traffic Sports USA);
Luis Bedoya (membro do CE da FIFA, «vice» da Conmebol e presidente da federação da Colômbia, cargo do qual se demitiu no mês passado);
Roger Huguet (CEO da Media World);
Sergio Jardue («vice» da Conmebol e, até ao mês passado, presidente da federação do Chile).

Os três já conhecidos que confessaram os crimes de que foram acusados nos Estados Unidos são Alejandro Burzaco, Jeffrey Webb e José Marguiles. Vários de todos os já condenados fecharam a acusação com a o pagamento de verbas avultadas, algumas nas ordem dos milhões de dólares.

Loretta Lynch adiantou que os 14 arguidos já condenados pelo desencadear da investigação do Departamento de Justiça dos EUA pagaram mais de 190 milhões de dólares (cerca de 174 milhões de euros). Nesta altura, a procuradoria de Nova Iorque já indiciou 41 pessoas.