Gente e mais gente. Homens, mulheres, muitas mulheres, mais homens, meninos, meninas, um idoso, dois idosos, um grupo de adolescentes, mais idosos... o passeio marítimo da Corunha parecia não poder levar nem mais uma agulha. Faltavam três horas para começar o jogo e a cidade vestia-se de branco e azul da cabeça aos pés. E gritava, gritava muito. «Depor, depor, depor». E cantava. «Viver na Corunha que bonito é», «Yo te quero dar algo de corazón».
Um ambiente de fazer subir as batidas cardíacas, uma longa procissão que esperava apenas o passar dos autocarros para apoiar e para vaiar. Vaiar muito. O Real Madrid claro. E Figo, principalmente. Quando os merengues chegaram ao estádio voaram todo o tipo de objectos. E soaram muito altos as gargantas merengues. Uma garrafa de cerveja rebentou mesmo ao lado de Florentino Perez. A histeria parecia ter ultrapassado o extremo. Pura ilusão. Faltava assistir ao o jogo.
Porque aquele estádio mete medo. Completamente cheio mete medo. São apenas 35 mil pessoas, mas são 35 mil pessoas erguidas em cima do relvado, levando cada qual uma corda vocal muita parecida à do Pavarotti. Uma bola recuperada, um início de ataque, uma fuga pela lateral, tudo justifica gritos ensurdecedores. Um canto, então, é razão para colocar o estádio a tremer de tantos saltos. Os primeiros minutos, acreditem, vão ser difíceis. O ambiente é de extrema loucura.
É nesses primeiros minutos, contudo, que pode estar a chave da final. Porque se o F.C. Porto aguentar, se conseguir jogar a bola longe da sua área, se deixar o Corunha sem futebol nos pés, as probabilidades ficam equilibradas. O Real Madrid não o conseguiu, não teve tranquilidade para segurar o jogo, quis desenvolver imediatos contra-ataques e isso prejudicou-o. Os adeptos, que sofrem muito o clube, não tiveram tempo para se irritar ao ver os seus jogadores correr atrás da bola.
Resta ao F.C. Porto, portanto, ter nervos de aço. Porque se isto é apenas um ensaio, então não queremos ver a peça.