José Couceiro, treinador do V. Setúbal, esteve largos minutos no auditório do Estádio do Dragão a falar com os jornalistas, analisando o empate da sua equipa frente ao FC Porto.

Técnico que chegou a passar pelo clube portista, Couceiro dissertou sobre as desigualdades no futebol português. A começar pela cobertura da imprensa.

«Estes jogos são diferentes, um ambiente diferente. Hoje falo nesta sala cheia de jornalistas. Por vezes em Setúbal chego a ter apenas um jornalista na sala de imprensa. Como disse, é um ambiente diferente mas a equipa soube concentrar-se naquilo que é importante, não no adversário, na arbitragem ou no público. Isso é importante para o crescimento da equipa», começou por dizer.

Mais à frente, confrontado com momentos de anti-jogo do V. Setúbal, José Couceiro admitiu que não gosta disso mas voltou a generalizar a questão.

«É sempre muito difícil, por muitos positivos que queiramos ser, que os jogadores que estão a ver que há um momento único, que não tentem controlar essas situações. Se me perguntar se gosto ou não: não gosto. Mas não acho que o jogo tenha passado por aí. Se analisarmos o jogo, há um conjunto de situações também por discutir. Nós advogamos um jogo positivo, mas sabíamos que íamos ter problemas. Não podemos pensar que vínhamos jogar ao Dragão e empurrar o FC Porto para a sua área, por exemplo.

«12 minutos de compensação? A análise ao jogo não pode ser feita apenas pelo tempo de compensação. Há outros fatores, como as questões disciplinares. Vou dar-lhe um exemplo: os meus jogadores sentem que os árbitros de Setúbal não arbitram os jogos do Vitória. Tento não fazer das arbitragens um cavalo de batalha, mas o futebol em Portugal é muito desequilibrado», prosseguiu José Couceiro.

Aqui chegados, o treinador da formação sadina foi mais longe e pintou um quadro global, uma análise ao que se passa na Liga portuguesa em contraste – considera Couceiro – com outros campeonatos europeus.

«Defrontámos um adversário que tem, se calhar, 30 vezes o nosso orçamento. Isso não há em mais lado nenhum. Não há em Inglaterra, não há na Alemanha, não há em Espanha, não há em lado nenhum. Há apenas cinco equipas em Portugal que não mudaram de treinador. O último jogo aqui do FC Porto em casa foram 7-0. É uma reflexão muito profunda que precisamos fazer. Há uma desigualdade muito grande que importa encurtar. Já estive do outro lado, sei a pressão que existe nos grandes clubes. Mas, por vezes, não temos grandes alternativas, não temos grandes soluções», rematou José Couceiro.