Esta é uma história de esperança, um relato de redenção. O crime e castigo de Xano, ex-jogador da Académica e actual atleta do Sourense. Longe da ficção, isto é a realidade de um homem que quase tudo teve e quase tudo perdeu. Do fascínio no mundo do futebol profissional, da glória vestida de negro nos trajes da Académica de Coimbra, até à queda social e moral, consubstanciada em cinco meses de detenção na Penitenciária de Coimbra.
Ao Maisfutebol, Xano contou tudo aquilo por que passou. Da ilusão à decadência, em três anos que passaram depressa demais. A começar pelos motivos que o levaram à prisão. Distúrbios com a PSP em Figueira da Foz, o furto de um tubo de gel num supermercado de Coimbra e a pena aplicada pelo juiz. Uma pena que Xano nunca chegou a cumprir: 18 mil euros e a obrigação de prestar serviço cívico nos Bombeiros Voluntários da cidade do conhecimento. A insubordinação levou-o aos calabouços. Agora surge a atormentada auto-penitência.
«Fiz muitas asneiras. Tinha o sangue muito quente e nunca pensei nas consequências. Infelizmente, vim a pagar uma factura muito cara.» Uma factura passada a alguém que chegou a não ter a noção da dimensão dos seus erros. «Pensava que era o rei do mundo. Quando era pequeno nunca tive nada e, de repente, vi-me com muito dinheiro. Tinha tudo e pensava que não precisava de ninguém.» Puro engano, como, de resto, se verá adiante.
«Tive más companhias e andava iludido», confessa Xano
As más companhias. José Viterbo e Sousa Domingues, treinador e presidente do Sourense, consideram-nas o principal motivo da perda de rumo de Xano. O atleta concorda, numa confissão tão dolorosa como sentida. «Foi complicado gerir toda aquela ilusão. Não tinha uma estrutura mental suficientemente sólida e perdi-me», salienta, por entre pausas que simbolizam a falta de mais explicações.
O presente, que é o que mais interessa a Xano, é pincelado de esperança, sobretudo quando Xano olha para os intermináveis cinco meses passados na cadeia. «Foi uma boa lição de vida. Uma lição que irei recordar para sempre. Aquilo não é para ninguém, mas ainda consegui fazer alguns amigos. Há lá pessoas decentes, humildes e de boa formação.»
Pessoas como os pais adoptivos, a tia, a namorada e o técnico José Viterbo, que nunca lhe viraram as costas. «Têm sido as pessoas mais importantes para mim nesta altura. É devido a eles que não tenho dúvidas em me considerar um homem feliz.»
Técnico e presidente do Sourense fazem a defesa incondicional do atleta
Criado por uns tios, após a separação dos pais, numa zona problemática de Coimbra, Xano teve uma infância atribulada, apesar de sempre ter sido uma pessoa «tranquila». É o próprio José Viterbo, que já o treinara ao longo de 13 anos nas camadas jovens da Académica de Coimbra, que o confessa ao Maisfutebol.
«Nunca me deu o menor problema com ele. Sempre foi um elemento muito pacato dentro dos grupos de trabalho de que fez parte. Teve uma adolescência complicada e companhias pouco recomendáveis, é verdade, mas nunca foi um delinquente. Cometeu algumas gaffes e está a tentar libertar-se definitivamente delas.»
Também Sousa Domingues, presidente do Sourense, conhece Xano há largos anos e não hesita quando chega a hora de fazer a defesa do jogador. «Conheço-o desde 1997, porque ele jogou com o meu filho nas camadas jovens da Académica. Inclusivamente, passou vários fins-de-semana em minha casa, daí que possa garantir que a imagem que dele passou, após a sua detenção, não é a imagem verdadeira», garantiu, voltando a falar do ambiente social em que o jovem sempre esteve inserido.
«Esse foi o problema dele. De resto, sempre foi um rapaz muito dócil, pacato e sossegado. Mas, quando se juntava com aquele grupinho de amigos pouco recomendáveis, fazia alguns disparates.»