Tomislav Ivkovic atende o telefone na Croácia e o seu português continua imaculado. A voz descontraída transborda de orgulho pela carreira da equipa que orienta: o Lokomotiv, de Zagreb, vai brilhando na segunda posição da Liga e tem a conquista da Taça no horizonte. «Somos a equipa mais jovem do campeonato», diz na conversa prévia, embora saiba que o tema da conversa é outro: o Croácia-Sérvia desta sexta-feira.
O embate entre as duas seleções que formavam a base da Jugoslávia, cujas cores defendeu no Euro 84 e no Mundial 90, é uma ocasião especial para Ivkovic. Também ele estará no estádio Maksimir, para ver história acontecer à sua frente. História com maiúscula? Nem por isso, atenua: «É um jogo de futebol, as pessoas deste meio gostam destes jogos e é por isso que vou. Mas não podemos vivê-los com a mesma carga de memórias e a mesma intensidade dos adeptos, se não não podíamos ser profissionais», explica.
Mesmo relativizando a sua importância, «Ivo» admite que este não é um jogo igual aos outros: «A
expectativa é muito grande, é um derbi, entre duas equipas que são da mesma escola. E tudo o que aconteceu nos últimos 20 anos dá um significado ainda mais forte ao jogo», reconhece.
Mas o homem que defendeu dois penaltis de Maradona em menos de um ano prefere centrar mais atenções no futebol jogado do que no contexto histórico: «Espero que a Croácia ganhe, é favorita, está em vantagem, mas num derbi nunca se sabe», começa por dizer, enquanto sublinha que a ansiedade, a existir, estará fora do relvado: «Os selecionadores têm tido intervenções muito calmas, estão a criar um ambiente positivo e os jogadores também. A haver tensão é nos adeptos», diz.
A inimizade histórica entre Stimac e Mihajlovic é, para Ivkovic, um ingrediente secundário que o tempo desvalorizou: «Tiveram confrontos, sim, mas nada de especial. Claro que os jornais querem aproveitar e vão buscar coisas do passado, também aqui. Há seis meses que se fala disto, desde o sorteio, mas já estamos um bocado cansados», diz.
De uma coisa o antigo guarda-redes tem a certeza, não haverá violência no estádio Maksimir, até porque as duas federações anteciparam problemas: «É impossível haver incidentes, as federações proibiram as viagens dos adeptos e o estádio só vai ter croatas. Claro que a segurança vai ser maior do que o habitual, é inevitável, mas nenhum adepto vai querer prejudicar o seu país, aqui ou lá», diz com total convicção.
Com a Croácia em boa posição para deixar a Sérvia fora da corrida (partilha a liderança do grupo com a Bélgica, a seis pontos dos sérvios), Ivkovic sublinha a confiança num futebol capaz de reinvenções permanentes: «A Croácia continua a ter uma equipa forte, há sempre qualidade e quando se pensa que vamos ter problemas, com o fim de uma geração, aparecem logo mais quatro ou cinco grandes jogadores e tudo recomeça», diz, antes da pergunta sacramental, à despedida. Não, o Sporting ainda não tem presidente. E não, ainda não se sabe quem ganha as eleições, desapontamo-lo.