Eram 1500 os portugueses no Friends Arena, mais um menos um. Portugal não usou os cerca de 5000 bilhetes que tinha disponíveis, não deu para mais. Mas valeu. Eles viveram a noite de Solna por dentro, no canto de um dos topos, no meio de um mar amarelo e azul. Fizeram parte disto. Quando, no final, os jogadores correram para a bancada para saudar os adeptos, lá naquele canto, tudo fez sentido.

Era por aqui, cá fora no estádio havia uma seta a indicar o caminho para os adeptos portugueses.


Chegaram da Suécia, de Portugal e um pouco de todo o lado. Como os cinco amigos que, a trabalhar em países diferentes da Europa, se encontraram em Colónia e viajaram juntos até Estocolmo.

Ricardo vive há vários anos em Colónia. André faz parte da vaga mais recente de emigrantes portugueses, está há dois anos em Londres, a trabalhar na linha de apoio de um banco. Viajaram sem bilhete garantido e, com a lotação esgotada há muito, no mercado negro nas imediações do estádio eles vendiam-se a 180, 200 euros, quase três vezes o preço original.

Mas não era isso que lhes ia estragar o dia. «Vale pelo passeio» e pela oportunidade de estar com os amigos, diz André. A viagem nunca seria perdida.

Outro grupo, outras histórias portuguesas. António e os amigos vieram de Gotemburgo, onde vivem e trabalham há muito. É a primeira vez que vêm. António tem 50 anos de Suécia, mas mais tempo de coração português: «O sangue é mais grosso que a água.» Compraram os bilhetes através da Federação, chegaram ao estádio pela zona reservada aos adeptos portugueses e aproveitaram o dia.



Também havia portugueses só por afinidade. Como Emil, filho de um argentino radicado na Suécia desde criança. O pai levava uma bandeira sueca, mas Emil é fã de Cristiano Ronaldo e, logo, de Portugal. E estava equipado a rigor, com a camisola 7 da seleção.



E, claro, também estavam lá os adeptos de sempre. Jorge Franco e os amigos, 14 anos a acompanhar a seleção. De Lisboa à África do Sul, onde quer que seja, não falham uma. São aquele grupo de amigos que aparecem sempre antes do jogos, com fatos feitos à medida, as cores de Portugal dos pés à cabeça. Não lhes falta nada, nem o vinho tinto.



E olho para o negócio. Enquanto responde a quem passa e grita por Ronaldo ao identificar um português tão óbvio, Jorge vende cachecóis alusivos ao jogo, meio Suécia meio Portugal.

Antes, Jorge e os amigos tinham passado pelo hotel da seleção. «Não os vimos, desta vez o ambiente é muito fechado. Mas gente não anda cá pelos jogadores, viemos cá para representar Portugal.»

Como muitos dos portugueses que foram ao estádio, começaram o dia com um passeio pelo centro da cidade da cidade e rumaram ao estádio quando a noite começou a cair. O que na Suécia acontece às 16h, 15h em Portugal.

Depois passaram o tempo nos arredores do estádio. Não há muito para fazer por ali, o Friends Arena fica numa zona de Solna em construção, rodeado de prédios a crescer e gruas. Mas o tempo passou. Tinto, fotografias, mais um copo de tinto. A manter longe os pensamentos negativos. E se Portugal não passar? «Se não passar é um pesadelo, não quero pesadelos. Já tive um pesadelo quando perdi os passaportes na África do Sul, não quero mais.»

Pronto, Portugal passa. «Nem sei se vou conseguir dormir.» Difícil, entre a adrenalina do estádio e os planos para o Brasil. Sim, já está tudo previsto. O projeto ainda estava só na cabeça, agora passa à prática. Desta vez Jorge, que gere uma residencial em Palmela, vai tentar tirar seis meses de férias e fazer a aventura de bicicleta. O plano é ir para o Brasil normalmente, de avião. Uma vez lá, fazer os 12 estádios do Mundial a pedalar. Haja pernas, para Jorge e para a seleção.