Cunha Leal diz que se sentia um «corpo estranho» na Liga de Clubes numa entrevista à SIC Notícias em que explicou as razões que o levaram a apresentar a sua demissão da direcção executiva. O dirigente considera que a suas funções tinham sido «usurpadas» e que existiam um «conjunto de situações anómalas» que tornaram impossível a sua continuidade no órgão presidido por Valentim Loureiro.
«Enviei um fax ao presidente da Liga dando-lhe nota de um conjunto de posições que estranhava. Estava a haver uma usurpação de funções, havia um conjunto de situações anómalas em que estava a ser discriminado. Estava impedido de exercer responsavelmente as minhas funções. Assim restou-me demitir-me», começou por contar. O antigo director executivo referiu que já não era tido nem achado na Liga e que chegaram a ser marcadas reuniões e assinados comunicados da direcção executiva nas suas costas. «Era um corpo estranho, não posso permitir que isso aconteça», acrescentou.
A polémica relação com Valentim Loureiro acentuou-se com «caso Mateus». O presidente da Liga diz que, na altura, não teve conhecimento dos factos, relegando as responsabilidades em Cunha Leal que, por sua vez, acusou o presidente da Liga de estar a mentir. «O senhor Major mente sem pudor nenhum. Como é possível dizer que não teve conhecimento de nada quando os documentos foram publicados no site oficial da Liga. Foi publicado um comunicado oficial de 3 de Fevereiro. Parece que foi o último português a saber do caso Mateus. Tudo foi discutido e falado, parece que foi o último cidadão dos PALOP a saber. É estranho porque ele diz saber tudo e todos os faxes da Liga vão para casa do major», contou.
Cunha Leal defende que procurou sempre exercer as suas funções de forma leal e diz que tem «noções de ética» diferentes das de Valentim Loureiro. «A magistratura de influências é uma forma errada de estar na Liga. Comigo, acabaram-se os empréstimos, essa foi uma luta que travei contra o senhor Major. Quando disse que ele devia demitir-se é porque ele é o responsável por esta situação. Temos noções de ética diferentes. Uma pessoa pode ser frontal, não tem de ser servil. Tenho direito a opinião e expressei-a», destacou.
O antigo director executivo defende que a Liga deveria ter tomado uma posição própria em relação ao caso Mateus, dizer quem ficava no primeiro escalão e invocar o interesse público para que os campeonatos se pudessem iniciar com normalidade. «A Liga tinha de dizer quem é que está na Liga, tem que tomar uma posição. Depois tem que invocar o interesse público autonomamente», referiu.
Cunha Leal lamentou ainda não ter podido ficar até à tomada de posse da nova direcção, mas defende que a actual situação era insustentável. «O meu mandato foi cumprido até ao fim. Não entendo porque é que não foi. A minha decisão foi estritamente pessoal, só a contei a amigos e familiares. Optei por ficar até ao fim, mas criaram uma situação que é impossível. Não posso estar sentado no meu gabinete e a comissão executiva estar a tomar decisões nas minhas costas. Sinto que fui invadido intoleravelmente na minha esfera de influência. Não fujo das minhas responsabilidades, quero é que eles assumam as deles», acrescentou.