O Benfica prestou a desejada homenagem a Bento, completando um ciclo de dez jogos sem saborear o travo amargo da derrota. Não houve sangue, mas sobraram as lágrimas pela referência que partiu e o suor nas camisolas para depenar um D. Aves bem menos condescendente, farto de segurar a «lanterna vermelha» da Liga 2006/07. A formação encarnada teve de esperar uma hora para ultrapassar a barreira psicológica dos resultados negativos no Norte do país. Ao quinto jogo para lá do Rio Mondego, a primeira vitória, nos pés de Nuno Gomes (segundo golo consecutivo, o sexto da temporada).
Fernando Santos começou pelo fim. Utilizou a fórmula habitual para situações desfavoráveis, quando o tempo escasseia e o resultado é adverso. Lançou para a batalha todo o arsenal ofensivo e dispersou-o pelo relvado em posições estratégias para atirar às Aves. Quebrar o jogo desde o apito inicial foi uma atitude louvável, frente a um adversário com historial de fileiras cerradas, mas a táctica avalia-se pela consequente dinâmica e nesse aspecto, o Benfica perdeu parte do seu tempo à procura do encaixe ergonómico de peças com formas semelhantes. Katsouranis e Derlei foram corpos estranhos nas respectivas posições.
Já não há bombo da festa?
No outro lado da barricada, um Desportivo das Aves disposto a afastar a imagem de «bombo da festa» da Liga 2006/07. O empate na deslocação a Alvalade teve sequência na ambição apresentada frente a outro candidato ao título. Na reabertura do mercado, Neca recebeu unidades com algum crédito no futebol português (Nuno Espírito Santo, Jorge Ribeiro ou Paulo Sérgio) e aumentou o leque de soluções ofensivas, por forma a colmatar a maior lacuna da equipa: o D. Aves tem o pior ataque da competição, a par do V. Setúbal, com 11 golos marcados.
A zona central do relvado foi terra de ninguém, ao longo da etapa inicial, com as duas equipas a prescindirem de estímulos cerebrais para dividirem o jogo em correrias pelos flancos. No meio desta inquietude, Karagounis não resistiu a mexer ligeiramente o braço, que estava pousado no chão, para desviar a bola tocada por Mércio, provocando um castigo máximo que Hernâni não conseguiu converter (36m). Quim fez uma homenagem pessoal ao malogrado Bento, esticando-se ao melhor estilo de um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre para segurar o nulo.
Mais carne? Já está toda no assador!
Fernando Santos partiu para a etapa complementar com a mesma estrutura e, confrontado com o zero redondo no marcador, limitou-se a rodar toda a carne que já estava no assador. O D. Aves, o Aves ousado e empreendedor, tinha perdido as asas logo após a grande penalidade desperdiçada por Hernâni. Reduziu-se à sua aflição e limitou-se a fugir do seu destino enquanto foi protegido pelo Espírito Santo. Nuno brilhou ao sacudir um remate venenoso de Nuno Gomes mas, logo depois, deixou a felicidade escapar por debaixo do corpo. Incursão de Nélson pelo flanco direito, concluída com um centro rasteiro que apanhou o ponta-de-lança encarnado em zona de finalização (59m).
A equipa da casa estava em cheque com a desvantagem no marcador e sofreu o cheque-mate quando a diferença numérica arrastou-se para as unidades em jogo. Sérgio Nunes viu a segunda cartolina por mão na bola (65m), permitindo ao Benfica encarar a última meia-hora como uma contingência do calendário, com Paris na linha do horizonte. A sobranceira ainda provocou alguns sobressaltos, mas sem consequências práticas. As celebrações do 103º aniversário encontraram reflexos na vertente desportiva.