O Benfica organizou o seminário nacional «Da formação à alta competição» e muitos foram os que aceitaram a chamada. Os serviços encarnados receberam mais de 500 pedidos de inscrição, mas só 326 foram aceites, sendo que cinco por cento das inscrições pertenceram a mulheres. Este é um factor demonstrativo de que as mentalidades estão a mudar e há necessidade de trocar experiências e expor ideias. Foi isso que fizeram Carlos Carvalhal, treinador do Belenenses, Nuno Guia, supervisor do departamento juvenil do V. Setúbal, João Paulo Costa, treinador dos iniciados do Benfica, e José Couceiro, treinador do V. Setúbal, na discussão do painel da manhã, já que a tarde ficou reservada para a psicologia no desporto.
Carlos Carvalhal trouxe à discussão o tema: A Coerência entre o exercício de treino e o modelo de jogo adoptado (periodização táctica). O técnico tentou diferenciar métodos clássicos de novos métodos de treino, não defendendo um em detrimento de outro, limitando-se a explicar porque usa técnicas que considera mais producentes, quebrando com a antiga escola cujo princípio defendido assenta na ideia de a «equipa deve estar bem fisicamente», sendo a pré-temporada a altura mais importante de toda a época e «transportando a ideia de que não é possível manter a forma durante a temporada, originando picos de forma».
Para Carvalhal existem «vários futebóis», tendo em conta quem treina e os seus hábitos e ideias. O treinador apontou que a ideia de jogo de cada técnico «é utópica» porque nunca se pode dizer que a equipa está a jogar como quer. «O treino é o meio de chegar à forma de jogar, devemos treinar princípios e não exercícios, já que estes são uma forma de chegar aos princípios», disse. Acrescentou ainda que «o pressuposto não é físico, mas sim de como se vai jogar». Carvalhal considera que «a ideia principal é o aspecto táctico, porque arrasta outras componentes», lembrando que esta linha de pensamento não considera a pré-temporada fundamental, apesar de importante, «porque não suporta toda a época desportiva, já que esse processo é contínuo».
Nuno Guia debruçou-se sobre a Grécia e estudou a equipa campeã europeia, tentando encontrar segredos para o seu sucesso. Basicamente, os gregos são muito fortes física e psicologicamente; quase inultrapassáveis no um para um; pouparam-se no envolvimento ofensivo para investir no defensivo; estiveram sempre atentos, concentrados, confiantes e sem medo; não houve alternância de flanco, por isso, não correram riscos; o jogo só se lateralizou na direita, porque Seitaridis participou nas jogadas ofensivas. Deixou então a questão: «Como ganhar à Grécia? Muitos tentaram... na melhor das hipóteses, temos de perguntar à Rússia.»
João Paulo Costa tentou alertar para o facto de ser um «erro pensar que treinar jovens é o mesmo que treinar adultos». O técnico alertou para o facto de muitos dos miúdos sonharem ser jogadores de alta competição e outros serem pressionados a isso pelas famílias, que vêem neles um «tesouro», valorizando mais o rendimento desportivo que o intelectual. João Paulo Costa não deixou de lamentar que, em relação aos clubes, continuem a existir «dificuldades de compatibilidade com os horários escolares» e que a maioria das infra-estruturas não esteja «adaptada às características morfológico-funcionais» dos jovens atletas.