É uma história triste, muito parecida com outras existentes no futebol. A história da estrela de futebol caída em desgraça, que não conseguiu poupar o muito dinheiro ganho durante a carreira para enfrentar a vida com conforto e sem provações. Perivaldo da Pituba é um sem-abrigo de Lisboa, cheio de recordações, boa disposição e momentos passados nos relvados brasileiros ao lado de Zico, Sócrates e Falcão.

A figura até é conhecida para quem frequenta a Feira da Ladra, a Praça do Rossio ou a Praça da Figueira, bem no coração da capital. Perivaldo Lúcio Dantas é um entre tantos para o transeunte apressado, mas mal a reportagem da TV Globo mostrou as imagens no seu país de origem levantou-se uma onda de comoção no Brasil, nomeadamente entre aqueles que se recordam de o ver jogar.



A reportagem foi para o ar no «Fantástico», o programa de maior audiência da televisão brasileiro no domingo à noite. Muitos milhões de brasileiros viram Perivaldo a remexer o lixo, a dormir na rua, a vender roupa usada na Feira. A degradação humana aos 60 anos, sem perspetiva de vida, longe do seu país e da sua família.

Peri da Pituba, como era conhecido dentro dos relvados, brilhou no final da década de 70 e início de 80. Destacou-se no Bahia, deu o salto para o Botafogo e ainda jogou no Palmeiras de Telê Santana, o que o catapultou para a seleção em 1981, onde jogou ao lado de Falcão, Júnior, Zico e Sócrates. Foi internacional brasileiro por três vezes (Espanha, Irlanda e Checoslováquia), mas falhou o Mundial de 82. Deixaria o futebol poucos anos depois, afetado por lesões e viajou para Portugal em 1989, depois de passagem pela Ásia.

No auge da carreira teve tudo a que tinha direito: relógios Rolex, jóias e uma casa de luxo. Desperdiçou tudo, ficou sem nada e longe da família. «Em 1992, trabalhava como cozinheiro em Porto Santo, ganhava um dinheiro bom naquela época, uns 4 mil dólares por mês. Mas conheci uma pessoa em Lisboa, uma portuguesa, que nem vale a pena falar, dos Olivais sul, larguei tudo por ela», contou à Globo.  Diz sentir saudades da esposa brasileira, dos filhos (que diz ter muitos) e dos netos. Mas ninguém sabia que ele vivia assim. Em entrevista a uma rádio da Baía, o irmão Pedro confessou que não vê Perivaldo há 20 anos e ficou chocado com a reportagem: «Neste tempo todo só falámos por telefone, a última vez há quatro meses, mas ele disse que estava bem».

Há um ano, o programa «Cinco para a meia noite», da RTP, encontrou o ex-internacional brasileiro, mas vendeu a história como uma piada. Quase como um gozo.



Hoje, depois da reportagem da TV Globo, surgem sinais de esperança para Peri. Marcelo, um dos seus filhos, já disse que vai viajar para Portugal na próxima segunda-feira e pretende regressar ao Brasil com o seu pai. «O desejo dele é morar no Rio de Janeiro», disse em entrevista ao jornal «A Tarde», acrescentando que esteve em Lisboa há pouco tempo e não viu o pai nas condições agora reveladas: «É triste, é duro. Quando vi a reportagem na televisão chorei muito. Encontrei-o há pouco tempo, quando passei por Portugal. Ele não estava assim».

Também o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol do Rio de Janeiro mostrou disponibilidade para ajudar Peri. «Conversei com ele por telefone e disse-se que quer voltar para o Brasil. Também conversei com os seus familiares. Um filho disse-me que quer ir a Portugal para conversar com ele. Eu disponho-me a ir com ele para saber o que será feito. A ideia é que, decidido o seu regresso, o Sindicato viabilize a viagem de volta», disse o presidente Alfredo Sampaio ao jornal «Lance».

Uma história à espera de final feliz.