Em tempo de Brasil-Portugal, partimos em busca de emigrantes lusos que inverteram o fluxo de importação-exportação no futebol dos dois países e tentaram a sua sorte nos relvados canarinhos. Encontrámos apenas uma dezena de exemplares, ou seja, qualquer coisa como a média de jogadores brasileiros em cada plantel dos clubes portugueses.
Paulo Madeira e Dominguez são exemplos recentes e conhecidos, mas tiveram passagens efémeras pelo Brasileirão.
Entre os dez jogadores que pisaram os relvados do outro lado do Atlântico, sobram poucas histórias de sucesso e alguns episódios de descrença em relação ao valor luso.
Jacinto João, o famoso JJ, deixou saudades na Portuguesa dos Desportos e Fernando Peres também marcou pontos no Vasco da Gama e no Sport de Recife, mas o jogador português mais acarinhado no Brasil terá sido, pelos registos históricos, Fernando Augusto.
Fernando Augusto trocou Trás-os-Montes por Terras de Vera Cruz. Filho de emigrantes portugueses no país, passou pelos juvenis do Botafogo e jogou nas equipas principais de Bangu, Ferroviário e Vasco da Gama. Quando pendurou as chuteiras, integrou a equipa técnica do Vasco e seguiu para os escalões de formação do Paraná Clube. Aos 73 anos, continua a morar em Curitiba, mantendo a colaboração com o Paraná. Fernando Augusto conquistou respeito e admiração do outro lado do Atlântico, estando indicado para receber o Prémio de Mérito Desportivo da Câmara Municipal de Curitiba.
Recordações pouco felizes
Entre os relatos canarinhos, surgem exemplos de apostas pouco felizes em jogadores portugueses. Jorge Silva e Rogério de Carvalho, entre outros, foram alvo de duras críticas.
Jorge Silva ainda hoje é recordado pelos adeptos do Vitória da Bahia, sendo apontado como um erro de casting tremendo. O médio português esteve a treinar no clube em 1997, esperou três meses para ver a sua inscrição regularizada mas foi utilizado em apenas um jogo amigável, antes de terminar a sua aventura. Os adeptos brasileiros dizem que Jorge Silva só esteve na Bahia para comer, beber e dormir, mas as responsabilidades são apontadas aos dirigentes do Vitória.
Rogério de Carvalho, o «Pipi» que brilhou no Benfica e na selecção nacional durante a década de 40, também foi enxovalhado na sua passagem pelo futebol brasileiro. Em 1947, o extremo português assinou pelo Botafogo, mas o sonho esfumou-se rapidamente. No livro «Botafogo, entre o céu e o inferno», o autor atira-se a Rogério: «Ou deu muito azar, ou de facto era um bonde. Pé-frio era, sem dúvida. Consta que em outra partida pelo Campeonato Carioca daquele ano, atrapalhou-se com as próprias pernas e saiu com bola e tudo pela linha de fundo. Heleno, aos berros, proibiu-o de voltar ao campo.»
Portugueses no futebol brasileiro:
Paulo Madeira: jogou no Fluminense em 2003
Fernando Peres: jogou no Vasco da Gama em 1974 e no Sport Recife em 1975
José Dominguez: jogou no Vasco da Gama em 2005
Lito: jogou no Vasco da Gama em 1979
Rui Carneiro: jogou no Vitória da Bahia em 1940
Jorge Silva: fez um amigável pelo Vitória da Bahia em 1997
Rogério de Carvalho: jogou no Botafogo em 1947
Jacinto João: jogou na Portuguesa em 1975 e 1976
Fernando Augusto: jogou pelo Bangu em 1955, pelo Ferroviário de 1956 a 1966 e no Vasco da Gama de 1966 até 1968