Helena Costa, Henrique Calisto e Mariano Barreto sentaram-se à mesa e procuraram lançar a discussão sobre o que deve ser um diretor desportivo, as funções e competências subjacentes ao cargo e as restrições culturais existentes para o desenvolvimento dessa profissão no futebol português. Foi no segundo e último dia da VI edição do Fórum Treinador Futebol e Futsal, em Gondomar, num debate sobre o treinador no papel de Manager/Diretor Desportivo.

Há quem defenda que o papel de ‘manager’ deve ser assumido por um treinador. É este último princípio enumerado o assumido de forma peremptória por Henrique Calisto. Para o antigo treinador do Paços de Ferreira, o papel de diretor desportivo deve ser desempenhado por um treinador.

«Se um diretor desportivo fosse alguém que foi treinador, não haveria tantas ‘chicotadas’ em Portugal». E, comparando com as outras áreas, a explicação torna-se simples: «conhecem alguém que domine um departamento de marketing e que não seja um marketeer?», justificou o treinador de 63 anos, lançando o debate à plateia que compunha o Pavilhão Multiusos em Gondomar.

De acordo com Henrique Calisto, considerar o diretor desportivo ‘a ponte’ de ligação entre a direção e a equipa técnica é «redutor».

«O diretor desportivo deve ser protagonista na visão do processo desportivo de êxito. Em conjunto com o treinador, visa alcançar o sucesso e potencializar individualmente os jogadores.»

A mesma classe, posições antagónicas

Por sua vez, Mariano Barreto assume uma posição antagónica, em comparação com Calisto. O treinador de 60 anos considera que um diretor desportivo que tenha sido treinador pode provocar um certo desconforto no técnico principal.

«Por vezes, o treinador não tem a confiança no diretor desportivo que tenha sido treinador. Em vez de partilhar e colaborar com ele em prol de objetivos comuns, preocupa-se em não ser ultrapassado pelo próprio diretor desportivo para o cargo de treinador», afirmou.

A linha de raciocínio de Mariano Barreto conjuga-se com o pensamento da treinadora Helena Costa. Para a jovem técnica, um diretor desportivo que tenha sido treinador acaba por «funcionar como uma sombra do próprio treinador, visto que há um limite ténue que separa as duas funções.»

O treinador no papel de diretor desportivo: Um problema cultural

Culturas diferentes originam ideias diferentes, julga Helena Costa, que deu o exemplo de Inglaterra, país no qual o treinador assume o papel de ‘manager’, tendo Alex Ferguson como exponente máximo dessa função.

Mariano Barreto, antigo selecionador da Etiópia, garante que isso acontece, inclusive com o treinador português quando se depara com condições diferentes a nível de estrutura dos clubes, em comparação com aquelas que existem em Portugal.

«Quando estás numa seleção além de orientares o treino, tens que marcar estágios, tens que saber para que hotéis tens que ir. Ao mesmo tempo ter conhecimento se os campos à volta do hotel tem as condições ideias para treinar, ter atenção os voos tem três ou quatro escalas é a função do treinador. E o curso de treinadores não te ensina isso», salientou.

Mudar estigmas

O debate originou a questão: É possível que em Portugal, um treinador assuma o papel de diretor desportivo?

«É preciso transmitir a mensagem de uma forma positiva. E acima de tudo, fazer acreditar que o papel de diretor desportivo não é um ‘tacho’ mas pelo contrário, é uma necessidade hoje em dia. Não é uma oportunidade para nós, é um direito que nos assiste porque temos competência para tal», defendeu Henrique Calisto.

Por seu lado, Manuel Machado, participante no debate, corroborou a opinião defendida por Henrique Calisto. Essa necessidade existe, mas para o antigo treinador do Arouca, o caminho é ainda longo.

«Parece-me ser possível [mudar mentalidade]. Considero que o caminho é dar maior abrangência de funções ao treinador, tornando-o diretor desportivo. Dentro do que é a nossa realidade parece-me ser o caminho possível», frisou.