Depois do Adeus é uma rubrica dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? O dinheiro ganho ao longo dos anos chega para subsistir? Confira os testemunhos, de forma regular.

Trocou o equipamento de futebol pelo fato. João Paulo Brito, antigo avançado, que se notabilizou no Belenenses, é mediador imobiliário.

Os tempos em que marcava golos ficaram lá para trás, mas a sua carreira de futebolista continua a acompanhá-lo, como uma sombra. Há sempre quem se lembre de tê-lo visto jogar: «Acontece várias vezes. No início era mais frequente, mas ainda acontece muito, porque as pessoas se lembram de mim no Belenenses. Acaba por ser uma mais-valia, serve para quebrar o gelo.»

E até já foi surpreendido: «Um cliente apareceu na loja para visitas e levava uma fotografia minha emoldurada, com os clubes por onde tinha passado.»

João Paulo Brito representou o Belenenses entre 1997 e 2001, seguiu-se uma época no Estrela da Amadora e depois rumou ao estrangeiro. Passou duas temporadas no CSKA Sofia. Em 2004/05, voltou a Portugal para representar o V. Setúbal, mas não ficou muito tempo. Nessa época, ingressou no Kastoria, da Grécia.

O final da carreira chegou aos 33 anos, depois de uma passagem pelo Jahn Regensburg, da Alemanha, entre 2005 e 2007: «Foi uma decisão difícil, mas os convites que me chegaram não eram aliciantes. Tinha de ser. Teria de separar-me novamente da minha família. Tinha colegas que já estavam retirados e recolhi muitas informações junto deles. Achei que não valia a pena adiar o inevitável. Houve a possibilidade de terminar em Portugal. Tive convites da I Liga, mas as deslocações e as condições financeiras oferecidas inviabilizaram essa hipótese.»

O fim de um ciclo deixa sempre marcas, mas João Paulo Brito parece focado em ver sempre o lado positivo das coisas: «Quando se decide terminar, existe o sentimento de que se está a terminar algo que ainda poderia continuar. Parece que se poderia ter feito algo mais. Fica um vazio. Mas existe também a possibilidade de agarrar novos projetos. Sempre abracei com entusiasmo novos desafios. Uma coisa tapou um pouco a outra, de certa forma.»

No ramo imobiliário por influência de outro ex-jogador

A oportunidade de iniciar uma nova carreira, longe dos relvados, chegou-lhe pela mão de outro ex-jogador do Belenenses, no final de 2007, contou ao Maisfutebol: «Fui parar ao ramo imobiliário através do Carrasqueira, que também já se tinha retirado e me disse que era emocionante e bom.»

Trabalhar numa área completamente diferente da sua não o intimidou. João Paulo Brito garante que se adaptou rapidamente à nova realidade: «Havia muito para aprender, mas eu tinha vontade de aprender. Era estimulante. A adaptação não foi difícil. O que foi difícil foi adquirir ritmo e atingir um patamar como o que me encontro.»

O futebol faz mover muito dinheiro e muitos jogadores recebem salários milionários. Mas nem todos alcançam esse patamar: «Não se ganha muito dinheiro. Alguns ganham bom dinheiro, agora se é muito já é relativo. Quem ganha mais são algumas entidades ligadas ao futebol. O jogador não ganha muito, ganha o que é justo, pelo que faz. O artista é que deveria ganhar mais, mas acabam por ser outras entidades, que muitas vezes pouco fazem pela modalidade, que ganham mais.»

Apesar da crise, «ainda se pode ganhar bom dinheiro» no ramo imobiliário, aponta. «Fazem-se menos transações», reconhece João Paulo Brito, mas o negócio não para: «Não tenho uma vida abastada, mas tenho um nível de vida que me permite fazer o meu dia a dia e proporcionar as melhores condições aos meus dois filhos.»

Continua a vestir a camisola do Belenenses

Não dedica muito tempo ao desporto, admite, mas não deixa de matar saudades do futebol sempre que pode: «Jogo na equipa de veteranos do Belenenses, mas não é uma prática tão regular quanto gostaria.»

Dos tempos de jogador, nunca esquecerá a «estreia na Bulgária» e explica porquê: «Tinha o estádio todo a gritar o meu nome. 20 e tal mil adeptos. Foi espetacular.»

Agora já não traça objetivos para uma temporada nem pensa em quantos golos vai marcar. As metas são outras, mas «os objetivos estão traçados desde o início». «Penso: este ano vou fazer não sei quantas transações», diz João Paulo Brito.