Depois do Adeus será uma rubrica do Maisfutebol dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? O dinheiro ganho ao longo dos anos chega para subsistir? Confira os testemunhos, de forma regular, no Maisfutebol.

José Soares foi Campeão da Europa de sub-18, esteve no Mundial do Qatar e esteve vinculado ao Befica durante várias temporadas. Chegou mesmo a jogar com a camisola encarnada, como titular, entre vários períodos de empréstimo.

José Soares: «Cansei-me, só me falavam do Jardel»

Aos 37 anos, o antigo defesa-central deixa o futebol para trás das costas e agarra-se a uma nova paixão: a moda. José Soares, que terminou a carreira no Badajoz em 2010, tirou um curso profissional em Espanha, após ter sido desafiado pelo dono de uma agência, e achou piada.

«Estava certa noite numa discoteca em Espanha e o dono de uma agência falou comigo, disse-me que teria sucesso. Fui a um casting um pouco contrariado mas acharam o mesmo. Então, acabei por tirar um curso profissional de modelo, para aprender a desfilar e isso. Estou completamente apaixonado», resume o ex-jogador, em entrevista ao Maisfutebol.

Fotografias em Portugal, com ousadia à mistura, e vários desfiles do outro lado da fronteira. «Os meus amigos gozaram muito e só me diziam: deixa-te disso, não é para ti. Mas tem corrido bem. Não ganho a vida assim mas é algo que me dá prazer.»

O trabalho no campo e a Treze

José Soares cresceu em Elvas e continua a passar grande parte do seu tempo no Alentejo. Sem qualquer complexo, admite que já fez de tudo um pouco para ir subsistindo.

«O futebol é um vício bom mas quando acaba os jogadores ficam no vazio, desorientados. Alguns ganharam fortunas, a maior parte não e poucos sabem o que fazer. Eu nunca fui rico, nunca fui craque e sei que não posso viver só do que ganhei no futebol.»

Se for preciso trabalhar no campo, ele não foge a isso. «Aliás, já o fiz. Tenho amigos que têm empresas de agricultura e convidam-me. Pagam-me como um trabalhador normal e lá vou eu, uma, duas semanas. Sem problema. Muitos têm vergonha de fazer estas coisas, mas eu não.»

«Tenho um filho, que está nos Estados Unidos, e quero dar-lhe o melhor. Vou fazendo o que surgir, sempre à espera que surjam novos desafios. Agora, estou envolvido com a Treze, uma empresa do Marco e onde está envolvido também o Jorge Andrade. Estivemos agora num evento na Mortágua, agora haverá outro no Algarve e posso já adiantar que haverá também aqui no Alentejo.»

Tenta exportar vinhos mas não bebe álcool

As presenças em eventos também garantem algum rendimento extra. Anda pela noite, algo que não podia fazer enquanto profissional do futebol, mas não se perde.

«Quem vê deve achar: este boneco é só festas. Mas não é isso, aliás nem bebo álcool, nunca gostei. Aproveito um pouco a liberdade porque comecei muito cedo, demasiado cedo, a encarar a vida como um profissional.»

José Soares recorda o passado. «Aos 14 anos, já estava no centro de estágio do Benfica. Ainda sem contrato profissional mas já a encarar a vida como um, com os horários, as regras, tudo o mais. Claro que há coisas que se perdem por causa disso.»

O central não bebe mas sabe apreciar. O desafio mais recente passa pela exportação de azeite e vinho. «É algo recente, não é fácil entrar nesse mundo, mas já tenho exportado vinho do alto Alentejo, vinho do baixo Alentejo, azeite menos. Estou na luta, tem de ser, que isto está cada vez mais complicado», remata.