Depois do Adeus é uma rubrica do Maisfutebol dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? O dinheiro ganho ao longo dos anos chega para subsistir? Confira os testemunhos, de forma regular, no Maisfutebol.

Ivo Oliveira esteve apenas numa temporada no escalão principal do nosso futebol e, talvez por isso, encolhe os ombros e diz que teve uma carreira «mediana» Mas faz as contas e emenda no final: «Foi boa.» Ficou marcado por um choque violento com Pedro Mantorras, durante a estreia num Benfica-Salgueiros (2-0), e foi perdendo as esperanças de algo mais.

Para trás ficaram os anos mais felizes e os passos seguros na formação do FC Porto. O guarda-redes projetou desde cedo uma carreira no futebol profissional.

«Estive quatro anos no FC Porto e fui por duas vezes campeão na formação. Nesse período, fui ainda internacional dos sub-15 aos sub-18, estive num Campeonato da Europa e num Campeonato do Mundo. Com 15 anos, já treinava com os seniores do FC Porto, tinha destinado ser profissional de futebol e deixei de estudar aos 16.»

Em 1998, Ivo disse adeus ao emblema portista e partiu em busca de novos desafios.

«Não quis ficar na equipa B do FC Porto e saí para o União de Lamas, para a II Liga. Estive lá dois anos e surgiu entretanto o Salgueiros. Era a minha oportunidade na Liga. Fiz o jogo de estreia à segunda jornada, em casa do Benfica, e estava a correr-me bem até ao lance com o Mantorras. Aquele lance transformou por completo a minha carreira.»


O traumatismo cranioencefálico deixaria marcas mas o guarda-redes procurou levantar-se.

«Estive três meses parado, a recuperar, e depois voltei. Ainda fiz mais de vinte jogos, entre Taça de Portugal e campeonato. No final da época, o Salgueiros acabou por descer mas ainda fui ao Campeonato da Europa de sub-21.»

Verão de 2002. O mercado agita-se e abrem-se boas possibilidades para Ivo. Porém, eis um desgosto.

«Depois do Europeu, no Salgueiros não me deixaram sair para o Boavista. O Ricardo foi para o Sporting e tinha proposta do Boavista, tal como do Charlton de Inglaterra. Acabei por ficar mas mais tarde rescindi por falta de pagamentos e fui para o Estoril.»

O guardião ajuda o Estoril a conquistar o título de campeão da II Liga. O escalão principal surge novamente no horizonte mas Ivo Oliveira acabaria por sair do clube da Linha.

«O orçamento no Estoril não permitiu ficar com muitos jogadores que subiram de divisão. E assim, nunca mais joguei no campeonato nacional. Fui para o Pontassolense e depois faço uma pré-época na Alemanha, com grande hipóteses de ficar, mas por força de um empresário tal não aconteceu. Vim para o Maia, que estava na II Liga.»

Ivo farta-se da instabilidade financeira no clube maiato, a exemplo do que lhe tinha acontecido por exemplo no Salgueiros, e decide terminar a carreira profissional.

Ivo: alegria renovada a treinar guarda-redes em Gondim

«Comecei a trabalhar e fui para o Rebordosa, para a 3ª Divisão. Tive convites de clubes maiores mas já havia o receio porque tinha passado por más experiências do ponto de vista financeiro. Seguiu-se o Lousada, quando podia ter ido para a Roménia, e o Arouca, ambos na 2ª Divisão B. Ainda surge um convite para ir para a Alemanha, mas o presidente não me deixou sair.»


O guarda-redes entra na casa dos 30 e vai perdendo de vista as oportunidades tentadoras. Joga agora por prazer.

Fui para o Pedrouços e em 2011 para o Salgueiros 08, onde conseguimos a subida para a terceira divisão. Ainda me senti muito feliz nessa altura, com esse feito. Terminei a carreira na época seguinte, ao serviço do Nogueirense.»

Chegou a hora do adeus. O trabalho em outras áreas exigia a sua atenção. Ficou a satisfação por um percurso interessante nos primeiros anos da carreira.

«Foi uma carreira mediana ou boa. Não foi de grandes êxitos mas também não está ao alcance de qualquer miúdo. Fui campeão nacional na formação, pelo FC Porto, fui campeão nacional como sénior na II Liga, foi internacional dos sub-15 aos sub-21, estive num Europeu e no Mundial. Enfim, não foi de luxo, mas foi uma carreira boa, fora do alcance de muitos.»