Depois do Adeus é uma rubrica lançada no Maisfutebol em junho de 2013 e dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como subsistem aqueles que não continuam ligados ao futebol? Críticas e sugestões para valvarenga@mediacapital.pt.

Ricardo Pereira motiva um Depois do Adeus especial. Ainda na ressaca do Campeonato da Europa de 2016, em que o antigo guarda-redes foi comentador regular da SportTV na caminhada gloriosa da Seleção portuguesa, abriu-se espaço para uma conversa sobre o outro mundo: o menos conhecido, que tem ocupado o seu tempo desde que tirou definitivamente as luvas.

No final da conversa com o Maisfutebol, Ricardo promete novidades a breve prazo. Este pode nem ser um Depois do Adeus, mas um até já. De qualquer forma, mesmo que tudo mude daqui a algumas semanas, os últimos dois anos tiveram a venda de imóveis como grande prioridade.

Depois de terminar a carreira em 2014, ao serviço do Olhanense, o internacional português decidiu ficar no Algarve e envolveu-se numa área de negócios distinta. Natural do Montijo, Ricardo Pereira optou por morar em Vilamoura, pensando na sua qualidade de vida, e abriu a R1 Real Estate, uma agência imobiliária.

«A permanência no Algarve já estava pensada há algum tempo. Foi uma decisão a pensar na qualidade de vida, em ficar num sítio que adoro e relativamente tranquilo durante o ano, com a exceção dos meses de verão. O Algarve é um paraíso do nosso Portugal e sou feliz aqui.»

Num diálogo em que se privilegiou o passado recente e não as imagens que perdurarão na memória coletiva, já devidamente recordadas ao longo dos anos, Ricardo explicou igualmente a aposta no mercado imobiliário.

«Era uma área de que não tinha grandes conhecimentos, foi um desafio que surgiu por incentivo de amigos e senti-me motivado para tal. No fundo, é uma área de negócio que vive à base de relações com pessoas, de contato permanente. Gosto disso, de conhecer, de ajudar, se saber a história de outras pessoas.»

Na página oficial da empresa, devidamente associada à imagem do seu proprietário, é possível encontrar terrenos, lojas, apartamentos, moradias. De T1 a T9, de 120 mil a perto de 6 milhões de euros! Não há um foco evidente em determinado tipo de imóveis ou de compradores.

«Os primeiros anos de qualquer negócio são sempre difíceis, tenho noção disso. Somos cinco pessoas, é uma empresa praticamente familiar e sabemos que há outras marcas no mercado com argumentos com os quais é impossível combater.»

A R1 vai conquistando a sua quota de mercado sem entrar em competição direta com grandes ‘players’ como a ERA ou a REMAX.

«Está a falar de empresas que chegam a ter dez escritórios em cada cidade, seria ilógico pensar em lutar com esses. Queremos conquistar o nosso espaço, devagarinho, de forma segura. O mercado neste setor esteve parado, foi uma crise mundial, vai dando sinais de melhoria mas é sempre um risco, claro, como em qualquer área de negócio.»

«Acima de tudo, é essencial que as pessoas fiquem satisfeitas. Gosto que tudo seja feito de forma honesta e que inspire confiança, sempre foi essa a minha imagem e é essa imagem que quero manter, até porque dou a cara pela empresa. Gosto do que faço e quero que todos fiquem satisfeitos com o que fazemos por eles.»

A figura de Ricardo Pereira contribui naturalmente para a boa imagem do negócio mas, até este momento, o antigo guarda-redes ainda não fez qualquer negócio com atuais ou ex-jogadores de futebol.

«Por acaso, ainda não vendemos qualquer casa a jogadores de futebol, é um facto. Já houve alguns contactos nesse sentido mas não forço nada, é algo que irá surgir de forma natural. Comigo, as pessoas sabem com o que podem contar e quero que se sintam à vontade para me procurar quando tomarem essa decisão.»

Ricardo considera que o investimento em imóveis pode contribuir para um bom pé de meia a médio prazo.

«Há investimentos muito bons nesta área, que permitem uma rentabilidade boa para o presente e o futuro sem grande esforço. Atuamos sobretudo nesta zona do Algarve mas tenho parceiras em todo o país, em Lisboa, no Porto, conseguimos através de pessoas de confiança estar em todo o lado.»

O antigo internacional português tem ocupado grande parte do seu tempo com a imobiliária mas sobram momentos de lazer com a família e partidas ocasionais de golfe, um desporto que o cativa há vários anos.

«O golfe é um hobby, já é assim há algum tempo e estou num sítio bom para o praticar. É algo que continuarei sempre a fazer, porque adoro, mas nesta altura até tenho tido pouco tempo para tal, por causa do trabalho. Tem de ser.»

Aos 40 anos, Ricardo Pereira tem limitado a sua intervenção na área de futebol a comentários televisivos. A experiência é importante para esse papel, como seria para vários em estruturas profissionais.

«Acho que o futebol precisa de mais intervenientes diretos. Por mais que outros intervenientes tenham conhecimento, que é igualmente válido, não têm a vivência, não sabem realmente o que é estar do outro lado.»

Estará Ricardo disponível parar voltar ao futebol, com outras funções. Prefere não levantar a ponta do véu na conversa com o Maisfutebol mas fica claro que tudo pode mudar rapidamente: «A breve prazo saberão.»

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