O Portimonense não visitava o Estádio São Luís para defrontar o Farense há 10 anos. Na última vez, em 2002/2003, registou-se um empate a zero e não há recordações de grandes incidentes, comuns em jogos com a rivalidade deste. Neste domingo, na vitória do Farense por 2-1, foi mais quente.

De Portimão, no apoio ao líder da II Liga, deslocaram-se 750 adeptos, que se instalaram sem problemas num dos cantos da bancada Este do São Luís. Chegaram cerca de meia-hora antes do início do jogo e passaram por uma zona que, antes, esteve em ebulição, com uma carga policial sobre adeptos do Farense.

Com cerca de três mil adeptos nas bancadas, dentro do campo o ambiente também não foi nada tranquilo… mas entre os jogadores e as equipas técnicas das duas equipas. Principalmente perto do intervalo e depois do segundo golo do Farense. O árbitro Carlos Xistra apontou um livre próximo da área do Farense, parecendo indicar que seria contra a equipa de Faro, mas afinal, penalizava o Portimonense. Os jogadores do Farense marcaram rápido e Ibukun colocou os leões da capital algarvia a vencer por 2-0. Matias tinha colocado a sua equipa em vantagem, aos 10 minutos.

Mal Carlos Xistra apitou para intervalo, os jogadores e equipas técnicas das duas equipas envolveram-se em acesa discussão, e, de empurrão em empurrão, dirigiram-se para os balneários. Como consequência, Lázaro Oliveira foi expulso, por ter colocado o dedo no nariz de Serrão, treinador de guarda-redes do Farense.



O treinador do Portimonense ainda se dirigiu para o banco de suplentes no início da segunda-parte, mas Carlos Xistra mandou-o abandonar o relvado. Nos poucos minutos em que lá permaneceu, Lázaro Oliveira teve que suportar a fúria dos adeptos do Farense, assim como Quinaz, que se preparava para entrar. O jogador do Portimonense foi alvo de cuspidelas, mas faria pouco depois as pazes com os adeptos do Farense.



O Portimonense amenizou a derrota na segunda parte, num bom golo de Kanazaki, japonês que mostrou ser bom de bola. Até final não se registaram mais nenhuns incidentes, e a saída dos cerca de 3000 adeptos e dos jogadores das duas equipas, foi pacífica.

No final do derby algarvio, Jorge Paixão, treinador do Farense, contou com pormenores vivos como preparou o jogo com a sua equipa e Lázaro Oliveira, treinador do Farense, confirmou o motivo que levou à sua expulsão.

«Como treinador nunca me vou desculpar com o trabalho do árbitro. No dia que ficar isso será uma grande incompetência da minha parte. É lamentável que após 96 minutos, em que qualquer equipa poderia ter ganho, mas em que acabou por ser o Farense a vencer porque preparou melhor o jogo, venham dizer que o Portimonense perdeu por causa do árbitro. É um mau princípio tirarem o mérito aos outros arranjando desculpas», começou por dizer Jorge Paixão.

«O Farense estudou bem o Portimonense, que tem como pontos fortes um futebol mais direto e as segundas bolas do Kanazaki, que complicam muito. Como no golo que marcaram», explicou de resto Paixão: «Anulámos a maioria dessas situações porque estudámos bem o adversário. Mas também sabíamos quais eram as suas fragilidades. Como nos cruzamentos a meia-distância. Quem acompanha o Portimonense não me vai desmentir, 80 a 85 por cento dos golos que sofre, são de cruzamentos da zona intermédia, para o meio dos centrais. Esse estudo serviu-nos para marcar os golos.»

«O segundo golo nasceu de uma transição rápida numa falta justa, que só não é justíssima porque o Anselmo levava o segundo amarelo e ia para a rua. A grande oportunidade da segunda-parte – tirando o golo do Portimonense – é do Farense, numa bola que é tirada em cima da linha. Mandar chuveirinhos para a área não são oportunidades», disse ainda.

A tática foi bem estudada, tal como a pesquisa que Paixão fez para motivar os seus jogadores: «Quando trabalhamos um jogo agarramo-nos a tudo, temos que ter todas as armas. Fui buscar imagens do jogo da primeira volta (vitória do Portimonense por 3-0). Sons. De cada vez que o Portimonense marcava um golo ouvia-se um som da rádio a dizer «Toma lá morangos». No Youtube, coloquem Portimonense-Farense, e oiçam os golos…. É de uma rádio, que não respeitou uma cidade, um clube e um futebol. Mas isso não apresentei aos jogadores….»

Jorge Paixão também abordou as confusões que se registaram ao intervalo. «Só falo do que vejo. Há qualquer coisa que ficou do jogo da primeira volta - que eu não sei o que foi porque não estava cá, estava na praia (apenas chegou ao clube em Setembro). O que vi foi o treinador do Portimonense ter uma atitude menos boa, que, se calhar, também era capaz de ter, porque é frequente acontecer no futebol. Ele apontou o dedo à cara no Serrão. Foi um jogo muito quente, com um ambiente muito forte.»

Quanto a Lázaro Oliveira, o treinador do Portimonense gostou da atitude da sua equipa. «Foi um excelente jogo, muito competitivo e com um ambiente fantástico para um jogo da segunda liga. Na primeira parte o Farense foi muito eficaz, principalmente em lance de bola parada. Reagimos bem e com boa circulação de bola, apesar do estado do relvado. Depois há um lance que condiciona o jogo e a segunda-parte, em que o árbitro consegue transformar uma falta defensiva do Farense em ofensiva, em que os meus jogadores estavam à espera de marcar a falta e o Farense numa transição rápida chegou ao 2-0. A segunda parte foi de sentido único. Personalizados, assumimos as rédeas do jogo», considerou.

Sobre a sua expulsão, Lázaro concordou com Carlos Xistra. «Não sou de escamotear a verdade. Fui bem expulso. Houve uma falta de respeito para com o banco do Portimonense de elementos da equipa técnica do Farense aquando do segundo golo, com os gestos que fizeram e as bocas que mandaram. A rivalidade não justifica tudo. Tem que haver respeito e isso faltou a esse elemento da equipa técnica do Farense. Excedi-me, deveria ter tido mais sangue frio, e fui bem expulso. Encostei o dedo no nariz do treinador de guarda-redes do Farense.».