O Benfica entrou com vontade, Jonas marcou um golaço e a equipa apagou-se.

Nada mudou, portanto.

Mais uma vez, sem chegar ao segundo golo, os encarnados foram perdendo, aos poucos, o controlo do encontro.

O empate adivinhava-se. A equipa deixou espaço nas costas para um cruzamento largo, entre a linha defensiva e Júlio César, e André Almeida não acompanhou. Um erro coletivo, mais um, entre muitos, esta temporada.

De novo empatado, o Benfica voltou a tremer, e não teve robustez para voltar a colocar-se na frente. Algo que também se repete.

Esteve bem o Marítimo, e muito bem Daniel Ramos, a apertar nos pontos fracos dos encarnados e a conseguir mais um resultado positivo. Faz sentido sublinhar que este Marítimo foi reconstruído no verão, e mantém a consistência do passado. É de treinador, claro!

Voltando ao Benfica, Pizzi, que no ano passado foi o melhor jogador da Liga, hoje é uma sombra de si próprio. O desgaste, sobretudo mental, e depois do desastre de Basileia, parece grande.

A defesa desconcentra-se, é lenta a reagir, e não tem qualidade para sair da pressão a partir de trás. As opções são Grimaldo ou... Grimaldo, e quando o espanhol não está por perto, resta André Almeida, Luisão, Jardel e Fejsa. É quase sempre o capitão quem atira para a frente – não vá Jardel arriscar um passe mais profundo com o pé esquerdo –, para o jogo direto. Além de ser talvez aquele que piores pés tem para fazê-lo, numa amostra já de si de fraca qualidade, já não há Mitroglou para segurar lá à frente, e ajudar a equipa a subir.

De todas as saídas, a de Nélson Semedo terá sido a que mais retirou à equipa, a defender, mas também muito a atacar. O Benfica só chega realmente à primeira fase de construção em Pizzi, ou quando Grimaldo e Cervi conseguem acertar uma ou outra jogada, o que aumenta dependência do seu médio mais criativo. Mais à frente, escasseiam as rotações e os movimentos de rotura sem bola, é tudo demasiado no-pé.

Salvio lutou e Cervi tentou. Não foi por falta de atitude, de luta, mas foi pouco. Faltou discernimento, critério e definição quando o Benfica quis resolver tudo nos duelos e nas segundas bolas, e foi perdendo intensidade com o tempo. Terá faltado Zivkovic e não Rafa – voltamos à parte da definição –, eventualmente Jonas até ao fim, além de Krovinovic.

Rui Vitória tem agora três semanas para reequilibrar o que não consegue desde agosto – dizem-nos os resultados – e, honestamente, apenas terá estancando na reta final da primeira temporada na Luz. Poderá parecer duro para quem é bicampeão, mas faltará trabalho específico de campo em muitos momentos defensivos da equipa. Há muito a fazer, e até três longas semanas parecem curtas.

A atacar, há primeiro um trabalho psicológico a desenvolver, e depois talvez não seja descabido tentar coisas novas. 

Rui Vitória não pode escudar-se mais nenhuma vez num «há-de passar». A resposta, ainda mais depois de um nulo no clássico, continua a tardar. Não poderia nunca ter ser adiada três semanas.

P.S. O Benfica desinvestiu, e a qualidade que tinha e já não tem em tanta quantidade deixou de conseguir camuflar os erros que a equipa muitas vezes comete. O desinvestimento foi introduzido pela direcção de Luís Filipe Vieira, e aceite por Rui Vitória, que, no entanto, não pode ser visto como único responsável pelos maus resultados. Nem sequer é o maior. «Ele é quem manda na equipa, e é com estes que vamos atacar o penta, porque temos equipa para lutar pelo título.» Foi dito há algumas horas pelo presidente encarnado, atirando toda a responsabilidade para cima do treinador.

A verdade é que, embora o técnico pudesse ter decidido melhor em alguns momentos (e poderia), nunca teve a matéria-prima com que contou o seu antecessor e que se tem reduzido de temporada para temporada. É verdade que Rui Vitória tem muito para tentar resolver e trabalhar, mas o grande abanão foi dado a partir do topo. Disso não podem restar dúvidas.