Na Luz aconteceram dois jogos.

O primeiro durou entre o primeiro apito e a expulsão de Artur.

O outro começou a seguir à entrada de Paulo Lopes e durou até ao fim.

Sobre o segundo, duas notas rápidas: o Zenit convenceu-se de que estava feito, descontraiu. Mesmo assim poderia ter marcado mais. Os dez do Benfica que ficaram em campo lutaram muito, mantiveram-se juntos e por isso mereceram o aplauso dos adeptos e de alguma crítica com maior tendência para a lágrima. Algo muito parecido já tinha acontecido na época passada, no Dragão, num FC Porto-Zenit.

Os adeptos que estiveram na Luz reconheceram o esforço. Isso é bom, mas que seja valorizado como extraordinário só demonstra a escassa cultura desportiva de muitos dos que vão aos estádios. Jesus e Vieira sublinharam os aplausos, mas isso não deve ser utilizado para desvalorizar o que aconteceu antes. Por sinal, o mais relevante.

Na primeira parte do jogo, o Benfica exibiu defeitos na ala esquerda da defesa. Jardel apareceu nervoso no meio e, mais importante, os três médios foram incapazes de compreender a forma de se movimentar do Zenit.

No final, Jesus confessou a surpresa da equipa perante o arranque de Hulk para o 1-0. Há um ano, em Paris, tinha sublinhado a dificuldade para acompanhar os movimentos de Ibrahimovic. Precisamente os movimentos que o sueco faz há anos, recuando um pouco, caindo no terreno dos médios.

Em Paris, o Benfica não demonstrou conhecimento do adversários, quanto mais uma estratégia que lhe permitisse pará-lo. Esta terça-feira, Jesus apostou num meio-campo macio, sem um «6» evidente. A isso aliou a já conhecida dificuldade de Eliseu para as tarefas defensivas e um estranho nervosismo de Jardel, que cometeu erros do tempo do Olhanense.

O Zenit controlou o jogo desde a primeira respiração. Não (apenas) porque tem jogadores mais caros, «apenas» porque estava melhor preparado para o adversário.

Jorge Jesus tem muitos méritos e a ligação entre equipa e adeptos é, em parte, resultado do seu trabalho e forma de estar. Mas em Paris e agora com o Zenit, por exemplo, ficou a sensação de que avaliou mal o adversário e a capacidade da sua própria equipa. 

Esta é a sexta época de Jesus com o Benfica na UEFA. Em quatro das cinco anteriores começou na Champions e apenas em 2011/12 passou a fase de grupos (eliminou o Zenit e caiu nos quartos de final, com o Chelsea). Provar que é treinador de Champions, eis o desafio por superar.

NOTA: antecipando comentários: eu sei que o Benfica é quinto no Ranking da UEFA. Mas também sei que isso só é possível porque a tabela não distingue entre pontos conseguidos na primeira divisão (Champions) e pontos obtidos na segunda divisão (Liga Europa). Quinto do Ranking UEFA, sim. Quinto melhor da Europa é outra coisa, bem diferente.