Uma semana depois, ainda não sabemos o que significa a saída de Nuno Espírito Santo do FC Porto.

O banco está vazio desde então, e a única coisa que é garantido é que não será Marco Silva, talvez o nome mais forte entre todos os que têm sido referidos, o seu substituto.

A demissão não surpreende. Raramente foi capaz de ter um discurso empolgante, e nem as palavras de ordem Somos Porto! e Fazer do Dragão a Nossa Fortaleza foram catalisadores, primeiro para os seus jogadores e depois para os adeptos.

Depois de um início titubeante e a eliminação das taças, o fracasso na ultrapassagem ao Benfica no jogo com o Vitória de Setúbal, os festejos com o 1-1 na Luz, o empate com o Feirense em casa, a imagem de desgaste acumulado, e a derrota final em Moreira de Cónegos, em que perdeu os argumentos de melhor ataque e melhor defesa, foram acentuando a fragilidade da sua posição até à confirmação do divórcio.

O FC Porto não foi Porto! nos momentos decisivos da temporada. Falhou quando antes não falhava. Nuno Espírito Santo não se assumiu como o treinador agregador que provavelmente os portistas esperavam.

A imagem final é pouco positiva, mas a verdade é que, sobretudo quando comparado com o Sporting, o campeonato dos dragões foi bem mais interessante. O FC Porto não foi campeão, mas aproximou-se do grande dominador dos últimos anos, e ultrapassou um dos rivais, talvez aquele que era mesmo encarado como maior favorito para a época que agora termina, na luta pelo segundo lugar e entrada direta na Liga dos Campeões.

Não se conhecendo a real responsabilidade do treinador na deficiente gestão de Brahimi nos primeiros tempos, e mesmo atribuindo-lhe o falhanço da contratação de Depoitre – como Pinto da Costa fez questão de assinalar desde a primeira hora –  e o apagão de André Silva à direita, o técnico conseguiu mesmo assim afinar a equipa em andamento, tornando-a mais sólida atrás e acrescentando golos com Tiquinho, que resultaram em nove triunfos consecutivos. Fê-lo com uma equipa jovem, há muito sem referências, e conseguiu lutar pelo título.

Acredito que um final menos cinzento, com a equipa na luta até ao fim, e sobretudo uma melhor gestão da comunicação, ter-lhe-iam garantido uma nova oportunidade, com um grupo mais amadurecido, na próxima temporada.

Nem tudo foi mau, e mesmo assim o FC Porto foi rápido a decidir.

A partir do momento em que se confirmou que Nuno não iria ficar, todos apontaram para o óbvio Marco Silva.

Apontou-se durante vários dias, escreveu-se sobre viagens e reuniões, mas o FC Porto só desmentiu o interesse poucas horas antes de ser oficial a assinatura pelo Watford. Mesmo que a informação tenha sido correta, o timing da comunicação portista faz crer precisamente no contrário, tal como aconteceu com situações semelhantes nos rivais no passado. Ou seja, não deixará de colar-se ao nome escolhido o rótulo de segunda escolha, a exemplo do que foi visível com José Peseiro, por exemplo.

Percebe-se a ponderação, se ela existe, como esperamos. O momento é importantíssimo para o clube. Tão ou mais importante do que o nome do treinador é o rumo, e o tempo que será gasto para colocar em velocidade de cruzeiro a nova aposta. O FC Porto não pode fazer do ano de Espírito Santo um ano perdido. Bem pelo contrário.

Falta aos portistas, e bem mais do que discursos para as bancadas, com pouco conteúdo, a clarificação do rumo. De forma urgente.

Em Alvalade, a época, já se sabia há algum tempo, foi demasiado má e os objetivos goraram-se muito cedo. Bruno de Carvalho e Jorge Jesus preparam-se para o terceiro ano juntos, o que significa que já acumularam dois anos de desilusões e desgaste.

Também no Sporting há a necessidade de clarificar o futuro imediato sem abstrações ou generalizações. O treinador entrou em Alvalade inserido numa política de investimento; em janeiro, face aos maus resultados, a direção deu vários passos atrás, tentando valer-se da formação para dar largura ao plantel entretanto menos numeroso (e também menos forte). Bruno de Carvalho acabou a dar murros na mesa e a dizer basta de desculpas, enquanto Jesus lamentou que o plantel não dá para mais, pelas suas próprias palavras.

Levanta-se de imediato a pergunta sobre o que acontecerá a partir de agosto. Matheus e Piccini não respondem por completo à questão, mas percebe-se que pelo menos nas posições de lateral-direito e 8 ou 10 não sobrará muito espaço para os jovens. O tempo dirá se são oportunidades de circunstância ou nova inflexão na política.

O Leão precisa de ser assertivo e claro, e sobretudo estável. De controlo nas decisões e nas palavras, a fim de não dar constantes trunfos aos adversários contra si próprio. É a vez de presidente e treinador saberem controlar os danos, e mesmo que comecem já será tarde.

FC Porto e Sporting estão numa fase crítica, com o grande rival a somar quatro títulos seguidos e em que o primeiro passo que devem dar é definir o caminho definitivo que querem tomar. Que não tem, obviamente, de ser o mesmo.

No Dragão a tentação a evitar será o começar tudo de novo, e ao mesmo tempo ser bem sucedido no desafio de encontrar alguém que se identifique com os principais jogadores e não se importe com uma fase de menor desafogo financeiro para investir. Até eventualmente com saídas importantes, face à necessidade dos portistas em fazer dinheiro.

Já em Alvalade tudo passará mais por uma decisão mais definitiva sobre uma política desportiva que ultrapasse uma temporada e que, em cima de uma gestão mais sóbria e menos emotiva, leve a equipa para a estabilidade de que tanto precisa. 

O Benfica continua com um avanço considerável.