A inevitável saída de Paulo Fonseca do FC Porto oficializou-se esta quarta-feira. O desfecho era óbvio, a solução encontrada para resolver o problema responde aos requisitos mínimos.

O treinador vive o primeiro grande fracasso na sua carreira. Nos próximos dias terá de fazer o luto, sistematizar o que viveu e tentar sair da experiência mais forte.

O clube tem mais em que pensar ( veja o final do texto)

Hoje em dia, os treinadores sabem praticamente todos o mesmo sobre como treinar e jogar. Os mesmos livros, os mesmos professores, os mesmos cursos. O que faz a diferença é a forma como se relacionam com aquilo que não controlam: o perfil dos jogadores, os dirigentes e os adeptos. Além das escolhas, claro.

É difícil ter uma opinião sólida sobre o que falhou exatamente, por uma razão simples: falta-nos, ainda, muita informação. Com o que se sabe, o risco de cometer uma injustiça é evidente. Para o evitar, prefiro salientar alguns pontos que não entendi.

1. Utilização de Ghilas. Paulo Fonseca descobriu o argelino muito tarde. E teria dado jeito tê-lo em campo mais vezes, se calhar até a partir de uma ala. Antes da chegada de Quaresma, o FC Porto sentiu diversas vezes dificuldade para concretizar as oportunidades que ia criando. E assim deixou escapar pontos.

2. Aposta em Josué. O médio está longe de ter demonstrado capacidade para ser titular no FC Porto. Pode ser uma solução útil a partir do banco, mas nunca a partir do flanco e dificilmente em competições de máxima exigência, como a Liga dos Campeões.

3. Ideia de meio campo. Paulo Fonseca quis muito de Fernando e Lucho. Pretendeu que ambos alterassem a sua forma de jogar, quando o mais simples seria «apenas» inventar alguém que fizesse de Moutinho.

4. Mudar? Uma vez que os treinadores hoje em dia não dão entrevistas de fundo e se limitam a falas curtas, melhor ou pior planeadas, permanece sem resposta aquela que é para mim a maior dúvida: porque decidiu Paulo Fonseca alterar o perfil do FC Porto?

Com Vítor Pereira, o FC Porto levou ao limite uma das regras fundamentais do futebol: só há uma bola, logo se eu a tiver. O Barcelona fazia (e continua a tentar...) isto acrescentando o que sabemos, mas o campeão português também não estava mal.

O FC Porto de Paulo Fonseca nunca o conseguiu. Por que o treinador não quis? Porque Moutinho faz mais falta do que a vista alcança? Por outra razão qualquer? Ficámos sem saber. 

Esta incapacidade expôs a equipa ao erro, permitiu que qualquer adversário rematasse à baliza de Helton e não acrescentou oportunidades, muito menos golos. Se de uma opção se tratou, ela é estranha, uma vez que o Paços de Ferreira de Paulo Fonseca era antes de tudo uma equipa muito bem arrumada no meio campo, capaz de construir com método e rigor, preocupada em dominar os jogos.

Sejam quais forem as explicações, a derrota de Paulo Fonseca é evidente, mas o essencial não se perdeu. A rescisão prova que não estava preparado para este desafio, neste momento. Mas é justo salientar que o FC Porto é o topo da escada em Portugal. Haverá seguramente outras oportunidades, em outros clubes, talvez até em outros países. O que fez no Paços de Ferreira demonstrou que Paulo Fonseca tem valor para trabalhar a um nível alto.

A derrota foi maior para o clube do que para o treinador.

Com Paulo Fonseca termina o tempo em que a estrutura do FC Porto transformava em ouro tudo aquilo em que tocava. Uma ideia que sempre me pareceu excessiva e injusta para quem se sentou naquele banco nas últimas épocas. 

Desta vez, o clube não foi capaz, ou não quis, manter o treinador que lhe dera dois títulos. E também não foi capaz de enquadrar o nome que escolheu.

Outros sinais, mais ou menos públicos, levam a crer que não foi apenas um problema do treinador, uma escolha errada. A questão parece mais séria e profunda. 

O processo de substituição do treinador é, em si, sinónimo de hesitação. E Luís Castro, a solução encontrada, está, para dizer o mínimo, longe do genial. Como a palavra interino sublinha.

A saída de Paulo Fonseca era inevitável. Os próximos tempos dirão se é o primeiro passo para a solução dos problemas do FC Porto mais frágil dos últimos anos.