No caso Jefferson não me parece mais importante perceber quem tem ou não razão do que tentar ir mais fundo no problema.

Se o lateral desrespeitou o presidente Bruno de Carvalho perante os seus companheiros de equipa, técnicos ou outros elementos do clube não podia deixar de ser castigado.

Se Jefferson tem motivos ou não para protestar não ter sido informado de uma proposta para a sua transferência é outra questão. Não conhecemos os antecedentes do confronto, e isso vale alguma coisa. Sabemos sim que Bruno Carvalho valoriza a comunicação e, em grande medida, a que dirige para o exterior.

Terá falhado, em certa medida, a capacidade do jovem dirigente em antecipar o problema. O que é o mesmo que dizer que Bruno de Carvalho não teria perdido nada se tivesse assumido um comportamento proactivo.

Ao comunicar ao jogador o que se passava estaria a integrá-lo na decisão, mesmo que esta estivesse já tomada e fosse, como aparenta, negativa. Teria de apresentar os seus argumentos e convencê-lo de que ficar, perante aquelas condições, seria o melhor para si e para o clube. Seria assim tão difícil?

Depois, dependeria obviamente de Jefferson, que até poderia sentir-se frustrado, mas muito provavelmente não reagiria da forma como fez.

Para o Sporting ficar sem Jefferson nesta fase da temporada é obviamente mau. E sendo um dos desequilibradores da equipa, recuperá-lo depressa poderá ser importante.

Bruno de Carvalho, que gosta como se sabe de comunicar, terá de começar a fazê-lo, com a mesma paixão, também para dentro. Os murros na mesa resolverão um ou outro problema pontual, mas não são solução para épocas inteiras, em que o desgaste se acumula.

O caso Jefferson é relevante sobretudo por ser mais um. Isolado, não teria obviamente grande significado, mas não é isso que se passa. Rojo e Slimani foram protagonistas de casos mais ou menos semelhantes no início da época. A um outro nível, depois de Guimarães, o próprio presidente incendiou o balneário com declarações despropositadas nas redes sociais. E está ainda fresca na memória o processo de despedimento de Marco Silva, que acabou por não se concretizar.
 
Bruno de Carvalho é o denominador comum de tudo isto, aparece sempre no meio das fogueiras. Algo que não se deve exclusivamente ao facto de ser o presidente do clube.

São casos a mais, polémicas em excesso. Já bastava à equipa ter de lidar com um plantel curto e desequilibrado, não precisava de picos constantes de intranquilidade.

O presidente ainda está obviamente em processo de aprendizagem, e tem essa atenuante. Mas o futebol não costuma dar muito tempo para que se goze desse estatuto.

P.S. Se o Sporting tivesse eliminado o Wolfsburgo na Liga teria sido um grande resultado e, admita-se, uma surpresa. Os alemães estão uns bons furos acima dos leões, não só em qualidade do plantel como em potencial, apesar de os portugueses terem tido momentos em que chegaram a equilibrar e até possam reclamar infelicidade em várias alturas. Para mais do que criar a dúvida, Marco Silva teria de ter armas que ainda não tem. A eliminação é algo natural, que deve ser aceite dessa forma.

Luís Mateus é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no Twitter.