A oficialização do divórcio entre Lito Vidigal e o presidente da SAD do Belenenses era apenas uma questão de tempo.

Sublinho presidente da SAD do Belenenses e não Belenenses. Não havia divórcio entre o técnico e os adeptos, entre técnico e os jogadores - não podia haver com os resultados conseguidos - ou sequer entre o técnico e o presidente do clube, conforme foi reforçado publicamente, esta terça-feira, pelo último.

Havia, claramente, interesses e objetivos diferentes para Lito Vidigal e Rui Pedro Soares. 

Esta é a imagem que fica para quem olha para o clube a esta distância. Admito que possa não ser a totalidade do quadro - the whole picture, como costumam dizer os falantes de inglês -, mas pelo menos é esse o fragmento que chega até mim e que, acredito, chegará a todos vocês.

O treinador esteve há várias semanas no «Maisfutebol», programa emitido todas as sextas-feiras à noite na TVI24. Percebeu-se, sobretudo nas suas pausas e em algumas hesitações, que a relação era distante. Ou inexistente. Lito nunca o disse, mas não precisou de fazê-lo. Quem quis perceber percebeu-o.

Se recuarmos até ao início da época somos obrigados a recordar que as coisas já não estavam bem. A rábula dos reforços pretendidos/realmente garantidos perdurou por várias semanas, abrindo espaço a vários outros episódios, que intercalaram com os bons resultados conseguidos.

Quantas vezes o técnico foi obrigado a responder sobre o futuro? Perdi a conta.

O dirigente ainda a meio do mês passado atirou para o defeso a decisão sobre o futuro do técnico, e fez dependê-lo da satisfação de ambas as partes. Tendo em conta o rendimento desportivo, não poderia haver insatisfação. Ou seja, a leitura era clara.  

Se nesse primeiro episódio da temporada as declarações de Lito, à luz da realidade económica do clube, podem ser vistas como despropositadas, a mais recente posição de Rui Pedro Soares, a apontar para a Europa, mesmo que significasse a descida de divisão no ano seguinte, é indefensável.

Um líder deve privilegiar a estabilidade e o crescimento sustentado, e não alimentar momentos esporádicos de sucesso, esteja o clube há poucos ou muitos anos sem o saborear. O Belenenses precisa, antes de pensar a sério na Europa, de consolidar o seu projecto desportivo a curto-médio prazo, depois de uma temporada em que, recorde-se, se salvou da descida na última jornada. Lito Vidigal lembrou-o (bem) várias vezes.

Para que uma relação seja pacífica e não saia o clube prejudicado, o treinador deve assentar na perfeição no projecto. Olhando para a realidade do clube, Lito, capaz de construir boas equipas com recursos mais limitados, sempre fez sentido.

O que não fez foi a divergência de visão entre o presidente da SAD e o seu treinador.

O Belenenses não é o único exemplo este ano. Objectivos idênticos e formas de comunicação claras e alinhadas são os primeiros passos para a tranquilidade que uma equipa necessita.

Não sei se Lito Vidigal iria chegar ou não à Europa, mas mesmo que não chegasse seria igualmente uma época excelente. Também não sei se Jorge Simão é ou não uma boa decisão, mas percebo perfeitamente as declarações de Patrick Morais de Carvalho, presidente do clube, que teme que tenham sido dados «tiros nos pés» com a saída de quem tinha o apoio de quase todo o clube e mostrou mais uma vez qualidade para treinar no primeiro escalão.

Apenas sei que o técnico ainda fazia sentido.

P.S. Mais uma chicotada, esta em Penafiel. Saúda-se o regresso de Carlos Brito à atividade, muito tempo depois, com uma missão complicada. O técnico traz experiência naquele que será talvez o último dos recursos dos durienses para fugirem à despromoção.

Luís Mateus é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no  TWITTER.