No futebol português há duas coisas com que podemos contar sempre: dirigentes que se colocam a eles antes do jogo e clubes com passivos monstruosos.

Este Verão estamos a ter um bocado mais do que é costume dos primeiros.

Em grande parte isso sucede por responsabilidade de Mário Figueiredo, que interrompeu uma linha de presidentes de Liga discretos e genericamente competentes, iniciada em Hermínio Loureiro e continuada por Fernando Gomes.

Se é verdade que nenhum deles conseguiu resolver os problemas estruturais, também é justo reconhecer que ajudaram a profissionalizar a competição. Acrescentaram credibilidade, atraíram patrocinadores e com mais dinheiro tornaram o jogo menos mau. Os árbitros foram os principais beneficiados.

O mais complicado dos problemas não é apenas português. Mas por cá existe e é forte. Chama-se desequilíbrio competitivo. Os grandes, como lhes chamamos, têm excessivo poder. E quando escrevo poder estou a pensar no que conseguem fazer em campo, mas também fora dele. Enquanto isso não se alterar a paisagem será idêntica e o jogo menos atraente do que poderia.

Todo o esforço, todo o pensamento de quem gosta de futebol deveria ser encaminhado num único sentido: tornar mais equilibrada a competição. Mesmo se este é, obviamente, um objetivo inalcançável, é por ele que devemos bater-nos.

Mário Figueiredo não só não ajudou a resolver seja o que for como demonstrou ser incapaz de unir os clubes, trabalhar com eles, credibilizar o jogo. Por mim, nunca lhe vi uma ideia coerente, uma ação que merecesse aplauso. Confesso que não compreendo como pode continuar na liderança da Liga. 

Com a presidência de Mário Figueiredo o futebol português regressa aos anos 80, aquele tempo em que tudo era intriga, nunca sabíamos se haveria campeonato e quantas equipas o disputariam. 

Dito isto, a minha fé em reuniões como a patrocinada pela Federação Portuguesa de Futebol é nula. Eu sei que no passado já foi possível sentar à mesa elementos do futebol dos grandes que trabalharam, por exemplo, os calendários competitivos. Mas o clima piorou muito nos últimos meses, em parte também pelo discurso absurdo de Bruno Carvalho. Não vejo como poderão um dia olhar de frente uns para os outros.

O simples facto de um vice-presidente da Federação ficar satisfeito por conseguir juntar numa comissão (o exemplo do Governo está a fazer escola...) os grandes é exemplo suficiente de como tudo isto é pequeno e mau. Os dirigentes, todos eles, nunca foram capazes de entender a sua atividade de uma forma global. Todos eles acordam e adormecem a pensar no respetivo umbigo. Nunca serão capazes de pensar primeiro futebol.

De facto, ninguém merece Mário Figueiredo. Ninguém a não ser estes dirigentes e um ou outro cronista cujo sonho último é ser qualquer coisa num clube qualquer. Miserável futebol o nosso.

[artigo original: 00h09]