O Benfica raramente teve lampejos de falta de humildade desde que Rui Vitória chegou à Luz. É mérito, em grande parte, do seu treinador.

A equipa cresceu precisamente porque encarou com seriedade todos os jogos que teve pela frente. O discurso, muitas vezes redutor, chegou na perfeição a quem devia: aos seus jogadores. Com isso, o conjunto da Luz ultrapassou todas as dificuldades – e foram muitas – que se atravessaram no seu caminho.

Foi a fazer crescer nomes como Gonçalo Guedes, Lindelof, Ederson e Renato Sanches que o Benfica reagiu ao ascendente mental com que ficou Jesus e os seus pupilos depois de três dérbis vitoriosos, recuperou o atraso para ambos os rivais e acabou campeão.

Esta temporada, Rui Vitória teve mais um desafio enorme. Uma onda de lesões sucessivas em jogadores capitais. Um deles o seu goleador, melhor jogador e o elemento mais influente no jogo praticado pela equipa. A baixa de Jonas só foi atenuada porque do grupo emergiram referências a reclamar uma fatia do bolo que representava o brasileiro. O crescimento de Pizzi, Mitroglou e até Jiménez foram fundamentais nos primeiros meses do ano.

Se há algo que transparece do jogo da Luz é que os encarnados terão sido vítimas, por mais paradoxal que possa parecer, da sua própria qualidade. E da resposta que essa mesma qualidade – que pode ser traduzida por um variado leque de opções para cada posição – deu no segundo jogo de Guimarães, o da Taça da Liga.

Terá sido o bom desempenho na Cidade-Berço que terá dado a Rui Vitória a confiança necessária para mudar alguns pressupostos na equipa. Mitroglou ficou no banco, tal como Cervi. Gonçalo Guedes e Rafa não deram o trabalho necessário à defesa axadrezada a fim de empurrá-la definitivamente para trás. Sem o argentino, os encarnados terão também aqui perdido alguma agressividade defensiva.

Rui Vitória ter-se-á arrependido, com o decorrer da partida.

A equipa de Miguel Leal aproveitou e, com três finalizações, chegou a uma vantagem impensável de três golos. O Boavista foi audaz e tirou dividendos dessa excelente meia-hora.

A diferença grande no marcador obrigou a uma rotação alta do campeão durante muito tempo. Ainda teve uma oportunidade ou duas para fazer o 4-3, mas sem força para tomar de assalto a área do conjunto visitante. A equipa tinha quebrado fisicamente, e acabou mesmo por perder dois pontos.

A recuperação trará algum moral, mas o que aconteceu antes servirá certamente de aviso. A distância para o segundo, o FC Porto – que terá agora como grande desafio dar continuidade a este regresso aos triunfos –, voltou a ser de quatro pontos apenas.

Perdigão confirmou valor, Semedo não resistiu à sua própria impetuosidade.

O Sporting também falhou. O Desportivo de Chaves, que já tinha criado problemas ao Benfica e eliminado o FC Porto da Taça, atrasou os leões.

Sem Jesus no banco – o que não é certamente a situação ideal – depois de novo castigo averbado pelo treinador, os leões entraram a frio, viram-se a perder e com dificuldades no primeiro tempo, mas conseguiram reagir no regresso dos balneários. Viraram, já depois da expulsão de um Rúben Semedo ainda demasiado impetuoso, mas não aguentaram o último fôlego dos flavienses. Com alguma felicidade – Rui Patrício fica a meio caminho, depois de um ressalto alguns metros à sua frente –, Fábio Martins teve a arte necessária para fazer um golo que tão depressa não irá esquecer.

Mérito para o conjunto da casa, que continua a mostrar grande qualidade, mesmo após ter perdido o seu treinador e alguns dos seus jogadores mais influentes.

Para o Sporting, é o acumular de mais um mau resultado. 17 pontos perdidos, mais do que em toda a época passada, e a evidência de que não conseguiu deixar-se embalar pelo empate do líder. São péssimos sintomas.

Há, no entanto, mais problemas, que Bas Dost tem conseguido disfarçar com os golos: jogadores em mau momento, com Ruiz a ser talvez o maior exemplo, e muitas dificuldades no controlo dos encontros, sobretudo fora de Alvalade.

As notícias de um alegado confronto de ideias no balneário, entre presidente e capitães, a quente, e que obrigou os últimos a furar o silêncio imposto para explicar o sucedido, também não dão tranquilidade necessária ao grupo. 

Com um calendário a aumentar de nível de exigência, já se pedia uma reação para ontem. É necessário recuperar o foco, e com urgência.