2017 foi um ano cheio de casos, e não só por cá, e pode recapitulá-los aqui.

O que infelizmente não mudou no ano que agora termina foram os decibéis atingidos pelo ruído em torno do futebol português.

Também não se viu por parte de Liga, Federação ou, no limite, do Governo qualquer movimento que possa ser levado a sério para reduzi-lo ou até limitá-lo a um burburinho que não incomode ninguém. Continuo a achar que não basta um ou outro artigo de opinião, ou uma ou outra reunião mais ou menos secreta, depois de anos sucessivos a viver um laissez-faire de certa forma cúmplice, para voltar a colocar o futebol português nos eixos.

A Liga é impotente para colocar os clubes profissionais a remar para o mesmo lado e a defender o produto que criam e que lhes poderá dar dividendos futuros; a Federação reclama que não detém o poder, mas nos assuntos em que o detém é incapaz de ultrapassar uma velocidade tão anos-90  com meses de audiências e testemunhos pelo meio, quando noutros países a justiça demora horas –, e também barreiras culturais que transitam desse tempo; e o Governo existe apenas numa ou outra declaração do Secretário de Estado que nunca faz eco.

O futebol português necessita de uma convergência, que demora e parece cada vez mais longe de acontecer – é a partir desse vazio que nasce este movimento G-15 sem os grandes, logo sem os grandes influenciadores de decisão e com a dúvida que essa mesma ausência acarreta –, ou da rotura.

Não faz sentido que sejam os clubes, os principais interessados, a regulamentar competições, e ao mesmo tempo o país precisa de uma instituição – que até poderia ser a federação, mas uma federação capaz de ultrapassar processos antigos e verdadeiramente moderna em toda a sua plenitude – para fazê-lo. Uma instituição virada quase exclusivamente para o produto e servindo exclusivamente esses interesses, clarificando leis, e a aplicação das mesmas, e punindo severamente, em tempo útil, quem o tentasse denegrir.

Enquadro aqui o video-árbitro, e também uma eventual tecnologia de linha de golo, que até teria sido mais necessária que o próprio VAR, e o resto que tem sido feito, como a divulgação dos relatórios dos árbitros e outros processos em torno da clarificação da arbitragem. Mais do que atos isolados, deveriam ser parte de uma acção generalizada, com que está no parágrafo acima, e acredito que contribuiriam nesse sentido para ajudar a credibilizar o futebol em Portugal.

Quem lê o que escrevo neste espaço, sabe que nunca fui acérrimo defensor do VAR. Para mim, o problema não é nem nunca foi tecnológico, mas sim cultural e passa sempre pelo peso que atribuímos às decisões dos árbitros. O VAR não iria mudar tudo o que estava mal, nem iria ser o Santo Graal, tal como o tentaram vender. Não acabaria com o erro, anularia uns e deixaria passar outros, e mesmo o que detectasse estaria sempre dependente da interpretação humana.

Ao fim de alguns meses, a minha opinião não mudou, e penso que até contribuiu, em certos momentos, para aumentar o ruído em torno do jogo. Ou seja, uma iniciativa assente em algo tão volátil ou inexistente como a cultura desportiva do adepto luso iria sempre ter muitas dificuldades em manter-se firme e sólido. Há muito que fazer neste aspeto ou não estivesse em fase experimental, e a modernidade também passa por aí: clarificar os gestos e o recurso ao VAR, tornar públicas todas as comunicações e imagens, deixar os árbitros falar normalmente sobre os jogos e explicar decisões.

Com o tempo, talvez nos habituemos a esse corpo estranho, desde que deixemos de pensar como o solucionador de todos os problemas do mundo, incluindo os de cada um.

Não é só em Portugal que há problemas. Desde logo, a imagem deixada pelo fair-play financeiro que persegue os menos poderosos e deixa que sejam formadas super-equipas com gastos astronómicos, como recentemente aconteceu com o Manchester City e com o PSG, com os franceses a utilizarem o empréstimo de Mbappé como escapatória às regras da UEFA. Ou será que o fair-play financeiro também é uma treta?

Também aqui há algo a fazer, e esperam-se cenas dos próximos capítulos.

2017 trouxe ainda a falta de investimento por parte do Benfica, o que certamente os dirigentes do clube não traduzem por «falta de ambição», mas que terá de ser encarado dessa forma por todos os outros, e que contribuiu para uma Liga dos Campeões humilhante. Excesso de confiança, má preparação da época, reação tardia no mercado e depois na transfiguração da equipa para um modelo mais equilibrado – de tudo isso os encarnados podem ser acusados. Bem mais de cem milhões ganhos, menos de 10 gastos, a perda de qualidade e envelhecimento gradual de algumas referências na equipa, num momento histórico do clube, a poder consolidar o seu domínio a nível nacional. Os primeiros sintomas começaram na Europa, onde se tornou o pior cabeça de série da história, passando a pior participação europeia de um clube português, e depois continuaram na Taça de Portugal e Taça da Liga, ficando com a Liga apenas pela frente.

À entrada do novo ano, o Benfica precisa de emagrecer em número mas de somar em qualidade, o que significa que o último objetivo da temporada pode estar também ele dependente de eventuais correções no mercado. Os bons sinais do 4x3x3, que precisa ainda de equilíbrio no plantel – há solução para Krovinovic ou para Pizzi, se não for Krovinovic? –, compensarão o risco de deixar tudo como está, ou de apostar em talento incerto? Qualquer indecisão será aproveitada pelos rivais.

Os problemas financeiros do V. Setúbal não são de hoje, mas desta vez coincidiram com um impasse diretivo e com o último lugar na tabela, consequência dos últimos resultados. É verdade que, num grupo com Benfica e Sp. Braga, foram os sadinos a qualificar-se para as meias-finais da Taça da Liga, mas tal não serve de grande compensação. É sinal que o grupo, apesar de jovem, tem qualidade para inverter a situação desportiva. Já a financeira parece mais difícil de solucionar. Tem a palavra o novo presidente.