É das partes mais conhecidas da Mitologia Grega: Midas, rei da Frígia, recebeu o dom de transformar em ouro tudo aquilo em que tocasse – depois, percebeu que o dom era uma maldição, já que morreria de fome...

Lembro-me de José Mourinho em diversos papéis: atrevido e curioso adjunto (de Bobby Robson e de Van Gaal) intrépido treinador do Benfica, admirável em Leira, conquistador da Europa no Porto, superador do mito de Wenger em Inglaterra, num Chelsea que até ‘brincava’ com os jogos.  

Mais: lembro-me da tripla conquista em Milão, em pleno auge do super Barcelona do melhor ‘tiki-taka’.

Essa conquista levou-o para Espanha, para protagonizar duelos épicos e faiscantes com Guardiola. Não mais venceu a Champions, mas chegou a ser campeão espanhol, batendo recordes.

A saída de Madrid foi há quase 11 anos.

É justo dizer-se que a estrela de Mourinho perdeu o brilho. Ninguém ganha sempre, mas Mourinho já não ganha há muito tempo.

É verdade que os sucessores não têm feito melhor, mas esse é um fraco consolo para um treinador que, no seu momento, mudou o treino e marcou o jogo.

A ‘magia’ na sala de imprensa já não é o que era, talvez a era das redes sociais tenha limitado a sua capacidade de liderança, a idade tenha dificultado a identificação com os jogadores.

Talvez.

No meio das dúvidas, uma certeza: o futebol das equipas de Mourinho não atrai, não é vistoso – e também já não dá resultado.

Não será incompetência, seguramente, mas o mestre parece ter perdido o ‘toque’.

A segunda parte da história de Midas diz que Apolo lhe deu orelhas de burro, por ele ter discordado de uma decisão num concurso musical.

Ainda será cedo para castigar Mourinho tão duramente, mas começa a precisar de algum sucesso, para nos devolver a ilusão.

Eu, desiludido confesso, assumo que gostava de o ver voltar a ganhar.