Bruno de Carvalho em primeiro, depois Jorge Jesus.

Pinto da Costa primeiro, e um ou dois patamares abaixo Nuno Espírito Santo.

A confirmar-se o título do Benfica, e é sempre bom de reforçar que ainda falta confirmá-lo nas duas próximas jornadas, estes serão os grandes derrotados da temporada.

Não é que o Benfica venha a ser um grande vencedor, apenas vencerá. Sporting e FC Porto perderão. Os leões terão sido ainda, acredito, maior deceção do que os dragões, face à expetativa criada depois do ano zero de Jesus em Alvalade. Terão perdido mais do que os outros.

Disse-o no «Maisfutebol» na TVI24 aqui há umas semanas: este FC Porto precisa de pelo menos mais uma época ou duas de maturação e um maior leque de opções em vários setores, antes de poder ombrear de igual para igual com os rivais. Muitos irão dizer que chegar a lutar até ao fim já é ombrear, mas a quebra no final denuncia o contrário.  

A fantástica recuperação a meio da época fazia acreditar que o treinador tinha conseguido que o grupo saltasse várias etapas de crescimento, mas o descalabro no último sprint, com cinco empates em sete jogos, castiga a juventude de um projeto que só com a conjugação de diversos fatores – e alguns até se conjugaram – vingaria a curto prazo. Lembro aquela imagem antes do clássico, em que o FC Porto parecia mais consistente até que o Benfica, mas o nulo frente ao Vitória de Setúbal e o embate com o próprio emblema da Luz fizeram com que se rapidamente dissipasse.

A onda tinha perdido dimensão.

Se Nuno Espírito Santo é ou não o homem indicado para tentar de novo na próxima época é uma outra questão, que poderemos voltar mais à frente. A história está mais a seu favor do que os próprios adeptos, uma vez que um eventual despedimento implicaria uma decisão que Pinto da Costa nunca tomou. No entanto, a consistência defensiva não parece suficiente de um dos lados da balança, da perspetiva da grande maioria dos adeptos, para sustentar um futebol pouco criativo e muitas vezes demasiado direto e incapaz. E, obviamente, sem qualquer título.

Também é verdade que esse FC Porto mais imaturo termina à frente de um Sporting que também quis encurtar prazos para atingir os seus objectivos, mas com uma filosofia diferente, contratando jogadores feitos, mais à imagem das ideias de Jesus, para sustentar o que a formação deu à equipa não no passado imediato mas nos últimos anos.

A partir dos já maturados Rui Patrício, William Carvalho e Adrien nascia um ataque claro a um título a curto prazo, com a injeção de nomes de inegável – mantenho o inegável ao fim destas semanas – qualidade como Markovic ou Joel Campbell. O falhanço da política de contratações começou com a fantástica resposta de Gelson e de Rúben Semedo, que resistiram firmes na sua posição, e prolongou-se, aí sim, mais a sério, com outros que não conseguiram preencher os vazios. Elias não teve intensidade e agressividade para ser Adrien quando foi preciso, Meli nem sequer foi usado para fazer de Elias. Houve um longo período de adaptação do reforço Alan Ruiz, e Bas Dost não encontrou durante muito tempo um apoio mais próximo com quem se entendesse, apesar do elevado número de contratações para o ataque. André e Castaignos falharam, Markovic, desviado para esses terrenos falhou, e Bruno César e Bryan apenas cumpriram a espaços. O costa-riquenho ficou muito longe do que já mostrou em Portugal, e parece estar perdido desde o falhanço no penúltimo dérbi de Alvalade, que fez embalar o Benfica para o título.

Com a Europa, as taças e, por fim, a Liga perdidas, Bruno de Carvalho deu um passo atrás e começou a emagrecer o plantel, olhando aparentemente de novo para a formação. Recuperou Podence, já Geraldes nem serviu para fazer número. Gauld, o outro Geraldes e Palhinha também passaram de opção frequente na Liga a situações que não potenciam o seu crescimento. Mesmo esse retrocesso, tirando Podence e, por vezes, Matheus Pereira, também não foi consistente.

A última imagem do Sporting que fica é a derrota dura em Alvalade, quando ainda podia incomodar o FC Porto na luta pelo segundo lugar, Jesus a dizer, por outras palavras, que não tem ovos para omeletas e Bruno de Carvalho a gritar basta às desculpas. Não foi bonito. Mas acima de tudo voltou a fazer transparecer a ideia de posições desalinhadas.

O momento de Sporting e FC Porto continua a ser delicado. Não é dado adquirido que Nuno Espírito Santo prossiga no banco do FC Porto, e uma eventual saída poderá ter ou não inflexões no projecto. O plantel, notou-se, continua curto em soluções, mas parece ter tomado um rumo, que pode ser ou não descontinuado. Com as bancadas desalinhadas depois desta reta final de Liga, dificilmente haverá paciência para os primeiros maus resultados. O arranque terá ser confiante, seja com quem for.

Diria também que o contrato pesado e a falta de um nome tão forte como o de Jesus obrigarão a mais uma temporada com o treinador em Alvalade. Em princípio. O desgaste existe e tem sido visível. Teria de existir ao fim de duas temporadas sem sucesso. Depois do investimento, sem que tenham sido equilibrados alguns sectores como as laterais, a segunda linha do meio-campo ou ainda a de segundo avançado – Alan Ruiz sim, mas ainda faltará uma maior continuidade –, será fundamental que direcção e treinador estejam unidos não só no objetivo, mas também na forma de alcançá-lo: investimento total ou formação com um ou outro ajuste? Se a opção for a segunda, haverá sempre quem se pergunte se Jesus é o técnico mais indicado para levar a cabo o projecto. Também é natural.

O desgaste entre Jesus e as bancadas começa igualmente a ser notório, e também é natural. Os tempos de namoro acabaram, o apoio já não é tão cego como na primeira temporada. Ainda dará para o benefício da dúvida, mas também aqui o arranque na nova época será fundamental. Com o apuramento para a Liga dos Campeões, e com os primeiros jogos da Liga, pelo caminho.

Antes dos treinadores, na hierarquia das responsabilidades estão e estarão sempre os presidentes. É deles a escolha dos técnicos, dos jogadores e, acima de tudo, em tons diferentes, das políticas de comunicação.

Jorge Jesus tem de ser visto de forma isolada. Os erros de comunicação terão tido influência no rendimento da equipa em momentos cruciais, mas estão desligados do ruído insuportável que quase sempre pairou sobre o jogo, e que veio de cima. É a sua própria forma de abordar o jogo, e está desligada de todo o resto. Tal como o discurso de Nuno, mesmo que tenha batido de forma recorrente na questão da arbitragem. O resto é pior e também é superior à sua presença nas conferências de imprensa.

A confirmar-se o tetra dos encarnados, os portistas aumentam uma crise já longa e pouco normal por aqueles lados. Uma seca de quatro anos sem troféus, ímpar desde a década de 70. Já os leões levam 15 anos, quatro de Bruno de Carvalho, sem festejar o campeonato. É altura de traçar um rumo – e se no Sporting há ainda indefinição, no FC Porto faltará reforço na aposta – mesmo que signifique tornar modernas algumas ideias do passado, e sobretudo isolar e eliminar as culpas próprias. Existiram, existem sempre, e não foram assim tão poucas.

A época termina, entretanto, com uma nova bandeira. Achar que o vídeo-árbitro vai entregar a Sporting e FC Porto (e a Benfica quando e se o vento mudar) títulos de bandeja da mesma forma que se escudaram dos maus resultados nas arbitragens durante todos estes meses, pode ser suficiente para mais um ano de insucesso.

Para FC Porto e Sporting é altura de olhar para dentro.