Julen Lopetegui tem sido veículo do discurso de todo o clube.

Discurso esse que é repetido nas conferências de imprensa antes e depois dos jogos, e que parece ser ensaiado algures nos corredores do Dragão. Ou, pelo menos, discutido com o espanhol antes de se sentar na cadeira do poder, como dizia o outro.

Na realidade, não conhecíamos antes assim tão bem o espanhol, que estava na formação, onde a pressão é outra e as dificuldades, sobretudo para o país vizinho, bem menores. Será que esta forma de olhar para o trabalho dos juízes já existia ou tem sido incentivado e muito por parte dos dirigentes portistas? 

A verdade é que é Lopetegui quem se expõe todos os fins de semana com o mesmo discurso. Mesmo que ganhe. É um instrumento para conseguir o que quer. A ideia é não baixar a pressão sobre o Benfica, porque é líder e, na sua visão, precisa de ser derrubado. A pressão irá expor as fragilidades do rival e permitir a ultrapassagem mais cedo ou mais tarde, acreditam.

Há sempre um ou dois penáltis que não foram assinalados a seu favor, patadas aos jogadores que treina, e os outros, sobretudo um deles, ganham sem fazer tanto como o FC Porto. Não o vi reconhecer um erro a seu favor – e nisso é igual aos outros treinadores que falam com tanto pouco pudor sobre a atuação dos juízes, nem mais nem menos –, porque provavelmente acredita que nunca houve.

O treinador do FC Porto tem razão algumas vezes entre tantas que atira para a opinião pública, não terá certamente noutras. E o mesmo acontecerá com todos os seus rivais que discutem a prestação dos árbitros.

Sim, no Bessa, Hernâni foi derrubado na área. João Dias fez faltas a mais. Mas Quaresma disse e gesticulou o que não devia, e Jackson teve um comportamento violento sobre Gabriel. Houve entradas muito duras de parte a parte num tapete muito perigoso, como já ficou demonstrado esta temporada.

Se entrarmos no circuito dos ses, provavelmente dirão que se tivesse sido marcado penálti o resto não aconteceria, mas na verdade sabemos mesmo isso?

O discurso do técnico deveria ter incidido nos seus jogadores, porque foi capaz de ultrapassar as adversidades e os erros que estes foram cometendo. Ganhou e manteve o rival por perto, antes de um clássico importantíssimo. E poderia ter guardado esse contra tudo e contra todos para os seus, que é a eles que precisa de motivar para o que ainda vem aí.

Julen Lopetegui terá oportunidade sim, já a seguir, de derrotar pela primeira vez o Sporting esta época. E encontrará, mais à frente, a sua chance de vencer o Benfica que já o golpeou no Dragão. Esse deverá ser já o foco do seu pensamento. Plantel para isso tem certamente, mas é precisamente aí, nesses jogos contra iguais, que ainda tem algo a provar.

Os embates que aí vêm merecem menos ruído à volta. Menos polémica, menos discursos incendiários. Merecem futebol. E devem ser os jogadores o centro das atenções. Os treinadores também, pelas suas decisões. Aos árbitros devem deixar apitar.

Porque ouvir falar de arbitragens todos os dias cansa. A vós, não?

Luís Mateus é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no Twitter.