«Qualquer coisa que possa correr mal, irá correr, no pior momento possível». Lei de Murphy, certamente já ouviram falar.

O adágio popular que lembra que nada é suficiente mau que não possa piorar, encaixa como uma luva no cenário que aconteceu em Trás-os-Montes, na noite de domingo. Depois de uma tarde de futebol, com um empate a um golo entre o Desp. Chaves e o Oriental, o regresso dos lisboetas a casa sofreu um revés e foi o primeiro sinal de que aquela seria uma noite diferente. E atribulada.

Uma avaria no autocarro obrigou a uma paragem na área de serviço de Vidago e prolongou-se por tempo demasiado. Tanto que a notícia chegou a Chaves, onde alguns jogadores e membros da direção se encontravam a jantar num restaurante local. Um deles era Paulo Ribeiro, guarda-redes que conta com passagem pelo FC Porto, e que conta tudo ao Maisfutebol. A ele, o socorro saiu caríssimo. Mas já lá vamos.

«Soubemos do sucedido por volta das onze menos um quarto. Ligaram da área de serviço para um diretor do Desp. Chaves, que ligou depois ao presidente. Estava com o Nelson [Lenho] e o Gustavo [Souza] no restaurante, o Bitoque, onde estava o presidente Francisco Carvalho também. Decidimos socorrê-los. O vice-presidente, José Lopes, até já estava deitado, mas também veio, além do senhor Cunha, proprietário do restaurante», explica o guarda-redes, em conversa com o nosso jornal.

Era o início de uma noite atípica a todos os títulos. A área de serviço localiza-se a cerca de 20 km da cidade flaviense. Paulo Ribeiro conta que quando entrou na autoestrada sentiu logo o seu carro, um BMW 535, a perder potência. «Não desenvolvia. Acelerava e o carro não andava», explica.

Quase em simultâneo, Gustavo Souza, brasileiro do Chaves que também seguia na caravana que seguia para transportar os jogadores do Oriental, liga ao guarda-redes, avisando que se viam faíscas debaixo do automóvel.

«Pensei logo que ia ter de encostar e, nessa altura, começa a sair fumo pelos buracos do ar condicionado. Encostei e só tive tempo de tirar a minha carteira. O resto, como a cadeira da minha filha, ficou lá dentro», lamenta. Já fora do carro, o cenário piorou em instantes: «Começou a sair fumo pelo capô e pouco depois levantou uma labareda enorme. Não pude fazer nada.»


O carro de Paulo Ribeiro em chamas (Foto cedida pelo guarda-redes ao Maisfutebol)

Não chegou a socorrer nenhum jogador. «O meu carro ficou a cerca de 300 metros da área de serviço»
, conta.

«Não faço ideia o que pode ter acontecido. Aquecimento não foi porque a viagem é curta e eu fazia várias viagens a Setúbal naquele carro, sem problemas. Eu nem sabia que um carro podia incendiar assim…Foi incrível», desabafa.

Ao longe, os jogadores do Oriental que aguardavam as boleias para Chaves filmaram, incrédulos, o sucedido. Um deles atira um comentário que resume a noite: «Acontece de tudo hoje…».

«Adversários em campo, amigos fora dele»

A história de Paulo Ribeiro é paralela à principal, a do socorro do Desp. Chaves ao Oriental, depois do despique da tarde. Como disse o vice-presidente José Lopes à Agência Lusa: «Adversários no campo, mas amigos fora dele, é assim que tem de ser, fizemos aquilo que gostaríamos que nos fizessem a nós.»

Ao todo eram 21 elementos da equipa do Oriental, entre jogadores e técnicos, que desesperavam na área de serviço. Todos foram transportados para Chaves, sendo que o automóvel de José Lopes fez duas viagens, depois do inusitado acidente com o carro de Paulo Ribeiro.

O restaurante até já tinha encerrado a atividade, mas um «plano de emergência» foi posto em prática. «As cozinheiras já tinham ido embora do restaurante, mas a proprietária, a dona São, mostrou-se disponível para preparar refeições para eles e o presidente instalou-os no seu hotel», conta Paulo Ribeiro.

O Oriental, através do seu site oficial, reagiu esta segunda-feira e agradeceu a ajuda. A equipa de Marvila regressou a Lisboa na manhã de segunda, num outro autocarro. O avariado seguiu num reboque.

«No regresso a casa, após o jogo de ontem [domingo], o nosso autocarro avariou e ficou impossibilitado de prosseguir a viagem de regresso a Lisboa. Em nome do Clube Oriental de Lisboa, aqui fica o agradecimento do presidente José Fernando Nabais ao Grupo Desportivo de Chaves e em especial ao seu presidente pelo pronto auxílio disponibilizado na resolução do problema», lê-se na página do clube de Lisboa.

Solução para Paulo Ribeiro? Comprar outro…

E Paulo Ribeiro? O guarda-redes tenta reagir com fair-play
ao azar. «Ainda não fui comprar outro carro», atira.

«Quando olho para o estado em que ficou…Bem, que remédio, vou ter de comprar outro. Este é perda total. Infelizmente não tinha segura contra incêndios, portanto é perda total para mim mesmo», lamenta.

Ficar prostrado e impotente a ver o carro arder é uma imagem que, certamente, não sairá da memória do guarda-redes de 31 anos. Por se encontrar numa autoestrada, onde a inversão de marcha é proibida, ficou quase sem auxílio.

«O Gustavo passou à frente e como era autoestrada não podia voltar para trás. O Nelson [Lenho] encostou logo atrás de mim e ficou comigo. Os outros seguiram para ajudar os jogadores do Oriental», explica.

Questionamos, em jeito de brincadeira, se já tinha pensado que o melhor teria sido ficar em casa. Paulo Ribeiro reage a sorrir: «Importante foi termos tentado ajudar como pudemos. Tiveram todas as condições possíveis para passar a noite e para comer. Ainda bem que conseguimos dar o nosso apoio.»