DESTINO: 2000 é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 2000.

EMANUELE PESARESI: Benfica (2001/2002)

«Ciao!»

«Buongiorno.»

«Grazie Mille.»

«È vero.»

«Un cappuccino decaffeinato, per favore. Prego.»

O jornalista anda às voltas com a entrevista a Emanuele Pesaresi. O rapaz diz que sim, que fala, mas o Português está esquecido há muito, o Inglês é zero e o Espanhol nem vê-lo.

«Si. In Italiano, spero.» Claro, vamos a isso, caro Pesaresi. As memórias justificam a cábula de frases feitas, marcadoras de ritmos.

«Chiamami alle 16h30/40. Sto lavorando in Ancona.»

À hora combinada, Emanuele não falha. Rápido, decidido, nada a ver com o lateral que conhecemos do Benfica 2001/2002.

«Joguei pouco, sim, mas fui feliz em Lisboa. Fiz bons amigos. Eu e o Porfírio, lembra-se (?), éramos os bons malucos daquele balneário».

O bom do Pesaresi não era um génio. Não, isso não. As memórias, sempre elas, devolvem-nos a imagem de um esquerdino pesado, lento até, razoável a defender e limitado a atacar. Emanuele tem outra opinião.

«Eu era muito jovem e entrei numa grande aventura. Fiz uma excelente pré-época, mas fui expulso logo no primeiro jogo [2-2 na Póvoa de Varzim] e a minha imagem ficou marcada por isso. Precipitei-me, fiz penálti e perdemos uma vantagem de dois golos.»

Toni, primeiro, Jesualdo Ferreira, depois, tinham outras preferências para o lado esquerdo da defesa. Marco Caneira e Cabral jogaram mais vezes do que o simpático Pesaresi.

«Tive o infortúnio do cartão vermelho, depois uma lesão e mais tarde disseram-me que preferiam apostar em jogadores que não fossem emprestados. Se calhar os adeptos não gostaram do que fiz, mas fui sempre honesto.»

PESARESI NO BENFICA

. 2001/02. Benfica, 13 jogos (4º lugar)

TÍTULOS: nada a registar

(VÍDEO) Má abordagem de Pesaresi num golo do V. Setúbal (aos 25s):

Pesaresi estava na Lazio, de Sven-Goran Eriksson, quando soube que o Benfica era uma possibilidade. «O Fernando Couto era meu colega de quarto nos estágios», explica ao Maisfutebol. Em Italiano, sempre.

«O Couto disse-me que o Benfica procurava um lateral esquerdo. Eu não era titular na Lazio [5 jogos em 2000/01] e pareceu-me muito bem. Um clube grande, em dificuldades e a tentar recuperar… depois, lembro-me de ter sido o José Veiga a tratar de tudo. E lá fui para Lisboa.»

O início na Póvoa foi péssimo e, em boa verdade, o nível de Pesaresi manteve-se abaixo do razoável toda a temporada. Uma das raras exceções foi um dérbi contra o Sporting. 2-2 na Luz e marcação implacável do esquerdino a Ricardo Quaresma.

«Tive de ser durinho, provocador. Mas nem um amarelo vi. A atmosfera na Luz era estimulante, nunca tinha jogado num ambiente daqueles. O jogo saiu-me bem, mas empatámos perto do fim. O Mário Jardel estragou-me o dia (risos).»

Emanuele Pesaresi foi o primeiro italiano a representar o Benfica e seguramente o único futebolista a ser expulso no jogo de estreia (Póvoa de Varzim, 11 de agosto de 2001) e no de jogo de despedida (Boavista, na Luz, 28 de abril de 2002).

«A sério? Não me lembrava disso. Bem, jogar no Benfica era uma pressão constante. A dada altura perdi espaço, percebi que o treinador preferia o Caneira e a minha confiança morreu.»

Pesaresi era, nas palavras de Simão Sabrosa, «um gajo porreiro, melhor fora do campo, divertido». O ex-colega de equipa colocou-o no pior onze de sempre e não foi especialmente agradável nos adjetivos.

Nada que incomode Emanuele Pesaresi. «O mais importante é a amizade. O Ednilson falava Italiano e ajudou-me muito. O Porfírio, o Caneira, o João Manuel Pinto, o Fernando Meira, todos foram meus grandes amigos. O resto é futebol. Correu mal no Benfica, mas depois voltei a ser feliz em Itália. Tranquilo.»

(VÍDEO) Pesaresi a evitar um golo do Infesta logo nos primeiros segundos:

Emanuele Pesaresi treina o ASD Biagio Nazzaro 1922, pequeno clube na região de Ancona. É um italiano «feliz com a vida», constantemente a sorrir e nada interessado em dizer mal dos fantasmas do passado.

Nem daqueles que o consideram um dos maiores flops da enciclopédia benfiquista.

«Flop? (risos). Na altura do Benfica eu era um jovem [25 anos], agora sou velho e vejo as coisas de forma diferente. Sei que sempre fui bom profissional no relvado e bom colega no balneário. Um bocado maluco, como o Porfírio, mas um bom maluco.»

Não há provocação que o apanhe. Pesaresi responde a tudo, ri, vai buscar episódios positivos, sublinha o companheirismo e a «tentativa de ajudar o Benfica».

«Mamma mia, aquele Benfica não era o Benfica de hoje, tetracampeão. No meu ano nem nas competições europeias estávamos. Dei sempre tudo, se falar com o Toni e o Jesualdo Ferreira, os meus treinadores, eles vão confirmar isso, de certeza.»

Esgota-se o nosso Italiano, esgotam-se as tentativas de perceber quem era realmente Emanuele Pesaresi, um dos mais anónimos laterais que um dia vestiu a camisola do Benfica. Um bom maluco, sim senhor.

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