DESTINO: 80's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.

HANS ESKILSSON: SPORTING, SP. BRAGA E ESTORIL, 1988 a 1992

Alvalade abria a boca de espanto. O rei leão, unha de Jorge Gonçalves, vestia finalmente as listas verde e brancas horizontais. Farta cabeleira, caracóis loiros, juba triunfante. Debaixo de toda a exuberância capilar, um avançado sueco: Hans Eskilsson.

Corria quente o ano de 1988. A Suécia chegara aos quartos-de-final no torneio de futebol dos Jogos de Seul e o Sporting encontrava naquele nórdico mais-tosco-do-que-alto a solução para os problemas atacantes.

As juras de paixão mútua, típicas dos primeiros encontros, morreriam às mãos de peculiaridades próprias de uma realidade esquizofrénica. 21 anos após abandonar Portugal, Hans Eskilsson usa cabelo rapado e é ás no mundo do poker.

De mão dada com o Maisfutebol, recua à época de 1988/89.

«Adorei jogar no Sporting, mas não foi fácil. Chegámos a ter sete meses de salários em atraso», lembra Eskilsson, internacional oito vezes pela Suécia. «O grupo era extraordinário e aguentou tudo. Aliás, sempre me fascinou o sentido de humor dos portugueses».

Preparem-se para o que aí vem. «Sabe qual era a nossa forma de luta?» Greve aos treinos? «Não, nem pensar. Festas nos balneários. O Carlos Manuel arranjava os bolos e todos os meses assinalávamos a passagem de mais um salário por receber. Funny, right?».

«O meu problema? Não ter sido defesa central antes»

«Oceano, João Luís, Mário Jorge, Carlos Xavier, Ali Hassan e Miguel. Ah, e o crazy Morato». Eskilsson tem na ponta da língua o nome dos «melhores amigos no Sporting». «Dava-me bem com todos. Foi pena a época ter sido má para a equipa e para mim. Acabámos em quarto».

Hans Eskilsson faria sete jogos e um golo (em Viseu) de leão ao peito no campeonato nacional. «Pouco, muito pouco», assume o próprio. A simpatia contagiante, a meias com uma humildade anormal, leva-o a analisar as razões do falhanço pessoal.

«O problema é que eu era um jogador rápido, de contra-ataque. Não era técnico, nem habilidoso. E o estilo do Sporting baseava-se no passe curto. Esse tipo de futebol não era bom para mim», reflete Eskilsson, a duas décadas de distância.

Antes do virar de página, o desabafo. «Sabe do que me arrependo? De não ter sido defesa central mais cedo». Perdão, Eskilsson?

«Cheguei ao Estoril em 1991/92 (quatro jogos) e o Fernando Santos colocou-me, às vezes, a médio defensivo. Gostei e no ano seguinte voltei à Suécia decidido a ser central. Tive os melhores anos da minha carreira a jogar nessa posição até 2000».

Hans Eskilsson, o rei leão é o soberano da simpatia e da memória.

Único golo de Eskilsson no Sporting (2m45s):



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