DESTINO: 80's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.

MAPUATA: BELENENSES, 1986 a 1988

No verão de 1987, o campeonato nacional passou de 16 para 20 equipas. E o culpado foi Richard Mapuata. O Maisfutebol recordou o episódio ao antigo ponta-de-lança. Já nem ele se lembrava daquele que foi apelidado de caso-Mapuata.

«Isso foi o maior escândalo da minha carreira, é verdade», reage Mapuata, a partir de Lyon.

O que se passou foi isto: o Marítimo perdeu 1-0 contra o Belenenses e mais tarde protestou o jogo, alegando que a inscrição de Mapuata era irregular.

O Conselho de Disciplina da FPF não deu provimento à queixa maritimista e os insulares recorreram para o Conselho de Justiça. Este órgão deu-lhes razão.

Ora, em função disso, foi aplicada uma derrota por 0-3 ao Belenenses. O Marítimo passava a ter 25 pontos e salvava-se da despromoção. Assim, descia o Salgueiros.

Mas o clube de Vidal Pinheiro, sentindo-se lesado, levou a discussão à Associação Nacional de Clubes. Tudo acabou com um alargamento para 20 equipas. Rio Ave, Sp. Espinho e V. Setúbal foram promovidos e o Penafiel repescado.

«Até por isso fui um jogador histórico em Portugal», dispara Mapuata, ao falarmos sobre este verdadeiro caos administrativo.

«Fecharam-me numa sala e não me queriam deixar sair»

Em Portugal, os melhores amigos de Mapuata eram Tueba (avançado do Benfica), N'Kama e Basaúla (do V. Guimarães). «Com o Tueba falo todos os dias, vive em Inglaterra. E sei que o Basaúla ainda anda por Portugal».

Cada segundo traz consigo uma memória. Mapuata fala «das visitas a Lagos, às escondidas» e de um carro muito especial.

«Eu tinha um Renault 9, todo desportivo, e o pessoal do Belenenses adorava-o. No final dos treinos emprestava-o a vários deles. Ficavam a fazer umas manobras e eu à espera. Depois comprei um Mercedes ao Henri Depireux. Nunca mais me pediram para conduzir. Estranho, não é?»

A imagem mais forte do Restelo, diz Mapuata, está no dia da despedida. «Os sócios souberam que eu ia sair e foram para o estádio». Mapuata foi agarrado e metido numa sala. «Ninguém me fez mal, eles só queriam que eu ficasse. Mas com aquele treinador, o Marinho Peres, era impossível».

Mapuata saiu mesmo. Jogou no Bellinzona e no Aarau, na Suíça, sem voltar a atingir o brilho de outrora. No Belenenses, assegura, viveu os melhores momentos da carreira. «O equipamento era lindo, o emblema magnífico e o estádio tinha uma vista maravilhosa. Que saudades».

Drogba e Etoo na festa de homenagem

Em 2008, Richard Mapuata foi homenageado no Congo. Juntou amigos, encheu um estádio e levou os compatriotas à loucura. «Foram o Drogba, o Etoo e muitos mais. Senti-me orgulhoso, senti-me importante».

O maior amor desportivo de Mapuata, o Belenenses, passou por muito desde 1988. Resiste, agora novamente na I Liga, e tem um compromisso duríssimo já este sábado. Mapuata pede união e a presença dos adeptos no estádio.

«Toda a gente gosta do Belenenses. Como é possível não gostar?»

Números de Mapuata no Belenenses:

. 1986/87: 26 jogos, 15 golos (6º lugar)
. 1987/88: 25 jogos, 6 golos (3º lugar)

Um golo de Mapuata ao Sporting: