DESTINO: 80's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.

RADI ZDRAVKOV: Desp. Chaves (1986 a 1989); Sp. Braga (1989/90); Paços Ferreira (1990/91) e Felgueiras (1991/92).

De Sófia a Chaves, com escala na Cidade do México. O verão louco de 1986 deu uma volta de 180 graus à vida de Radoslav Zdravkov. Radi, claro, para os amigos e todos os que têm a memória do futebol na ponta da língua.

Radi, caros leitores, foi um dos melhores executantes a passar por Portugal na década de 80. E é o melhor jogador de todos os tempos na rica história do Desportivo de Chaves.

Internacional búlgaro (67 internacionalizações, 10 golos), capitão do enorme CSKA Sófia, titular da Bulgária no Mundial de 86.

Como é que um médio/avançado deste gabarito chega a Trás-os-Montes, numa época em que a comunicação corria ainda tão devagar?

«Bem, na Bulgária havia uma ditadura comunista e ninguém podia sair do país com menos de 28 anos. Eu saí com 30. Queria jogar as qualificações para o Euro88 e experimentar outro campeonato. Recebi o convite do Chaves e não podia recusar», explica Radi, hoje com 58 anos, ao Maisfutebol.

«Deixei de jogar em 1994», continua. «Iniciei uma carreira de treinador e adoro. É um prazer para mim. Trabalhei em boas equipas da I Divisão da Bulgária. Fui duas vezes campeão, tenho uma Taça da Bulgaria e joguei competições europeias. Nos últimos quatro anos trabalhei com o Lubo Penev, que foi um famoso avançado, na seleção nacional da Bulgária».

Números de Radi em Portugal:

. 1986/87 (D. Chaves): 26 jogos/11 golos – 5º lugar
. 1987/88 (D. Chaves): 41 jogos/22 golos – 7º lugar
. 1988/89 (D. Chaves): 39 jogos/12 golos – 8º lugar
. 1989/90 (Sp. Braga): 20 jogos/ 1 golo – 12º lugar
. 1990/91 (P. Ferreira): 29 jogos/10 golos – II Liga
. 1991/92 (Felgueiras): 23 jogos/7 golos – II B  
 

Radi e Mladenov no CSKA Sofia
 
Radi ainda se expressa bem em português, mas a conversa é intermediada pelo filho Metodi, ele próprio jornalista e treinador de futsal. Não nasceu em Portugal, mas fez cinco anos no ensino português e fala a nossa língua na perfeição.

Voltemos a Radi e regressemos a 1986. A época acaba na Bulgária, Radi é convocado para o Campeonato do Mundo e participa nos três jogos da sua seleção: 90 minutos contra a Itália (1-1), mais 90 contra a Coreia do Sul (1-1) e 19 na derrota contra a futura campeã, Argentina.

«É verdade, joguei contra o Maradona e transferi-me logo a seguir para o Chaves»
, atira Radi, sempre sorridente. «Conseguimos ir ao Mundial, mas na Bulgária o governo e as pessoas não estavam satisfeitos. Sofremos enormes críticas».

«Empatámos dois jogos, sempre no Estádio Azteca e com 100 mil pessoas nas bancadas. Fiz o passe para o Sirakov no golo contra a Itália. Mas o melhor foi mesmo o contato com o Maradona no relvado. Nunca vou esquecer isso».   

Nessa Bulgária jogavam também o guarda-redes Borislav Mikhaylov e o atacante Stoycho Mladenov, que se transfeririam depois para o Belenenses. Uma bela equipa, pois.  

Golo de Radi no D. Chaves-FC Porto, 2-0 em 1988/89:



Radi chega a Chaves e encontra uma equipa fortíssima, treinada por Raul Águas. Fica três anos nos flavienses, marca 45 golos, consegue excelentes classificações (quinto, sétimo e oitavo lugares) e uma primeira e única qualificação para as provas da UEFA.

Qualidade, muita qualidade nos pés do mestre búlgaro.  

«Esses anos em Chaves foram os meus melhores enquanto jogador. A qualificação para as provas da UEFA foi o maior sucesso da história do clube. Muitas pessoas ficaram surpreendidas, mas nós merecemos. A equipa era fantástica».

Esse Chaves tinha Padrão na baliza, Garrido, Celestino, Rogério Pimenta e Cerqueira na defesa, David, Júlio Sérgio, Luís Saura, Diamantino, Kiki e Gilberto, além de Jorge Plácido, Jorge Silva e o próprio Radi. O melhor de todos, um craque de 1,78 metros.

Na Taça UEFA, o Desportivo Chaves elimina o Universidade Craiova, da Roménia, mas cai perante os húngaros do Honved.

Golo de Radi no D. Chaves-Sporting, 2-1 em 1988/89:



A adaptação a Chaves, garante Radi, foi «facílima».

«Fiz dois treinos e senti que o treinador ganhou logo confiança em mim. E acho que não os enganei, fiz um bom papel em Chaves. Fora do relvado tive a ajuda de um grande amigo, o Abreu. Estou-lhe eternamente agradecido. Até uma entrevista ele me ajudou a dar, pois eu não falava bem em português ainda. A cidade era pequena e linda, sentia que conhecia toda a gente. Terei sempre a cidade de Chaves e o Desportivo no meu coração»
.  

Nesses três anos, de facto, o atual líder da II Liga teve equipas encantadoras. E os três grandes que o digam. Cair no Municipal de Chaves era, à época, perfeitamente normal.

Radi, o esteta búlgaro, o pensador de todo o futebol dessas equipas, faz questão de recordar ainda cada um dos técnicos que teve em Portugal. Sim, depois de Chaves, e já com 33 anos, jogou no Sp. Braga, no Paços Ferreira e no Felgueiras.

Na primeira pessoa, Radi recorda os seus antigos treinadores.

Raul Águas: «jovem, ambicioso e bravo. Teve o grande mérito nos sucessos de Chaves».

João Fonseca: «um maravilhoso colega, já na altura com grande experiência».

Vitor Manuel: «o meu período em Braga foi difícil. A minha filosofia e estilo de jogar era muito diferente da visão de jogo do Vitor».

Mário Reis: «compreendeu que eu podia jogar em qualquer posição no Paços. Num jogo importante, contra o Varzim, apostou em mim como defesa central».

Radi no Itália-Bulgária, 1-1 em 1986 :