DESTINO: 80's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.

CHIQUINHO CONDE: Belenenses (1987 a 1991 e 1995/96), Sp. Braga (1991/92), V. Setúbal (1992 a 1994; 1996 a 2000); Sporting (1994 a 1995), Alverca (2000/01), entre outros


Estávamos em 1986 e desde que Moçambique se tornara um país independente nunca mais um jogador fora autorizado a mudar-se para Portugal. Samora Machel, o presidente, boicotava todas as mudanças e não foi diferente com Chiquinho Conde.

O avançado, ainda hoje figura recordada no Belenenses e V. Setúbal, despontava no Maxaquene, equipa local, e os ecos chegavam a território luso. O Benfica interessou-se. Não era estranho. De Moçambique tinham vindo algumas das principais figuras da história do clube, como Eusébio ou Coluna. Outros tempos, claro.

Desta feita, o interesse esmoreceu-se rápido. Chiquinho Conde conta como tudo aconteceu, em conversa com o Maisfutebol. «O Belenenses não foi o primeiro clube que me quis levar. Um ano antes já o Benfica tinha tentado. O Governo não autorizou. Depois o presidente morreu, as coisas mudaram um pouco e deixaram-me ir», explica.

«De certa forma, a morte de Samora Machel acabou por mudar a minha carreira», assume. E é verdade. Um ano depois, o Belenenses foi a Moçambique em pré-temporada. Jogou contra o Maxaquene, que era conhecido por ser «a equipa das linhas aéreas» e, por isso, jogava regularmente contra clubes portugueses.

O Belenenses ganhou 3-1, Chiquinho marcou o golo da sua equipa e brilhou. «O jogo correu muito bem e a direção quis logo contratar-me», conta. A situação era diferente. O novo governo autorizou a mudança e Chiquinho Conde tornou-se o primeiro moçambicano a jogar em Portugal, de forma legal, após a independência do país.

Não ter ido para o Benfica não o magoou. «Não fiquei frustrado. Sabia das minhas capacidades e, mais tarde ou mais cedo, iria aparecer outra oportunidade. E depois havia outra coisa: o meu clube do coração era o Sporting», assume.

E explica os motivos: «Cresci no tempo em que o Sporting ganhava muito. Ouvia os relatos dos jogos e o meu ídolo era o Yazalde. Vem daí a minha costela sportinguista. Já na altura dizia que um dia iria jogar no Sporting. Felizmente consegui realizar esse sonho.»


Dois golos na estreia e…substituição ao intervalo

Chiquinho Conde aterrou em Portugal no verão de 1987. Era um desconhecido para o grande público mas uma aposta confiante do Belenenses. Que se revelaria certa. Em quatro anos no clube do Restelo fez mais de 100 jogos e passou a barreira dos 30 golos.

Causou impacto desde cedo. «No jogo de apresentação, contra o Internacional de Porto Alegre, estávamos a ganhar 2-0 ao intervalo e marquei os dois golos. O treinador [Henry Depireux] decidiu substituir-me. Nunca percebi», atira entre risos.

O jogo ajudou-o a ganhar confiança. «A adaptação não foi fácil a Portugal. O impacto inicial foi negativo. Acho que é normal, mas tive muita gente que me ajudou. Sobretudo o senhor Vicente [Lucas]», destaca.

OS NÚMEROS DA CARREIRA DE CHIQUINHO CONDE EM PORTUGAL:

1987/88: Belenenses, 22 jogos/8 golos
1988/89: Belenenses, 36 jogos/6 golos
1989/90: Belenenses, 38 jogos/13 golos
1990/91: Belenenses, 31 jogos/4 golos
1991/92: Sp. Braga, 24 jogos/5 golos
1992/93: V. Setúbal, [II Liga]
1993/94: V. Setúbal, 30 jogos/15 golos
1994/95: Sporting, 26 jogos/ 3 golos
1995/96: Sporting, 5 jogos; Belenenses, 4 jogos
1996/97: V. Setúbal, 20 jogos/7 golos
1997/98: V. Setúbal, 17 jogos/6 golos
1998/99: V. Setúbal, 28 jogos/14 golos
1999/2000: V. Setúbal, 34 jogos/7 golos
2000/01: Alverca, 18 jogos, 1 golo
2001/02: Portimonense, 5 jogos


O Belenenses na final da Taça de 1989 (Foto: Belenenses Ilustrado)

No Belenenses guarda com carinho a «maior conquista da carreira». «Vencemos a Taça de Portugal ao Benfica. Eliminámos o Sporting, depois eliminámos o FC Porto e na final ganhámos ao Benfica. Foi fantástico. Foi um jogo marcante na carreira», conta.

Chiquinho foi titular no Jamor, mas os golos do Belenenses foram de Chico Faria e Juanico (um golaço de livre), anulando o tento de Vata.



«Amor à primeira vista» em Setúbal

Em 1991 o Belenenses desce de Divisão. Chiquinho Conda assume ter entrado «em rota de colisão com a direção». Tinha mais um ano de contrato mas opta pela rescisão. Muda-se para o Sp. Braga. Uma passagem que não corre como desejaria. Na única vez que joga no norte de Portugal.

«Não me adaptei ao norte. Chovia muito (risos). Treinávamos em campo pelado e alguns colegas com pitons de alumínio. Não percebia aquilo (mais risos). Comecei a achar que a minha carreira ia acabar ali», atira. Mudou-se para a Setúbal, que lhe ficaria marcado para sempre. Mais ainda do que o Belenenses.

A cidade do Sado encantou-o. «Foi amor à primeira vista», brinca. «Fazia-me recordar Moçambique. Era uma cidade plana e até do clube eu gostava. Verde e branco como o Sporting»
, brinca.

Não tem dúvidas que em Setúbal conseguiu a sua «estrelinha». «Era o meu clube talismã e fica na minha história. O Belenenses acolheu-me muito bem, mas em Setúbal vivi sete anos fantásticos e deu-me a possibilidade de chegar ao ponto alto da minha carreira e cumprir o que já dizia em Moçambique: jogar no Sporting», sublinha.

Seleção atirava-o para a bancada no Sporting

Chegou a Alvalade em 1994 para uma equipa recheada de estrelas. Chiquinho enumera-as sem grandes pausas. «Figo, Balakov, Iordanov, Juskowiak. Veja lá que ainda digo estes nomes todos de uma vez», atira, entre risos.

«A nível diretivo o clube atravessava um momento conturbado. O Sousa Sintra estava de saída, ia entrar o Santana Lopes. Assinei por três anos mas só fiquei um e meio. Fui envolvido numa polémica após a saída do Carlos Queiroz. O Sporting quis contratar o Mauro Soares ao Belenenses e voltei para lá», recorda.

Ficam as memórias. Do primeiro ano, sobretudo, quando marcou três golos e participou em 26 jogos. «E ganhámos uma Taça. Foi mais um troféu para mim. Fiquei com pena por não termos ganho o campeonato. Não conseguimos combater a hegemonia do FC Porto. Aquela equipa merecia», considera.

No Sporting acabou prejudicado pelos compromissos da seleção de Moçambique. Na altura não havia acordo entre a CAF e a FIFA para a realização de jogos. «Quando ia jogar pela seleção o campeonato continuava por cá. Quando voltava ou ia para o banco ou para a bancada», lamenta. «Prejudiquei-me em muitos momentos, mas pelo meu país tinha de ser»
, sublinha.